O melhoramento genético  para aumento  da produção de leite é um processo  que vem se aprimorando  ao  longo de  muitos  anos.
A glândula  mamária  da vaca  “normal”  visa simplesmente atender à exigência
nutricional  da cria, mas atualmente,  como consequência  desse melhoramento, existem vacas que produzem 10 a 15 vezes acima disso.

O úbere pode ser comparado a uma usina que, na medida em que recebe matéria prima, trabalha  ininterruptamente.   É um  órgão  que exige  muito  do organismo  da  vaca, e  caso  essas exigências  não forem  atendidas,  o déficit gerado  passa  a comprometer a saúde  do   animal, por espoliação de nutrientes.

O grande desafio na alimentação da vaca leiteira é, portanto, garantir o suprimento suficiente e constante  dos nutrientes  necessários  para a  lactação  para  a qual  a vaca  foi genéticamente  e artificialmente  “programada”.
Assim, o fator tempo é um aspecto limitante,  principalmente  porque o ruminante dedica um turno de cerca de 8 horas para ingestão de alimentos, além de 8 horas para a ruminação e 8 horas para o descanso, ao passo que o úbere requer nutrientes
continuadamente.  O tempo dedicado à ruminação também é “sagrado” pois esse hábito é vital para a saúde do animal e essencial para o fornecimento de nutrientes para o úbere.

A vaca leiteira é um ruminante  que procura selecionar  a ingestão do pasto e que retém o alimento de modo demorado no rúmen, procurando, assim, aproveitá-lo da melhor maneira possível. Portanto, se a forrageira for de baixa qualidade, o processo de digestão será mais difícil e ainda mais demorado.

Por  outro  lado, é preciso  ter  sempre em  mente  que, para  funcionar  de
acordo  com  sua “programação”  genética, o úbere requer o suprimento contínuo de nutrientes para a síntese de leite. Qualquer interrupção prolongada desse suprimento faz com o que o processo seja prejudicado, com prejuízo na produção.

Assim,  a forrageira  não somente  deve ser boa o suficiente  para ser digerida  rapidamente, como também deve ser capaz de estimular a ruminação, o que é uma propriedade exclusiva da fibra vegetal, do capim. O alimento concentrado é fermentado rapidamente demais no rúmen, além de não estimular  o  processo
de  ruminação,  portanto, não  é  uma alternativa  “natural”  para substituir  ou compensar a falta de qualidade do alimento volumoso.

Todavia, em toda a dieta para alta produção os concentrados são imprescindíveis para garantir o aporte suficiente de energia e proteína. A  planta  forrageira de  baixa  qualidade, pobre  em  nutrientes e excessivamente  fibrosa,  é fermentada lentamente demais no rúmen, demorando para liberar “espaço” para uma nova refeição que  propicie uma  rápida  digestão e  um  consequente rápido  fornecimento  de metabólitos  para  o úbere sintetizar o leite.

Vemos,  portanto,   que   a  vaca   exige   condições  para   uma   digestão,  que   além   de necessariamente ter que ser rápida, também tem que ser “natural”, isto é, à base de planta forrageira que estimule a ruminação.  A planta de baixa qualidade não deixa de estimular a ruminação, mas o problema  é o seu lento  processo  de digestão,  além  de demandar  maior  quantidade de alimento concentrado para atender às exigências nutricionais da vaca de alta produção .

Modernamente,  o  conceito de  “taxa  de fermentação”  no  rúmen
(quantidade  de  alimento digerido por unidade de tempo) tornou-se um atributo da qualidade de uma planta forrageira. Através de uma análise química  da “Fibra em detergente  neutro” e “Fibra em detergente  ácido” da planta, pode-se ter uma idéia razoavelmente  boa da taxa de fermentação   de uma forrageira.  A “fibra em detergente neutro”, o FDN de uma planta está, deste modo, relacionado com o potencial de ingestão dessa planta pelo animal, pois um baixo teor de FDN leva a uma rápida fermentação no rúmen,maior velocidade de “esvaziamento” desse órgão, e, consequentemente,  maior possibilidade de ingestão de nutrientes durante as 8 horas dedicadas ao pastejo e à procura de alimento no cocho.

