Bom dia!

Tenho sido chamado freqüentemente a falar para grupos de técnicos e produtores sobre bem-estar animal e produção leiteira. Isto se deve ao meu envolvimento com o tema dos sistemas silvipastoris e  da integração  lavoura-pecuária-floresta. Percebo nas pessoas, técnicos ou produtores, uma espécie de temor em relação ao assunto. A maioria ainda percebe a questão sob uma ótica do conflito entre a cultura urbana e a rural. O urbano estabelecendo uma crítica desvinculada da realidade produtiva, enquanto o público vinculado ao rural se defende pela crítica ao "cafuné na cabeça do boi" e ao comportamento caricato de alguns donos de de animais de estimação. Ambos se equivocam e compartilham o mesmo desconforto provocado pelo assunto. A sociedade como um todo reflete e cobra posturas frente ao bem-estar animal, embora, a despeito das pesquisas e regulamentos vigentes, estejamos diante de alguns desafios. Talvez um dos mais importantes seja transformar alguns aspectos de natureza conceitual em práticas e parâmetros verificáveis. Por formação e por me sentir mais seguro (fatos e dados...) tenho abordado o assunto com enfoque fisiológico, do comportamento social e das relações animal x ambiente. Sinto, no entanto, que ainda há muito  que evoluir na transposição da noção de bem-estar para as práticas nos sistemas de produção sem que se incorra nos equívocos da dicotomia entre a perspectiva "urbana" e "rural". Nos dias de hoje e amanhã participarei de um evento promovido pelo laboratório de bem estar-animal da UFPr, em Curitiba, sobre o tema e nas próximas semanas falarei sobre o tema em duas ocasiões, para técnicos e produtores. Convido a todos a compartilhar suas experiências e questionamentos como forma de avançarmos para uma pecuária mais saudável para homens e animais.

Abraço,

Rogério Dereti

Bom dia!

Gostaria de retomar o tópico com um novo enfoque: qual a percepção da comunidade Repileite acerca dos protocolos de certificação de condições e práticas de manejo para o bem-estar animal em sistemas de produção leiteira. Quais os protocolos conhecidos e qual a percepção  sobre a aplicabilidade às condições brasileiras. Agradeço de antemão as contribuições.

Abraço!

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Respostas

  • Prezado Rudi, 

    Bem estar animal é consequência e não causa. BEA não é alimento, não é manejo, mas é a consequência de uma boa alimentação aliada a um bom manejo. Portanto não se ensina BEA aos produtores, se ensina a técnica correta. Basta transferir as tecnologias existentes, aplicar a técnica correta a cada realidade que se tem, que o BEA vem como consequência. Mais para isto parece que a extensão rual vai ter de ser reinventada, pois a mesma falhou, visto que as técnicas que foram desenvolvidas em nossos centros de pesquisa não chegaram ao campo.

    Um abraço  

    RUDI ELISEU DEPINE disse:

    Alguns comentários sobre a forma de abordagem tem alguma razão e outros não.  Eu diria que o entendimento mais correto é a nossa cultura. O homem do campo na grande maioria,ainda está distante do domínio do conhecimento. A partir da nossa evolução cultural tudo fluirá com mais facilidade. Mas estamos distantes. A harmonia que deve existir quando tratamos dos animais é fruto do conhecimento. Aí o bem estar na propriedade tornar-se-há coisa simples e prática, alem de necessidade.  

    Abraço aos debatedores.

  • Alguns comentários sobre a forma de abordagem tem alguma razão e outros não.  Eu diria que o entendimento mais correto é a nossa cultura. O homem do campo na grande maioria,ainda está distante do domínio do conhecimento. A partir da nossa evolução cultural tudo fluirá com mais facilidade. Mas estamos distantes. A harmonia que deve existir quando tratamos dos animais é fruto do conhecimento. Aí o bem estar na propriedade tornar-se-há coisa simples e prática, alem de necessidade.  

    Abraço aos debatedores.

  • Olá,

    Na revista Balde Branco, edição dezembro 2012, tem um artigo sobre o tema em discussão. É bem detalhado. 

