Matéria publicada no boletim "Ativos da Pecuária de Leite" da CNA/CEPEA destacou o cenário da pecuária de leite encontrado nos painéis de custo de produção realizados ao longo de 2011 nos principais estados produtores de leite do Brasil.
Segundo o estudo, verificou-se modestos níveis tecnológicos, com problemas nos indicadores zootécnicos, como longo intervalo entre partos, curto período de lactação, baixa produção individual, altos índices de mortalidade na pré-desmama, baixo aproveitamento da terra em termos de produção de leite por hectare e baixa produção por mão-de-obra, sendo muitos destes problemas ocasionados pela deficiência na nutrição dos animais.
Além disso, o resultado econômico da atividade no conjunto das regiões pesquisadas, somente a de Garanhuns (PE) obtém receita suficiente para cobrir o COT (Custo Operacional Total) - contabiliza as depreciações de máquinas, equipamentos, benfeitorias, forrageiras perenes e pró-labore do produtor. No restante das regiões, a receita foi suficiente para cobrir somente o COE (Custo Operacional Efetivo), referente ao desembolso do produtor.
Nesse mesmo estudo, destaca-se que a maioria dos produtores dessas regiões recorre muito pouco à assistência técnica para a melhoria da produção, buscando esse serviço somente em casos de emergência.
Nesse contexto vem as perguntas. Será que esse cenário seria diferente (positivamente) se a assistência técnica fosse vista pelos produtores como parte indispensável da atividade para o sucesso de seu negócio? Além disso, esse cenário é devido apenas à visão do produtor sobre a importância da assistência técnica ou está mais relacionado à desestruturação do sistema de ATER no Brasil?
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Respostas
Legal Rosana, quando você cita as politicas públicas. Quando olho os subsídios gigantescos investidos pelos paises da Europa, sinto o tamanho da visão dos nossos governantes. Penso que, caso os governantes investissem em uma assitência comprometida e eficiente (e temos muitos e muitos bons técnicos) seria suficiente para alcançarmos recordes sobre recordes na produção e competir forte com os paises que praticam subsídios extremos. Daí a necessidade de nós produtores e técnicos mudarmos algumas atitudes. Da união entre elos das cadeias produtivas a escolha de nossos governantes. É o que penso.
Acredito que todos estão certos. A assistência técnica é essencial, mas acredito que se não pensarmos na extensão rural, deixada de lado há muito, se torna difícil de aplicá-la, pois a assitência só tem sentido com um trabalho junto ao produtor, para que ele reconheça sua necessidade. O pior é que se não temos mais praticamente assistência técnica, extensão então é que foi completamente esquecida. Acho que esse tema tem que ser muito debatido para que sejam novamente considerados nas políticas públicas.
Muito interessantes os cometários postados pelos colegas.
Representantes de diferentes áreas (assistência técnica, produtor rural e empresa pública de PD&TT), mas com visões convergentes sobre a importância de uma boa assistência técnica para o sucesso da atividade rural.
Também acredito na importância e necessidade do acompanhamento técnico para conseguirmos bons resultados somado, como citados pelo Israel e reforçados pela Myriam, a definição de indicadores e metas a serem alcançadas para estimular a melhoria contínua.
Por outro lado, acredito que o cenário atual da atividade leiteira retratado pela CNA/CEPEA é resultado em boa parte da desestruturação do extensão rural no Brasil e a falta de investimentos como citado pelo Alan. Creio que os investimentos para dar resultados consistentes devem ser feitos em programas estruturantes para a cadeia produtiva e não apenas em ações pontuais, como muitas vezes acontecem.
Abraços.
Hoje em minha propriedade a assistência técnica é uma necessidade. A presença de um bom técnico em nossa propriedade gerou um divisor de águas. Após tornar-se períodica as visitas do técnico, podemos vislumbrar um futuro promissor. Estamos constatando ano após ano os resultados alcançados e estipulando metas mais ousadas. É necessário se ter um bom técnico ao lado. Só assim poderemos ir acreditando e depois iniciar a caminhada rumo ao sucesso. Penso que um aspecto de suma importância é a fonte financiadora(Bancos), que dificulta muito o acesso dos pequenos produtores ao crédito, gerando impaciência do produtor e técnico pela demora de resultados convincentes. Eu estou com uma proposta no banco do Nordeste Ag. Ipiaú, Ba e o técnico do banco levou mais de seis meses para visitar a propriedade afim de dar um parecer.
Eu trabalho com assistência técnica ao produtor de leite, e diante do cenário atual temos duas realidades:
Produtores desestimulados e sem recursos para investimento e melhoria da produção.
Assistência técnica sucateada e desestruturada na maioria dos Estados do país.
Quanto ao primeiro questionamento, imagino que primeiramente o produtor necessita ter a vontade de mudar e inovar (estar aberto às idéias propostas) no sentido de melhorar o retorno econômico da atividade (lucro/hectare). Sem esse interesse, nós da assistência técnica não conseguiremos chegar a lugar algum. Outro fator importante a considerar é a questão dos investimentos se adequarem a realidade econômica do produtor em questão, o que determinará o sucesso ou não das intervenções realizadas. A estruturação do serviço de assistência técnica também deve ser levada em consideração. Existe a necessidade, de uma forma geral, de se melhorar o suporte ao serviço de assistência técnica, como aquisição de veículos e equipamentos, além da disponibilidade de recursos para despezas correntes.
Quanto ao segundo questionamento acho que este cenário é devido principalmente a má estruturação do serviço de assistência técnica em geral. Nunca foi tratado como uma prioridade. Imagine locais onde se tem um técnico para atender a 300, 500, ou mais agricultores. É notável a falta de investimentos.