Amartya Sen, economista indiano e ganhador do Prêmio Nobel em 1998, diz que a pobreza é uma fonte de limitação de capacidades e oportunidades, uma forma de privação de liberdade. A falta de recursos financeiros reduz o campo de escolhas individuais. A partir desta concepção, o sociólogo, historiador e cientista político norte-americano Charles Tilly (2006) defende que a reserva – e falta de acesso – ao conhecimento científico é uma forma de redução de liberdade no mundo.
A partir desta premissa, proponho discutir aqui como diminuir as desigualdades de acesso a informações no campo da agropecuária. Como aumentar o acesso ao conhecimento científico a produtores, técnicos e estudantes do país (e com isso aumentar suas liberdades)?
Bibliografia:
SEN, A. Desenvolvimento como liberdade. São Paulo, SP: Companhia das Letras. 2010, 409p.
TILLY, C. O acesso desigual ao conhecimento científico. Tempo Social. Revista de Sociologia da USP, 2006, v. 18, n. 2. Trad. Alexandre Massella. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ts/v18n2/a03v18n2/a03v18n2.pdf >. Acesso em: 22 jan. 2013.
Respostas
Sras e Srs.
Até a tempestade de idéias tem sido mais que válida e produtiva.
Mas... vamos nos poscionar do extremo sul -Chuí ao extremo norte Oiapoque, e vamos dar uma passada na Ilha de Marajó, sem antes tomar um café com leite em São Paulo e comer um pão de queijo em Minas e para arrebatar comer um Mané Pelado no Tocantins e então veremos que neste Brasil existem inúmeros brasis, que apresentam características produtivos distintas e que exigem ATER distintas, mas que ao serem aprimorados e adequados aos A.P.L's. conseguem incrementar resultados em termos de produtividade, sanidade, desfrute, lactação, sanidade, alimentação, nutrição, administração, ganho financeiro, aumento de Qualidade de Vida, resgate da cidadania e por ai vai. Quando cito Arroio Chuí é que ali, quase caindo dentro do Uruguai, os criadores de holando-urugauio, não os criam para leite, mas sim para carne. Carne? Sim. E criação intensiva à campo. Se não venderem para leite, engordas as "terneras" e as vendem ou conforme o mercado as "vaquillonas", e tudo isto tem a ver com os costumes onde a ATER é fundamentada não na modificação do hábito, mas tornar o hábito muito mais lucrativo, movendo pequenas peças no tabuleiro produtivo. E assim vamos para a Ilha de Marajó onde se encontra o maior rebanho bubalino das Américas. Qual seria solução em termos de ATER? Diferente por suposto. Então vamos nos ver no interior das Minas Gerais e veremos ainda o "cuspe nas mãos" e o "banquinho amarrado na cintura" (*), mas como mudar? Uma sala de ordenha azulejda? Um conjunto de ordenha mecânica? Mas como? Se a produção é de 3 litros/dia por vaca? Psicologia Rural acoplada a ATER. E noTocantins? Vacada "anelorada para tirar leite" e o retiro é ceú aberto de maio a outubro e coberto de novembro abri. E por que não uma sala de ordenha azulejada e com piso de cimento? E a ATER responde: Sala de ordenha coberta de palha de buriti, paredes de adobe acimentada e piso batido com cupinzeiro moido, misturado com cimento, cal e areia. E a vacada nelore para leite? A ATER responde. Touro Guzerá na vacada.
E então os conhecimentos gerados na Embrapa Gado de Leite, servem para quê? Servem de base. Nem tudo o que é gerado por uma Estação da Embrapa se aplica nos vários "brasis" que existem neste Brasil.
O conhecimento técnico-científico, deve sim ser difundido, aprimorado, aperfeiçoado, de acordo com o "brasil local".
Att.
Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.
(*) O senhor sabe tirar leite? Pergunta o fazendeiro, com um banquinho na mão.
Sei sim, responde o pretendente ao cargo de retireiro, recem vindo de São Paulo, para o interior de Minas.
Então amanhã você pode começar a tirar leite, ai pelas cinco horas da manhã. Toma aqui o banquinho e as dez horas
eu passo para apanhar o leite.
Dez em ponto o fazendeiro encosta a camionete movida a gaz de cozinha e não encontra uma gota sequer de leite
nos tarros.
Preoucado e contrariado vai de encontro ao novo retireiro e pergunta: Ocê não sabe tirar leite?
Ao que ele responde: Saber eu sei, o problema é fazer as vacas sentá no banquinho.
O problema é antigo, apesar dos alertas da necessidade de melhorar.