    Quem se interessar pode tbm entrar no site da revista: www.baldebranco.com.br.

  • Sras. e Srs.

    1) como transformar a preocupação com o BEA em realidade nos sistemas de produção - faltam conhecimentos técnicos,  aportes da pesquisa ou já dispomos de técnicas/tecnologias sufucientes? Nenhum e nem outro. Embrapa, CATI, CIDASC, IAPAR e tantos outros, ainda não falam a mesma língua.A quem produz resta adotar o que Ronaldp citou - ALIMENTAÇÃO- MANEJO E GENÉTICA - até que consiga-se uniformizar os procedimentos de BEA, para os vários cenários brasileiros da pecuária de leite. O BEA provavelmente não seria o mesmo que o aplicado em uma instalação de um cooperado da Batavo,Carambeí ou Arapoti, do que aquele aplicado em Lizarda, no Tocantins. Não sendo generalista, acredito da necessidade de abrir uma discussão para os sistemas já instalados, cooperados, integrados e ou isolados, mas com nificativo número de produtores. Mas e todos os demais? Resta seguir o que deu certo, dentro das suas limitações.Então surge o comparativo: nos free-stalls usam ventiladores para circular o ar, onde a temperatura média é de 26º, Castro, Arapoti, Castrolanda, com as produções de 25 kilos/ordenha. Este mesmo raciocínio seria aplicável em Lizarda onde a temperatura média anual é de 37º? Discussão dentro de uma já existente.

    2) No que diz respeito às dimensões socioeconômicas e de interações com o meio ambiente, como lidar com os desafios levantados? Já respondida anteriormente.

  • Prezado Rogerio, 

     Bem estar é consequência e não causa. Não existe outra forma de conseguir o bem estar se você não levar assistência técnica aos produtores. ALIMENTAÇÃO, MANEJO e GENÉTICA, enquanto não colocarmos na cabeça que este é o tripé da produção leiteira não chegaremos a lugar nenhum, falar de bem estar apenas, é jogar palavras ao vento. 

  • Boa tarde a todos!

    Andei meio distante nos últimos tempos, mas retomo minha participação agora. Fiquei muito feliz com o grande número e a qualidade das contribuições agregadas. Parece-me que os questionamentos dizem respeito, na grande maioria dos casos, ao como fazer e não quanto a importância do tema, bem sedimentada entre os que participam. Gostaria propor, a partir de agora, que seguíssemos a discussão com foco em dois aspectos dentro do tema: 1) como transformar a preocupação com o BEA em realidade nos sistemas de produção - faltam conhecimentos técnicos,  aportes da pesquisa ou já dispomos de técnicas/tecnologias sufucientes? 2) No que diz respeito às dimensões socioeconômicas e de interações com o meio ambiente, como lidar com os desafios levantados? Claro que quem quiser agregar qualquer contribuição ao tema, que não se enquadre no enfoque proposto, será muito bem recebido. É apenas uma sugestão para colocar uma ¨lenhazinha¨ na fogueira!

    Abraços!

  • Prezado Romão,

    Agora vc tocou no ponto mais alto da reflexão. Concordo com vc totalmente. Como exigir que o ser humano trate bem os animais se ele mesmo não tem habitação, conforto, etc.? Fantástica reflexão. Creio que isto se extende para o cuidado com o meio ambiente como um todo, não acha?

    Romão Miranda Vidal disse:

    Boa noite. Vou tentar reduzir o assunto, uma vez que estou com braço quebrado o que dificulta digitar.

    Uma nova posição se faz necessária, em relação ao BEA. Deve-se considerar a propriedade como um conjunto onde as ações interagem de forma contínua e permanente.Porque se ater só ao BEA, se não se considera o BEHumano? E por qual razão não se considera o BEAmbiental? E a não atenção para com o BEFaúna? Na realidade nós profissionais da área das Ciências Agrárias e Florestal, deveremos ter a partir de agora como base para consultas a ISO 26000 - Responsabilidade Social e aplicá-la ao sistema agrosilvopastoril. Na realidade há de se considerar que o BEA está na dependência direta de "n" fatores. Como operar um BEA sem levar em conta o ser humano, que não tem o seu BE adequado, como a habitação rural? Hoje já não se busca certificar uma propridade em termos de BEA, mas sim o BEPropridade como um todo.

