Apesar das várias vantagens que o procedimento de inseminação artificial (IA) oferece para sistemas de produção de leite, poucos rebanhos brasileiros utilizam esta técnica. Estima-se que, enquanto que a IA é utilizada em 80 a 90% dos rebanhos leiteiros dos EUA e Canadá, apenas 10 a 12% dos rebanhos leiteiros brasileiros utilizam esta técnica de reprodução. Abaixo estão três artigos que expõem a situação da IA em rebanhos brasileiros, bem como as principais vantagens e desvantagens do usso dessa técnica. A minha pergunta é: por que a inseminação artificial aida é pouco utilizada no país? Se alguém já teve alguma experiência com a implantação da IA em rebanhos, por favor relate-nos se houve sucesso, e quais as principais razões dos resultados obtidos.
http://www.cnpgl.embrapa.br/sistemaproducao/4983-insemina%C3%A7%C3%A3o-artificial-ia
Artigo da Embrapa, sobre o uso da inseminação artificial em sistemas de producão de leite
http://www.sna.agr.br/agribusiness/wp-content/uploads/4C_DonarioLopes.pdf
Palestra do Dr. Donário Lopes de Almeida no 4o Congresso de Agribusiness
http://revistagloborural.globo.com/Revista/Common/0,,ERT314339-18530,00.html
Entrevista revista Globo Rural, com Wiliam Tabchoury
Respostas
Os baixos índices são fáceis de ser explicados e se devem as estes fatores: falhas nutricionais (fome), manejo sanitário falho, treinamento de inseminadores, falta da cultura de seguir regras e "achismo".
Entendo que a IA é uma ferramenta que o produtor dispõe que, se bem utilizada, poderá melhorar os resultados da atividade. Testemunhei o insucesso de aplicação da IA, em algumas fazendas, decorrência de uma série de equívocos conhecidos por todos nós. O que não podemos esquecer é que a eficiência reprodutiva do rebanho exerce influência no resultado econômico do negócio leite. Mais importante do que a IA é o produtor garantir que suas vacas deem cria todo ano. Percebemos que, muitas vezes, o produtor necessita mesmo é resolver outros gargalos na atividade para só depois pensar em IA, infelizmente, como não há planejamento o carro vai adiante dos bois e o resultado colhido é decepcionante. É muito comum encontrarmos propriedades que usam IA há 10, 15 anos com % VL baixa, VL/ha baixa, produção/VL sofrível, produção/VT baixa, demonstrando claramente pouco impacto positivo da IA na atividade leiteira. A IA é um salto de qualidade, mas para expressar a sua eficácia depende de outras medidas que devem ser tomadas na fazenda.
Gente
em um rebanho de leite, o primordial é alimentação, se possível de boa qualidade!
Mas todo esforço no aprimoramento genético se traduz em resultados econômicos, ..ou não ????
Meus respeitos a todos debatedores....
Olá
Eu agradeço imensamente as ideias compartilhadas pelos senhores nesta discussão. Ouvir os outros lados realmente é muito enriquecedor, e nos ajuda a traçar caminhos para a resolução de problemas.
Quanto a questão do produtor: seria realmente comodismo que o leva a não realizar a IA? Ao meu ponto de vista, essa definição não é 100% verdadeira. Eu exploraria as razões desta decisão (ou falta de decisão) em questões relacionadas também a:
- falta de profissionalização do negócio (como discutido anteriormente). Neste caso, a solução envolve maior disponibilidade de assistência técnica, principalmente, para os pequenos produtores.
- a cultura de que assistência técnica contratada leva a prejuízos (e não a lucros). Neste caso, a solução cabe a mudança cultural tanto do produtor, mas também dos técnicos, que devem realizar seu trabalho para levar lucro ao produtor (e explicar como este lucro será alcançado, em decorrência das melhorias implementadas em razão da adoção de assistência).
- os resultados (lucros) alcançados a longo prazo quando adota-se a IA. Explicando: investem-se recursos para a implementação da técnica, mas os benefícios alcançados, principalmente quanto ao melhoramento genético (por exemplo maior produção de leite/sólidos e maior longevidade das matrizes) podem começar a serem diagnosticados apenas 4 a 5 anos após a implementação, quando do encerramento da primeira lactação das filhas dos touros usados na IA. Ou seja: neste "meio do caminho" o produtor pode desanimar.
O que vocês acham disso?
Prezados,
Excelente discussão! Tive a oportunidade de acompanhar de perto vários desses programas de inseminação enquanto trabalhei em Rondônia. Há quase 10 anos, o Estado deu início ao projeto Inseminar, com o objetivo de melhoramento genético do rebanho leiteiro. No projeto, o Estado arcava com alguns custos (como sêmen, nitrogênio, aquisição de butijões comunitários, dentre outros) e capacitava técnicos e produtores em técnicas de IA. Entretanto, o programa não foi acompanhado de um levantamento sistemático de dados e acompanhamento dos mesmos, e nem de outros programas técnicos, como a questão da alimentação, como já mencionado nessa discussão.
Sendo assim, o que vemos hoje ao visitar pequenos produtores familiares, de assentamentos, é um desestímulo quanto à técnica (ainda mais porque eles acreditam que o governo deve dar tudo, e como em muitos casos o programa foi descontinuado, o produtor parou), e uma associação "errônea" de que bezerra filha de IA é mais sensível, então adoece mais, morre mais, dá mais trabalho, etc. Em um levantamento conduzido pelo pesquisador Luiz Francisco M. Pfeifer (arquivo anexo), ele demonstra a importância da gestão dos dados reprodutivos para a tomada de decisão, e mostra como naquele Estado esses dados são escassos (como também é em outros lugares).