Histórico - Na década de 70, quando criadas Embrapa e Embrater, a intenção era de que a Embrater/Emateres fariam a ponte entre a pesquisa e a extensão. Andou bem no sentido das contratações. A Embrater chegou a contratar 80% dos formandos em ciências agrárias (se não me engano - Olinger 19xx). Entretanto, as instituições criadas não conversavam para resolver a sempre faltou diálogo com voz de decisão do setor produtivo para dizer: ou resolvem ou uso a influência que tenho para reorganizar as duas (pesquisa e extensão).
Problema recorrente - A Extensão/Assistência Técnica está fazendo a maior falta e, por outro lado, a pesquisa vai onde está o dinheiro para pesquisa (não culpo os pesquisadores). Dai se pesquisa mais para a ciência e menos para o que o setor produtivo quer. E o que o setor produtivo quer? Talvez ele mesmo não saiba como agir para o setor como um todo. Nosso setor produtivo tem o preparo para este nível de discussão? Na Austrália vivi a situação onde a pesquisa e a extensão são financiadas 50% pelo setor produtivo para fazer o que o setor identifica. O governo entra com os outros 50% para valorizar a pesquisa científica.
Extensionista pesquisador - Faltam extensionistas que escrevam projetos, gerenciem recursos e façam a ponte entre pesquisa e setor produtivo. Gestores da informação, precisamos de muitas destas pessoas. E precisamos que estes(as) tenham voz dentro da pesquisa e universidades para dizer o que se precisa do graduado/pesquisador e o que se demandará do graduando. De preferência que seja envolvido tanto na pesquisa quanto na universidade.
Decodificando a informação - A Embrapa Gado de Leite já está se preocupando com este tipo de problema. A palavra metabolismo pode ser trocada por transformação? para comunicar o que se precisa acredito que sim, bem como outras palavras simples podem ser usadas.
A Rosana Silva afirma que a interação extensão rural e a assistência técnica “é a melhor maneira de a pesquisa chegar ao campo” e que “é necessário que haja um repasse constante [dos conhecimentos científicos] para os extensionistas para que esses, por sua vez, levem esse conhecimento aos produtores.” O Romão Vidal defende que “ainda estamos na era pré-jurássica no tocante ao como fazer a informação chegar ao produtor” e acrescenta que é necessário o acompanhamento, o financiamento e a gestão da propriedade.
A interação Pesquisa x Extensão x Produtor (concordando com Romão Vidal e a Rosana Silva), do país tem muito a melhorar. Ainda que consideremos que a extensão no Brasil no geral está desarticulada, desprestigiada e sem recursos de todas as ordens, acho que precisamos pensar e agir nesse cenário.
Dados do IBGE de 2006 (Tabela 3368) mostraram que apenas 9,79% dos produtores rurais do país recebem assistência técnica regularmente, 13,24 ocasionalmente e 76,98 não recebem qualquer atendimento. Do total dos produtores que recebem atendimento, 9,88 vem do governo (federal, estadual ou municipal), 4,74 do próprio produtor, 4,71 de cooperativas, 3,25 de empresas integradoras, 1,74 de empresas privadas de planejamento, 0,14 de ONGs e 0,61 de outra origem. Os números mostram duas coisas que gostaria de ressaltar: 1) poucos são os produtores rurais do país que recebem assistência técnica e, 2) os profissionais que prestam assistência técnica estão ligados a diversos segmentos e instituições. Há mais prestação de serviço de assistência técnica rural fora do governo (15,19%) que do governo (9,88%).
É este universo que precisa ser contemplado com melhorias na comunicação entre as três esferas: a) Pesquisa x Extensão, b) Extensão x Produtor e c) Pesquisa x Produtor. Precisamos pensar sempre na comunicação em mão dupla, ou seja, a Pesquisa leva informações para a Extensão e traz novos conhecimentos e demandas. O mesmo para Extensão x Produtor e Pesquisa x Produtor. A comunicação é uma troca de conhecimentos, como ensina Paulo Freire. Quando isso não ocorre há problemas.
Os meios de comunicação (TV, rádio, internet, celular, etc.) sinalizam ótimas oportunidades de comunicação entre estas três instâncias. Há um desafio neste campo, do qual sou muito otimista. Um exemplo disso é este próprio fórum.
Então vamos enriquecer o assunto em pauta e corroborando com o que a Dra. Rosana citou, aproveito para reforçar a sua colocação: Balde Cheio | Embrapa Pecuária Sudeste www.cppse.embrapa.br/balde-cheio.
Na realidade é um excelente programa e que se acoplado ao C.V.T.-Movel, dará um resultado magnifico.
