Os novos parâmetros para qualidade do leite estabelecidos pela Instrução Normativa 51 (IN51), que deveriam ter entrado em vigor este ano podem ser adiados para 2016. Isto é o que prevê uma proposta da Embrapa enviada à Câmara Setorial do Leite e Derivados, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Nesta quarta-feira (14), pesquisadores da Embrapa e técnicos da Câmara se reunirão para analisar a proposta.
Pela IN 51, desde julho deste ano, o leite entregue à indústria deveria ter no máximo 400 mil Contagens de Células Somáticas (CCS) por ml e 100 mil unidades formadoras de colônias de bactérias (CTB) por ml. No entanto, segundo dados do Laboratório de Qualidade do Leite da Embrapa Gado de leite, 45% dos rebanhos analisados não atendem as exigências para CCS. No caso da CTB, os dados são ainda piores: 95% dos rebanhos produzem leite com CTB acima de 100 mil.
O fato da maioria dos produtores não se enquadrar nas exigências da IN 51 fez com que o MAPA adiasse a vigência da norma para o início de 2012. Neste período os técnicos da Embrapa Gado de Leite desenvolveram um estudo que leva em consideração as dificuldades dos produtores em se adequar às exigências. Segundo a proposta da Embrapa, a diminuição da CCS e CTB até o limite de 400 mil e 100 mil respectivamente deve ser gradativa e realizada nos próximos quatro anos para os estados das Regiões Sul, Sudeste, Centro-oeste e Norte do país.
Segundo o chefe geral da Embrapa Gado de Leite, Duarte Vilela, a mudança no cronograma de implantação da IN 51 não representa uma derrota do setor. “A pecuária de leite no Brasil apresenta múltiplas realidades. Enquanto temos rebanhos produzindo leite com padrão de qualidade do primeiro mundo, há propriedades que ainda não estão preparadas para se enquadrarem nos atuais índices. Precisamos criar condições para que estas diferenças diminuam”, afirma Vilela.
A proposta da Embrapa não busca apenas atrasar o cronograma vigente. “Não acreditamos que somente isto seja suficiente para alavancar a qualidade do leite nacional”, diz Vilela. Várias ações que dependem do Mapa e de outros ministérios são necessárias. Veja a seguir algumas proposições:
- Padronizar e apresentar periodicamente os resultados da RBQL para auxiliar os governos e empresas na definição de estratégias para a tomada de decisão em relação à melhoria da qualidade do leite, já previsto na IN 37.
- Criar no âmbito da Secretaria de Defesa Agropecuária (SDA/MAPA), um Programa Nacional de Controle e Prevenção da Mastite, elaborado por um grupo de trabalho envolvendo instituições de pesquisa e ensino, empresas de lácteos, serviços de extensão e demais participantes da cadeia do leite.
- Garantir investimentos em infraestrutura de energia elétrica e estradas, condições básicas e prioritárias para que o leite, produzido com a qualidade higiênico-sanitária desejada, seja mantido durante o transporte para a indústria, e dentro da mesma.
- Propor programas de qualificação e capacitação dos técnicos da extensão rural e autônomos que atendem os produtores de leite.
- Propor programas de capacitação para os produtores e transportadores de leite com foco em educação sanitária e qualidade do leite.
- Incentivar as empresas de lácteos a adotarem programas de pagamento de leite baseado em indicadores de qualidade pode ser uma das principais estratégias para melhoria da qualidade do leite.
- Melhorar o acesso ao crédito para financiamento da produção de leite.
- Finalmente, sensibilizar os consumidores da importância da qualidade do leite, pois estes serão também beneficiados e podem ser importantes agentes no processo de transformação da cadeia do leite. Matéria de Rubens Neiva- Embrapa Gado de Leite.
Sabemos que é um assunto polêmico, e que existem vários fatores que pesam a favor e contra a decisão de adiar a IN51. Qual é a sua opinião? O que mais pode ser feito?
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Respostas
Olá pessoal !!!!!
Temos que valorizar e muito a nossa profissão !!!!!
Quando digo que está difícil do produtor nos aceitar nossa assistência, é que ele já está tão machucado com relação a valorização de seu produto, que acaba não acreditando em mais nada. Temos que chegar de mansinho e mostrar para eles o quanto é importante a assistência técnica para uma boa produção de leite.
A indústria infelizmente ainda valoriza mais tem um maior volume de leite, deixando de lado o mais importante que é a qualidade. Tinha que ser obrigatório o pagamento por qualidade, mas enquanto não temos esse apoio da indústria, vamos através de palestras, mostrar ao produtor como é importante produzir um alimento de qualidade. Mas o que o produtor sonha mesmo é ter o seu produto bem remunerado !!!!!
Abraços,
Carolina.
Oi Renato! É isso mesmo, de maneira nenhuma podemos desvalorizar nosso trabalho. O produtor que acreditar na assistência e na mudança que as informações trazidas pelo técnico pode gerar na propriedade, sairá na frente e será beneficiado, com toda certeza.
Abraço,
Letícia.
Olá, Letícia!