Sendo assim, acredito que é muito importante o desenvolvimento de programas que fiomentem o uso da IA em produtores, mas a participação destes (contrapartida financeira) é fundamental. Ainda no Estado de Rondônia, a prefeitura de Machadinho D´Oeste trabalha dessa forma. O produtor paga pelo serviço (um valor simbólico, pois a prefeitura subsidia o nitrogênio e também realiza cursos de capacitação nas comunidades), mas o sêmen e a mão de obra, além de outros custos, são por conta dos produtores. Não tenho os dados claros aqui, mas nesse município se observa uma aumento no interesse e no uso da IA, mas vale ressaltar que este trabalho é acompanhado de um trabalho focado em manejo e recuperação de pastagens e plantio de cana e fomento à silagem para suplementação dos animais (o que também é um programa muito fomentado pela prefeitura).
Segue texto do pesquisador Luiz Pfeifer.
Excelente discussão!
doc142_rebanholeiteiro_1.pdf
Boa tarde, a inseminação x cultura que é uma coisa muito difícil de ser trabalhada, e o comodismo dos produtores de não precisar estar atento ao seu rebanho, é sim podendo andar tranquilo enquanto o boi faz o serviço, agora prefiro a alta genética, onde podemos melhorar o rebanho tão rapidamente e com uma expressão em lactação ótima, e características que podemos escolher para transmitir para o rebanho corrigindo deficiências genéticas em cada cabeça do rebanho. Temos um programa em nossa Prefeitura de Santo Antônio da Barra - Go, sêmen de graça para o produtor que segue o programa mais a procura é bem reduzida, mais vamos trabalhar para mudar isso, Deus abençoe a todos.
Glaucyana,
Os Agricultores são treinados com os objetivos de conhecerem mais sobre a IA, saberem identificar o cio e a hora de inseminar, além de aprenderem à técnica, pois assim, podem nos auxiliar no sucesso do programa e eles mesmo virem até o botijão e levar o sêmen. Todos que fizeram os cursos, agora pelo menos sabem a importância de identificar a hora certa do cio, ai ligam na EMATER-MG ou vêm buscar o sêmen ( o qual é fornecido pela Prefeitura ). Nosso botijão também hospeda sêmen ( adquirido pelo Produtor ), diminuindo o custo por parte dos produtores em manutenção e aquisição dos mesmos.
Sim, a taxa de fêmeas nascidas é satisfatória. Nós não compramos pela Prefeitura sêmen sexado, mas temos produtores que compram e hospedam em nosso botijão, assim como, temos produtores que fazem IATF em seus animais e nos chamam para inseminar. A ideia é melhorar o rebanho do município e oferecer e/ou prestar um serviço aos Agricultores Familiares à custo baixo ou zero, assim com à introdução da tecnologia e resultado satisfatório, os produtores buscam novas técnicas, aprimoram e se motivam. Como na Agricultura Familiar, o próprio sistema de produtivo permite trabalhar conjuntamente com Leite e corte, obtendo renda e equilíbrio na propriedade, é difícil até dizer se o nascimento de bezerros machos ( os quais são destinado pro corte, dependendo do cruzamento ), não é satisfatório.
Creio que é um caminho, aliado à AT e outros programas que possam ajudar os Agricultores Familiares à reduzir os custos, de sempre no coletivo comprando e vendendo, assim podem concorrer e tornar-se "grandes".
Att.
Prezado Marcos,
Agradeço por compartilhar sua experiência em iniciativa da prefeitura de Soledade de Minas (MG). Esse é um bom exemplo de como é importante o desenvolvimento de programas de incentivo à inseminação artificial por parte da administração pública em parceria com a EMATER-MG.
Os agricultores que tiveram oportunidade de participar do curso conseguiram implantar e dar continuidade à IA na propriedade?
Você citou o número de animais inseminados, no entanto, a taxa de fêmeas nascidas é satisfatória? O sêmen distribuído é sexado?
As questões são simples mas de grande importância para o nosso entendimento quanto ao programa.
Obrigada pela colaboração!
Glaucyana.
Glaucyana Gouvêa dos Santos disse:
Bruna,
Concordo com a sua colocação, visto que, os dois pontos da sua reflexão, “profissionalizar o sistema de produção” e “usar técnicas mais avançadas para o manejo do rebanho”, estão sendo trabalhados pelos Programas Edu Campo ( SEBRAE ), Balde Cheio ( EMBRAPA e FAEMG ) e Minas Leite (SEAPA através da EMATER-MG ), todos com excelentes resultados. Obtendo sucesso nessa jornada, com o uso de tecnologias de baixo custo de produção e aumento de produtividade e renda ( lucro para o produtor ).
Em relação a IA, todos nós da AT, sabemos que é uma tecnologia que deve ser implantada juntamente com alimentação e manejo sanitário adequado. Mas vejo, na Agricultura Familiar um grande mercado que as Centrais que comercializam Sêmen, ainda não despertaram, Inseminação Comunitária. Temos um Programa Municipal de IA, já com 08 anos de existência, para melhoria do rebanho do município, sendo que : a aquisição do sêmen, luva, bainha e nitrogênio fica por conta da Prefeitura Municipal, o trabalho e aplicação da Técnica é por conta da EMATER-MG local juntamente com os Agricultores Familiares treinados. Além, do fornecimento do sêmen e prestação do serviço, temos com meta pelo menos 01 treinamento por ano de IA, no qual podemos contar com a participação do SENAR-MG. Vários programas deste tipo acontecem pelo Brasil, vias Cooperativas ou Prefeituras, existe Programas Governamentais para aquisição dos equipamentos e botijão, os quais devem ser acessados pelas comunidades e colocados em prática, abrindo área de venda para as Centrais.