Quando assumi a Direção Técnica de uma cooperativa no interior do Paraná, a minha equipe de Médicos Veterinários, elaboraram Protocolos Técnicos para pequenos, médios e grandes produtores de leite.
Estes Protocolos atendiam o volume de área total da propriedade e depois os planejamentos distintos de cada atividade ligada diretamente a produção de leite. Por exemplo: qual a área necessária para o plantio de milho destinada à alimentação suplementar, digamos de 50 U.A. durante 8 meses. Depois qual a área destinada à pastagens de inverno iniciado o pastejo 45 dias após o dia 21 de abril e com duração até o momento de plantar milho para ensilagem e também para ração. Os Protocolos Técnicos, incluiam ainda, capineiras, banco de proteína, pastagem permanente de verão, assim como os Protocolo de Reprodução Animal, Sanitário, Nutricional, Alimentar, Bem Estar Animal, Ordenha, Conservação do Leite, Higiene, enfim, para cada classificação - pequeno, médio e grande produtor - os Protocolos na sua base sempre eram os mesmos, era só fazer a devida "regra de tres" e pronto.
Mas reforçando o que cita a Dr.Rosana, a ATER é algo que tem um peso muito grande neste A.P.L.
Att.
Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.
Creio que tudo que foi falado está correto, só que há um ponto que não foi abordado e que me preocupa muito que é a extensão rural e a assistência técnica. Há muito que o país tinha deixado de lado isso e com certeza as informações deixaram de chegar ao campo, mesmo. O tema voltou à tona com o Ministério do Dsenvolvimento Agrário que está recuperando a área com o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (PNATER). É certo, que essa é melhor maneira da pesquisa chegar ao campo. O SENAR faz isso, em São Paulo, temos o exemplo da CATI, bem desestruturada, mas que pelo menos tem o CATI-Leite, que veio da implantação do Balde Cheio, da Embrapa. Esses são dois exemplos bons, mas ainda é muito pouco. Os trabalhos científicos não cehgam ao campo por uma falta de estrutura. Publicar é preciso, mas é necessário que haja um repasse constante para os extensionistas para que esses, por sua vez, levem esse conhecimento aos produtor. Vejam o caso da IN 51, reeditada como IN 62. Se não houver uma atuação de setores públicos e privados para atender as exigências ali colocadas, continuaremos, de tempos em tempos, tendo que reeditar novas normas e baixar padrões para que o produtor de leite tente se adequar a elas.
Então vou lhe dar uma pista.
Todos os ministérios ligados ao social, e ou secretarias estaduais ou ainda o próprio sistema "S", inclusive o Senar, tem grandes possibilidades de solicitar um C.V.T.. Por exemplo, tente uma parceria entre o SENAR-MG com a Secretaria de Ciência e Tecnologia e Inovação de Minas Gerais e proponha a aquisição deste C.V.T. via SICONV, junto ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Ah!!! Agora me lembrei. Vocês ai em Minas têm na Secretaria de Ciência e Tecnologia os CENTROS DE EXCELÊNCIA, inclusive um de leite. Existem milhares e milhares de R$ para financiar projetos. Quanto aos modelos, você tem uma gama enorme de escolha.O Ministério da Ciência e Tecnologia, tem o maior interesse em participar deste tipo de projeto. Outro detalhe. O SENAR-MG, tem acesso a CNA e a Senadora Kátia Abreu é uma pessoa que pode ajudar muito.Eu falo porque fui Superintendente da Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado do Tocantins e encaminhei este tipo de projeto junto ao MCT, para financiar dois C.V.T. pena que deixei tudo lá. Tente 63-32186302/25 e solicite falar com Maria de Penha, ela trabalhou comigo e poderá lhe informar a respeito do C.V.T.
Espero ter sido útil.
Médico Veterinário Romão Miranda Vidal
Boa tarde a todos!
Romão, este é o meu sonho de consumo... montar um "Furgão Escola". Seria um diferencial para os meus cursos no SENAR-MG. Já pesquisei preço do carro + montagem, mas não fica barato. Existe um programa do Sebrae e do IBS que é a "vaca móvel" (procure vaca móvel no google) que explora um carro para levar tecnologia ao campo... muito interessante!
O mais importante é o que vc citou: "Linguagem que os produtores querem ouvir" e não se encher de artigos que alimentam o ego próprio dos pesquisadores, como disse o Sr. Leonardo e que eu tambem não pactuo.