Na verdade tambem sou contra a consultoria gratis, afinal o profisional investiu alto na sua formação, mas quando disse " se a consultoria for gratis o produtor aceita bem" esta é a realidade dele que é custeada pela Industria, Cooperativa, Associação, Senar, Embrapa, Epamig, etc... que acabam descontando do produtor na forma de impostos, contribuições, taxa de administração, etc...
Como vc disse, a palavra-chave é PARCERIA...
O profissional não deve banalizar e desvalorizar sua própria profissão!
Oi Renato!
Essa semana soubemos de um caso que retrata bem o ponto que você mencionou, sobre a importância do pagamento diferenciado. O técnico sugeriu ao produtor o tratamento das vacas em lactação com Streptococcus agalactiae (depois dos exames microbiológicos, acompanhamento da rotina, histórico do rebanho, etc.). Enfim, o técnico estava super bem embasado, e o tratamento reduziria a CCS do tanque expressivamente. Resposta do produtor? Não. Justificativa: ele não recebe por qualidade, e por isso, os custos com os gastos com medicamentos e descarte de leite com resíduo não compensariam (a curto prazo) o investimento.
É claro que nós sabemos que a erradicação de S. agalactiae no rebanho tem vantagens enormes (redução da CCS do tanque e das vacas, aumento da produção, diminuição da contaminação entre vacas, diminuição de gastos com tratamentos, descarte de leite, descarte de vacas, etc.), mas quando o produtor faz a conta simples ("quanto vou gastar, quanto vou ganhar"), ele desiste de investir. Não estou julgando o produtor, ou o técnico. A questão é que, realmente, o pagamento diferenciado facilitaria o processo de melhoria de qualidade do nosso leite. E agilizaria esse processo.
Também acho que o produtor sabe selecionar o bom técnico; ou o próprio mercado seleciona. Só não concordo com você no ponto da consultoria grátis. Acredito que quando não cobramos, o produtor não valoriza. Alguns programas (Educampo, por exemplo) cobram pelo menos uma parte do produtor, para que ele valorize o trabalho do técnico. A indústria e o produtor dividem o recurso para a assistência. E todos saem ganhando. Acho que o caminho tem que ser esse, o da parceria.
Abraço!
Letícia.
Boa tarde a todos! Agredito que só falta uma coisa para o produtor: pagamento diferenciado pelo leite de qualidade. Como Instrutor do Senar-MG, tenho diversos relatos de diversas regiões onde os produtores tem a conciência da importância do tecnico na sua propriedade. Será que o problema é financeiro? Se a consultoria for gratis o produtor aceita bem... mas se tiver de pagar um técnico, de onde ele vai tirar este R$$$? Confiança no técnico? O produtor sabe selecionar o bom técnico dos demais... Quanto ao resultado do benefício da assistência, o produtor que aplica corretamente as técnicas de HIGIENE percebem imediatamente a melhoria do seu Leite... E finalmente, será que faltam técnicos no mercado??? Não sei mensurar, mas existem diversas formas dos profissionais se especializarem: cursos, pós-graduação, seminários, fóruns, etc... cabe a nós procurar o nosso espaço ao Sol!
Oi Carolina!
Mas então, o que precisa ser feito para conscientizar o produtor da importância do técnico? Será que a dificuldade é financeira? É de confiança na capacidade do técnico? É na dificuldade do produtor enxergar o benefício da assistência? Faltam técnicos no mercado?
Abraço!
Letícia.
Oi Letícia !
Você chegou onde eu queria, com certeza o produtor precisa de um técnico na propriedade para orientá-lo, seja particular ou através dos Laticínios ou Cooperativas. Contudo, produtor precisa primeiro se conscientizar, que o técnico é a pessoa mais indicada para orientá-lo. É aí que está a dificuldade !!!! "Mas somos brasileiros e não desistimos nunca ........"
Abraços,
Carolina.
Leticia Caldas Mendonça disse:
Prezados,
o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publicou a Instrução Normativa 62, que substitui a Instrução Normativa 51. Está disponível no blog abaixo:
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento publica a Instr...
Olá Carolina! Concordo com você, a educação continuada deve estar entre as principais prioridades. O produtor de leite, como todos nós, precisa ter acesso às informações. Sem isso, ele não consegue atingir os objetivos de qualidade, mesmo que o pagamento por qualidade esteja implantado. E as informações de como produzir com qualidade existem; países europeus e americanos já praticam há anos. Será que o que falta é a presença do técnico na propriedade?
Feliz 2012 para todos nós!!!!!!!!
Um abraço,
Letícia.
Caro Leonardo, concordo plenamente com você, o leite está sendo pago diferenciado para aqueles que produzem com qualidade, mas na hora da coleta ele é misturado com todos os leites de boa ou má qualidade. E o consumidor consome um produto ruim. Temos a Educação Continuada como a grande saída para a melhora deste alimento tão importante para o ser humano. Vai ser longo o caminho, para conseguirmos um produto de excelente qualidade. E será que teremos apoio do nossos governantes ?
Que 2012 seja ótimo para cadeia produtiva do leite !!!!
Carolina.