O vídeo postado no site do programa Brasil Sem Miséria do governo federal traz o locutor dizendo, entre outras coisas, que no grupo de pessoas a ser atingido pelo programa (com renda inferior a R$ 70,00 por pessoa por mês), 59% encontra-se no Nordeste. Adiante diz que 40 % do público a ser atingido é constituído por jovens e crianças menores que 14 anos de idade. Diante destes números o locutor indaga: “quanto futuro o Brasil pode perder se não resolver isso rápido?”.

 

            Os dados mais atuais do IBGE (de 2010) mostram que o total de miseráveis era de 16.267.197, sendo que 8.673.845 (53%) estavam nas cidades e 7.593.352 (47%) no espaço rural. Considerando que a população urbana era, naquela época, de 160.925.792 e a rural de 29.830.007 pessoas, verifica-se que a pobreza no campo é mais recorrente. Fazendo a conta, verifica-se que 25% dos moradores do meio rural (um em cada quatro) estavam na faixa de miséria e, no meio urbano, 5%.

            Os dados sugerem que o ataque à pobreza deve ser mais incisivo no meio rural, onde acumulam deficiências, conforme mostraram os dados do presidente do IBGE Eduardo Pereira Nunes em 3/5/2011. A pobreza ali é mais dispersa, menos visível e dependente de investimentos em diversas frentes: energia elétrica, abastecimento de água, esgotamento sanitário, educação, estrada, telefonia, saúde, lazer, etc.

           Nunes aponta melhorias do país no combate à miséria com base no aumento do salário mínimo em relação à inflação, que superou em 148,1 pontos entre 2000 e 2010. O editorial do jornal Folha de São Paulo de 19 de fevereiro de 2012 afirma que mais importante que os programas sociais e o salário mínimo (sem tirar o mérito dos dois), a escolaridade foi capaz de promover uma mudança mais significativa para a redução da miséria.

           Considerando que o leite está presente em praticamente todos os municípios do país, seja para auto-consumo (pelo seu alto valor nutritivo), seja para o mercado (seu poder de gerar emprego e renda), deixo a pergunta:

           - Como pensar no leite, com toda sua cadeia, participando mais ativamente como parte de um programa nacional de combate à miséria no Brasil de hoje?  

 

 

Bibliografia consultada:

 BRASIL. Ministério da Educação. Brasil Alfabetizado. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=86&id=12280&option=com_content&view=article&gt;. Acesso em: 26 fev. 2011.

 BRASIL. Brasil Sem Miséria. Apresentação do plano Brasil Sem Miséria. Disponível em: <http://www.brasilsemmiseria.gov.br/apresentacao-2/&gt;. Acesso em: 26 fev. 2011.

 NUNES E. P. Censo demográfico 2010: dados preliminares do universo. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/0000000408.pdf&gt;. Acesso em: 26 fev. 2012.

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Respostas

  • Como pensar no leite, com toda sua cadeia, participando mais ativamente como parte de um programa nacional de combate à miséria no Brasil de hoje?  Belissima pergunta caro colega willian,  trabalhamos na cadeia do leite na região norte(Pará) e não temos um programa de insentivo do governo sobre esse tema, as burocracias são tantas que até mesmo para vender para a merenda Escolar fica quase inviável, pois o processo de pasteurização é caro, exige um investimeno alto. sei que estamos a milhões de anos atraz da região sul do Brasil, mas a esperança é que um dia chegaremos próximo.

    Abraços

    Lu Maia

     

  • Entendido o foco e trabalhando há bastante tempo com pequenos produtores de leite, não vejo dificuldades para que o os produtores adotem novas técnicas de produção, desde que à eles demonstrados claramente o seus benefícios. Porém será complicado fazer com que essas técnicas cheguem ao o público alvo. Entendo que para isso, independentemente do porte da atividade, será necessário que o produtor receba um trabalho consistente de extensão rural (não assistência técnica). Resta saber quem custearia este trabalho e/ou se responsabilizaria pela efetiva cobrança de resultados positivos?

  • Luciana, Afonso e Sérgio,

    Quando pensamos na produção de leite nacional em termos de redução de miséria vejo duas vertentes: o leite para o consumo da família em situação de miséria e o leite para o mercado. O primeiro reduz a fome e o segundo aumenta a renda, melhora o bem-estar e dá acesso a outros benefícios básicos que o dinheiro proporciona à família. O leite para o consumo de quem tem fome é mais urgente e tem uma perspectiva própria de produção, que ocorre mesmo onde não há mercado para o leite. O leite para o mercado precisa se inserir na lógica da economia, do lucro, da gerência, do mercado e da competição. Concordando com o Afonso Voltan, a produção de leite com qualidade deve estar nos dois sistemas de produção para garantir um produto saudável e seguro.

    Acho interessante pensarmos na produção de leite para quem tem fome: o tipo de produção e as tecnologias a serem utilizadas pelas famílias que têm 1 a 3 vacas. Para quem mora com a família no campo e está nesta faixa de vulnerabilidade, como introduzir gado de leite para minimizar a carência destas pessoas por nutrientes. Pensando em sistema de produção de leite para este público, há o desafio de desenvolver/selecionar/levar informações técnicas, como: melhoramento genético, alimentação e sanidade do rebanho, etc.

  • Ótimo comentário Sérgio! É importante saber que há muitos trabalhos para combater a miséria no Brasil!

  • Caros William e Luciana, estive na 1a oficina do BSMiséria em Petrolina-PE. Os problemas mostrados pelos extensionistas são relacionados mais a infraestrutura (água, segurança no campo, transporte, etc). Entretanto, serviram para desenhar um cenário mais amplo do que o tecnológico. As ajudas da Embrapa serão as mesmas do ano passado (sementes, material técnico, etc) entrarão também porcos e galinhas caipira, sementes de grãos e hortaliças adaptados para quase todos os 258 municípios escolhidos em 14 territórios da cidadania, visando atingir um público de 22 mil agricultores. A Embrapa Gado de Leite foi uma das 11 Unidades que compareceram a oficina e foi sempre lembrada por estar presente em todos os municípios. Fomos convidados a ajudar em ações de produção de forragens e qualidade do leite no território Serra Geral/MG para ajudar a aumentar a produção e gerar algum dinheiro a mais para os produtores. Nos territórios localizados no Sergipe e Alagoas já temos atuação através do Núcleo Nordeste. Deverão ocorrer mais oficinas para outras regiões do país, entretanto, a região que reune a maior parte do público está no nordeste. Estamos presentes. 

  • Se o pequeno produtor produzir leite atendendo as necessidades do mercado, principalmente em qualidade e preço competitivo, obtendo rentabilidade suficiente para manter uma pecuária de leite sustentável, que lhe proporcione independência financeira e bem estar social, a resposta será sim, a produção de leite poderá ajudar a combater a miséria.

  • William, o assunto abordado é essencial para repensarmos como há tanta miséria no mundo, em pleno século XXI. Considerando o Brasil um país com capacidade de produção de leite relevante, observamos que famílias carentes passam fome e não tem como se sustentar, principalmente no meio rural. Fica a pergunta, será que é mais importante produzir para o mercado externo?

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