Quer um exemplo: Os instrutores do Senar-MG passam por reciclagem na Embrapa e um pesquisador disse que para o produtor tirar leite tem que ter um poço artesiano com água potável, concordo. Eu e outra colega do Mato Grosso perguntamos o que fazer com aqueles que captam água de mina, córrego, lagoa, etc... e a resposta foi que esta pessoa não pode tirar leite ou deve furar um poço (custo aprox. 15 mil reais). Absurdo. Como pesquisador eu acho que ele deveria apresentar soluções alternativas... Filtrar, tratar, clorar, analisar periodicamente a água, etc...
Este é um exemplo do perfil de alguns pesquisadores que só interessam em títulos para seu C.V.
Vamos a campo continuar levando informações relevantes do cotidiano deles...
O que nos deparamos é o seguinte. Existem verbas ministeriais aos montes. Existem programas duplicados e até triplicados. Ministério de Desenvolvimento Social: verbas para projetos de irrigação; Ministério da Reforma Agrária: verbas para projetos de irrigação. Ministério do Meio Ambiente: verbas para projetos de irrigação.
Vamos então pensar em um C.V.T. móvel. Centro de Veículação Tecnológica, móvel. Consiste em uma carreta baú, encarroçada em um chassi. Tracionada por uma caminhão com plataforma para engate do bau.Em geral estes C.V.T's. apresental 19 metros de comprimento e 2,10 metros de largura. São equipados de acordo com a finalidade específica.Leite por exemplo. Será necessário um gerador, acoplado ao sistema elétrico do caminhão. A equipe de profissionais elabora um projeto descritivo do que entende ser necessário e discute com o projetista da empresa. Em geral distribui-se estes 39,90 metros quadrados em bancadas, armários do piso ao teto, um micro auditório com cadeiras plásticas, refrigeradores, frezzer's, forno de microndas. As portas são de correr no sentido do eixo maior da carreta. E pode ainda fazer uso de um toldo de comprimento de 30 metros por 19 de largura e servir de recinto ao ar livre e com tela de projeção. Esta é uma forma de levar os conhecimentos até aos produtores. Mas... falem a linguagem que os produtores querem ouvir:SIMPLICIDADE; CONFIANÇA; LUCRATIVIDADE REAL E PALPAVEL; E REALIDADE DE ACORDO COM O MEIO ONDE PRODUZEM E VIVEM.
Att.
Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.
Romão Vidal, Renato Queiroz e Leonardo Silva,
Muito pertinentes as posições de vocês. Por um lado há uma gama de informações científicas sendo produzidas e por outro há uma carência de informações de pessoas que têm suas liberdades limitadas. Há problemas de comunicação entre estes dois mundos: pessoas com interesses diferentes e que estão submetidas a pressões distintas (conforme palavras do Leonardo Silva). Interesses e pressões precisam ser descortinados. Do lado do produtor há a necessidade de lucro, de bem-estar familiar, de condições dignas e trabalho e reconhecimento, variações de preço de mercado com seus jogos limpos e sujos, de se associar (como disse o Renato Queiroz) etc. Do lado do cientista, sua permanência no trabalho depende muito do Currículo Lattes que valoriza sua presença em periódicos internacionais e uma grande quantidade de artigos publicados anualmente. Foi o que disse Romão Vidal. Além desses pontos, acho que precisamos identificar muitos outros interesses e pressões sobre os produtores e cientistas.
O Renato Queiroz relatou a dificuldade de mobilizar produtores de leite para participarem dos cursos gratuitos, ainda que se trate de “informações relevantes do cotidiano destes produtores”. Se eles precisam de informações técnicas para aumentar sua renda, porque não valorizam o conhecimento? O cenário é complexo.
Enfrentando uma espécie de paralisia do setor diante dessa realidade perguntamos: e aí, o que nós podemos fazer? Precisamos conhecer o ambiente para tentar atuar e, de alguma maneira, modificar. Não se fala que os produtores precisam se organizar para mudar sua realidade e aumentar o seu poder de pressão? E nós? Precisamos também trocar experiências, conhecer, discutir e tentar encontrar saídas. Por isso essa discussão é tão importante.
Na realidade existe nas Acadêmias um culto à necessidade de produzir e publicar artigos, no sentido de angariar patrocinios junto ao CNPq, junto às Fundações e com tais medidas acrescentam duas situações: a primeira somam pontos no seu Curriculum, e lógico logo o enviam ao C.V.Cesar Lattes e depois faturam um bom e promissor dinheiro, afora os equipamentos que são financiados e depois usados nas suas atividades particulares, como assessores e consultores técnicos. Quanto às publicações existe a necessidade precípua dos pesquisadores "sairem da casinha" e deixar o mundo sofisticado das acadêmias e se interiorizarem para aprender com a realidade rural.
Atenciosamente.
Médico Veterinário Romão Miranda Vidal.