Em 2007, a AgriPoint Consultoria, em parceria com a Embrapa Gado de Leite e o Instituto Ouro Verde desenvolveu um estudo, junto a mais de uma centena de especialistas do setor, que traçou quatro possíveis cenários para o leite no Brasil em 2020, analisando variáveis como produção, consumo, exportações, importações, informalidade, legislação, participação das cooperativas e outros aspectos.

No primeiro cenário, "CRESCIMENTO CONTINUADO MAS HETEROGÊNEO", o país aumenta a produção de acordo com taxas históricas e superiores ao aumento do consumo, resultando em superávit  à exportação. Permanece a tendência de concentração na produção e se intensifica a concentração na indústria. A qualidade da matéria-prima evolui. Neste cenário, o setor avança, mas vários desafios atuais continuarão por ser resolvidos.

No segundo cenário, "LEITE, A NOVA ESTRELA DO AGRONEGÓCIO", são realizados fortes investimentos em novas plantas industriais, o que estimula o aumento da produção a taxas acima da média histórica. Mesmo com aumento do consumo interno, os excedentes para exportação serão consideráveis e o Brasil se inserirá definitivamente no mercado internacional. A concentração na produção será significativa e o mercado operará com mínimo de interferência governamental. Neste cenário, o leite adquire contornos mais próximos dos verificados em países como Nova Zelândia e Estados Unidos, com produção ancorada na escala e na eficiência de custos.

No terceiro cenário, "O FUTURO DESPERDIÇADO", o setor não conseguirá superar como deveria os atuais desafios. Neste cenário, o conflito entre os elos se mantém ou aumenta, inviabilizando iniciativas importantes para o crescimento sustentável da atividade. A produção crescerá muito mais por falta de opção de agricultores sem assistência e alternativas econômicas do que por atratividade como negócio. Fraudes e sonegação se tornam comuns. A produção crescerá a níveis
menores do que a média histórica e o superávit exportável será relativamente pequeno.

O quarto cenário, "AGRICULTURA FAMILIAR E COMPETITIVA", apresenta a pujança do setor, que crescerá mais do que na média histórica, ancorado na agricultura familiar, principalmente na região Sul. As cooperativas crescem em importância, o relacionamento entre os elos se harmoniza e o setor consegue, através de ações setoriais aproveitar as oportunidades de mercado existentes. Existirão oportunidades bem aproveitadas, como a produção de leite orgânico e a produção ambientalmente sustentável. O governo terá um papel importante na reestruturação do sistema oficial de extensão e na disponibilização de crédito para a agricultura familiar. Haverá, no entanto, espaço para produtores de grande porte, que encontrarão nas grandes processadoras um mercado crescente, estimulando o investimento em escala e qualidade.

Considerando os cenários traçados e os quase 4 anos passados desde o estudo, qual você considera ser o cenário mais provável para o leite no Brasil daqui a 10 anos?

OBS: Para os interessados no referido trabalho, o mesmo encontra-se disponível na página do Sebrae - ver link abaixo:

http://www.biblioteca.sebrae.com.br

 

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Respostas

  • Analisando o trabalho hoje, fica evidente que subestimamos alguns pontos e superestimamos outros. O consumo interno, certamente, foi subestimado, uma vez que apenas 5 anos após o período-base, nosso consumo per capita já é mais alto do que o previsto para 2020 em um dos cenários (futuro desperdiçado). Por outro lado, o crescimento das exportações foi superestimado - há que se considerar que a pesquisa foi feita em meio a uma elevação inédita dos preços no mercado internacional e à percepção de que os preços dos alimentos haviam mudado em definitivo de patamar. Somava-se a isso o câmbio favorável, gerando a expectativa de que exportaríamos muito, e rapidamente. Isso Não vai ocorrer tão cedo, embora muitas variáveis podem afetar essa questão.

     

    Acho que a principal transformação que não foi totalmente captada pelo trabalho é a mudança na escala de produção, que ocorrerá nos próximos 10 anos. A competição com outras atividades (custo de oportunidade da terra) e com outras alternativas de renda do trabalhador rural/produtor (custo de oportunidade do trabalho), no meu modo de ver, estimularão um aumento do módulo produtivo, automação e aumento da produtividade, em níveis mais altos e mais rapidamente do que o captado na pesquisa, ainda que essa evolução não seja a mesma em todas as regiões. Nesse sentido, o cenário 2 parece ser mais realista no que se refere a concentração da produção em um número menor de produtores. 

     

    O 4, embora considerado desejável pela maior parte dos participantes, não me parece hoje uma realidade: as cooperativas perdem espaço e a produção tende a se concentrar. No Sul do país o processo é realmente mais lento, mas basta conversar com produtores locais e é possível constatar que muitos filhos de produtores que hoje vivem com 30, 40 vacas não pretendem se manter na atividade por ter a chance de se dedicar a outras fontes de renda mais interessantes/menos estressantes. Mesmo no Sul, haverá um choque de tecnologia e de produtividade.

     

     

  • O setor tem evoluido de forma substantiva na região Sul, esperialmente Rio Graonde do Sul, decorrência de aperfeiçoamentos da produção da agricultura familiar. Em outras regiões, o primeiro cenário é o mais comum, No entanto, penso que teremos uma combinação de cenários acontecendo no Brasil. Eu excluiria o cenário pessimista de futuro desperdiçado, pois apesar do setor ser ainda muito desorganizado, uma vez que os produtores não se unem de modo a estabelecer uma politica comum que possa impulsionar o setor, a atividade é extremamente importante para o agronegócio brasileiro, tanto no aspecto econômico quanto social. Vivemos hoje uma situação em que o preço do leite está elevado (bom para os produtores), mas, por outro lado, o custo de produção está elevadissimo, pois os insumos e mão-de-obra estão cada vez mais caros.

     

    Nosso desejo é ter um setor devidamente organizado, com o produtor adotando cada vez mais as tecnologias adequadas a cada sistema de produção. Queremos leite com preço equilibrado,  qualidade melhorando a cada dia, etc. E, sobretudo, uma atividade sem surpresas tanto para o produtor quanto para o consumidor, pois precisamos continuar produzindo bem e de forma crescente, pois leite e seus derivados são, e sempre serão, alimentos básicos fundamentais para alimentar a população.

     

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