Assim, na prática, para uma produção diária acima de 35 litros/vaca, sem necessidade de um excesso de  concentrado  (e diminuindo  custo  de alimentação  e  problemas digestivos),  a  planta forrageira deveria ter menos de 55% de FDN (na matéria seca) para equilibar a dieta.

Portanto, cabe a pergunta:  qual é o teor de FDN das forrageiras  oferecidas 
ao seu plantel leiteiro?

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Respostas

  • Ola como jogar esta formula da NRC 2001CMS (kg/d) : (0,372 x LCG + 0,0968 x PV0,75) x (1- e[ - 0.192 (SL + 3,67)]), na calculadora cientifica o "e" é exponencial EXP ja tentei de tudo jeito e da erro? desde já obrigado pela atenção!

  • MUITO BOM SEU TÓPICO, CRIADO COM O ENTUITO DE PASSAR CONHECIMENTOS AOS DEMAIS PARTICIPANTES DESSA GRANDE REDE, PARABÉNS E CONTINUE ASSIM NOS FORNECENDO SEUS SABERES, A EXTENSÃO RURAL DO BRASIL AGRADECE.


  • Paulo Roberto Frenzel Mühlbach disse:

    Olá Mariana,

    Não existe ainda uma receita definitiva de como medir o consumo de MS do animal no pasto e os métodos adotados nas pesquisas são muito complexos para a prática.  Na  Nova  Zelândia  já  existe  em  uso  uma  técnica  muito  prática,  porém sofisticada,  onde  o  sujeito  percorre  a  pastagem  de  quadriciclo  e  através  de  um dispositivo com GPS é estimada na hora a quantidade de pasto que está disponível, o que a cada troca de piquete permite ajustar a taxa de lotação (animais por hectare). É uma sofisticação em condições onde é oferecida   pastagem de ótima qualidade, sem suplementação  no cocho.

    Para o nosso produtor (dirijo-me, aqui, especialmente  aos produtores de leite da Região Sul do Brasil, onde não temos estação seca, como aí nos trópicos) isto ainda está  muito distante, razão pela qual temos que estar com os pés no chão e encarar a nossa realidade,  que é muito diferente.
    Uma  possibilidade  de  se  estimar  o  consumo  a  pasto  seria  um  cálculo  por diferença,  partindo-se  do potencial teórico de consumo da vaca (Tabela do NRC de 1989, ou a equação do NRC de 2001).

    TABELA DO NRC (1989) PARA ESTIMAR CONSUMO DE MS PARA EXIGÊNCIAS DE MANTENÇA, PRODUÇÃO E GANHO NORMAL DE PESO DURANTE O MEIO E FINAL DA LACTAÇÃO٭

     

    kg leite                                       kg de peso vivo

    LCG (4%)             400            500              600            700          800

                                ---------------------- % peso vivo --------------------------

         10                     2,7             2,4               2,2             2,0           1,9

         15                     3,2             2,8               2,6             2,3           2,2

         20                     3,6             3,2               2,9             2,6           2,4

         25                     4,0             3,5               3,2             2,9           2,7

         30                     4,4             3,9               3,5             3,2           2,9

         35                     5,0             4,2               3,7             3,4           3,1

         40                     5,5             4,6               4,0             3,6           3,3

         45                     ----             5,0               4,3             3,8           3,5

         50                     ----             5,4               4,7             4,1           3,7

         55                     ----             ----               5,0             4,4           4,0

         60                     ----             ----               5,4             4,8           4,3

     

    LCG (4%)- leite corrigido a 4 % de gordura = 0,4 x kg leite + 15 x kg gordura

    ٭ no início da lactação o consumo provável poderá ser até 18 % inferior

    Dietas até 10 kg/dia = 1,42 Mcal EL/kg MS; > 40 kg/dia = 1,72 Mcal EL/kg MS

     

    No novo NRC (2001) a estimativa do consumo de matéria seca leva em conta o estágio da lactação e estágio de gestação (vaca seca). A equação empregada possui um termo exponencial que ajusta para a diminuição de consumo observado tanto no início, quanto ao final da lactação:

     

    CMS (kg/d) : (0,372 x LCG + 0,0968 x PV0,75) x (1- e[ - 0.192 (SL + 3,67)]), onde:

    CMS = consumo; LCG= leite corrigido p/ gordura; PV = peso vivo; SL = semana da lactação

     

    Por exemplo, usando o modo mais simples, pela tabela, o potencial de consumo de uma vaca de 500 kg, produzindo 25 kg de leite com 3,4% de gordura seria estimado da seguinte maneira. Primeiro, corrige-se a produção de leite para 4% de gordura (LCG 4%), aplicando-se a fórmula indicada, o que no caso dessa vaca dá: 0,4 x  25 kg/dia + 15 x  0,85 kg de gordura  (de 3,4% x 25 kg) = 10 + 12,75 = 22,75 kg de LCG (4%). Isto significa que 25 kg de leite com 3,4% de gordura se equivalem a 22,75 kg de leite com 4% de gordura.
    Em seguida, com este valor de 22,75 vai-se à Tabela, no cruzamento da coluna de 500 kg de peso vivo com o espaço entre as linhas 20 e 25 kg LCG, onde, por interpolação, vê-se que o potencial de consumo de MS dessa vaca se situa entre 3,2% e 3,5% do seu peso, aproximadamente uns 17 kg de MS.
    Assim, se a vaca em questão recebesse no cocho 7 kg de MS de concentrado, (duas refeições de 4 kg de concentrado in natura) e 5 kg de MS de silagem de milho (uns 15 kg de silagem in natura), no pasto ela ainda teria a capacidade de consumir mais 5 kg de MS (equivalente a uns 25 kg de pasto fresco), fechando o total de 17 kg de  MS.  Entretanto,  se  essa  vaca  não  dispor  desta  oferta  de  alimento,  ela      não alcançará a produção de 25 kg, ou até poderá chegar perto, porém perderá peso de modo a comprometer a sua saúde.

    Felizmente, aqui na Região Sul, temos o privilégio de poder utilizar forrageiras de clima temperado como o azevém anual ou bianual, a aveia preta e a alfafa, as quais, quando bem manejadas, propiciam teores de FDN inferiores a 55% na MS. Todavia, falta ainda difundir mais estas alternativas, bem como desenvolver novas variedades, melhor adaptadas às diferentes regiões produtoras de leite.

    A planta inteira de milho na forma fresca ou ensilada também possibilita teores de FDN inferiores a 55%, contudo, requer procedimentos adequados de cultivo, ensilagem e "desensilagem" para preservar ao máximo o teor original de açúcares solúveis.

    Entretanto, na minha opinião, se não houver disponibilidade de forrageira com baixo teor de FDN, o sistema de produção deverá se adequar, ou seja, no pasto valer-se da rusticidade e aceitar lactações inferiores a 3.500 kg, como é o caso do gado azebuado.

  • Bom dia Paulo!

     

    Concordo com você que a melhor estratégia nutricional é fornecer volumoso de melhor qualidade e dessa maneira reduzir a suplementação concentrada, o que pode levar a sistemas de produção com maior rentabilidade na maioria dos casos.

     

    O desafio é ter forrageiras tropicais com teor de FDN inferior a 55%. A oprtunidade é utilizarmos de maneira mais eficiente as pastagens, com cultivares mais adequadas a cada região e solo. O uso do pastejo rotacionado, para garantir melhor qualidade de forragem aos animais. Outros recursos como adubação e irrigação também podem ser utilizadas, mas para isso deve ser avaliado cada caso.

     

    Outro aspecto importante é avaliar qual a melhor estratégia de suplementação volumosa na época da seca. Essa escolha depende de vários fatores como a produção dos animais, a mão de obra, a fertilidade do solo, a pluviosidade, temperatura, custo/benefício de energia e proteína do alimento, entre outros.

     

    Como disse, as nossas forrageiras têm normalmente um teor de FDN superior ao sugerido e uma digestibilidade baixa quando comparada as forragens temperadas.

     

    Dessa maneira, uma grande dificuldade é estabelecer a capacidade de ingestão de forragem nessas condições.  Essa estimativa é fundamental para os nutricionistas, pois essa é a base inicial para formularmos as dietas que atendam as exigências nutricionais dos animais, evitando a super ou a subalimentação, que tornam os sistemas menos eficientes.

     

    Qual parâmetro vocês utilizam para estimar o consumo de vacas a pasto?

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