  • Está amadurecendo o debate e as opiniões respeitosamente analisadas, acatadas ou não, mas cresce.

    Quando nos deparamos com uma oportunidade qual a essa, seria interessante lembrar que no ano de 1967, o Conselho de Bem-Estar de Animais de Produção (Farm Animal Welfare Council - FAWAC), Inglaterra, estabeleceu um conjunto de “estados” ideais chamados de as “cinco liberdades” dos animais. Assim, todo animal de produção deve estar:

    ▪ Livre de fome e sede

    ▪ Livre de desconforto

    ▪ Livre de  dor, lesões e doenças

    ▪ Livre para expressar seu comportamento normal

    ▪ Livre de medo e estresse

    Então se analisarmos cada uma das 5 liberdades, veremos que em cada uma delas, passa a exigir um tratamento, uma atenção mais direcionada. Assim como as 5 liberdades, não são únicas e especpificas para gado de leite.Aplicáveis desde animais de biotérios aos animais em coleta de óvulos, de animais em pistas dos hipódromos aos pátios dos frigoríficos.

    Chama a atenção matrizes leiteiras de alta capacidade de produção, se deslocar por mais de 3.000,00 metros, sob um sol das 16,00 horas, chama a atenção matrizes HPB, expostas a uma temperatura de 38º.

    Fatos como estes devem ser analisados.

  • Valeu a dica, também vivencio isto com frequência, além de só serem músicas sertanejas!!!!



    Ronaldo Marciano Gontijo disse:

    Prezados,

    Bem estar não é só manejo, além do mais o manejo que está sendo falado aqui é só uma pequena parte do manejo. Lembrem-se sempre do tripé básico da produção de leite: ALIMENTAÇÃO, MANEJO e GENÉTICA.  Se não houver uma sintonia perfeita entre estes três itens não existe bem estar. Bem estar não é uma coisa nova que inventaram recentemente, apenas a expressão "bem estar" é que é nova, infelizmente ela está trazendo mais prejuízo que ganhos para a pecuária. Estão levando tudo para o lado filosófico e esquecendo o lado técnico, que é o que realmente gera "bem estar". Um exemplo que eu já vi em muitas fazendas é quando os funcionários tratam bem os animais, sem gritos, sem correria, mas quando você chega na ordenha tem um aparelho de som tocando música em um volume bom para os funcionários ouvirem. O que tem de errado nisto? Tudo, vacas tem a audição ais aguçada que a nossa, ouvem muito bem os sons baixos, mas são sensíveis aos sons mais altos, o que está bom para nossos ouvidos nem sempre está agradável para as vacas, o funcionário não grita, mas prejudica as vacas com barulho da mesma forma. Devemos olhar para o bem estar animal do ponto de vista do animal e não do ponto de vista humano.

  • Boa noite. Vou tentar reduzir o assunto, uma vez que estou com braço quebrado o que dificulta digitar.

    Uma nova posição se faz necessária, em relação ao BEA. Deve-se considerar a propriedade como um conjunto onde as ações interagem de forma contínua e permanente.Porque se ater só ao BEA, se não se considera o BEHumano? E por qual razão não se considera o BEAmbiental? E a não atenção para com o BEFaúna? Na realidade nós profissionais da área das Ciências Agrárias e Florestal, deveremos ter a partir de agora como base para consultas a ISO 26000 - Responsabilidade Social e aplicá-la ao sistema agrosilvopastoril. Na realidade há de se considerar que o BEA está na dependência direta de "n" fatores. Como operar um BEA sem levar em conta o ser humano, que não tem o seu BE adequado, como a habitação rural? Hoje já não se busca certificar uma propridade em termos de BEA, mas sim o BEPropridade como um todo.

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