Já tomou seu leite hoje?

Olá!

Gostaria de compartilhar com você um texto que foi postado em um blog chamado thecowlocale, no último mês de Abril.

O artigo trata do tema "produção de leite e sustentabilidade", e foi escrito por uma americana, estudante de nutrição, que estava considerando voltar a tomar leite, apos ter optado por uma dieta vegana.  No artigo, a aluna discute o que a fez decidir parar de consumir produtos de origem animal, e, a posteriori, o que a fez retomar a ideia de voltar a tomar leite. E não foi por causa do gosto maravilhoso dos produtos lácteos....

Na verdade, a escritora, chamada Kayla, teve a oportunidade de estagiar em fazendas leiteiras e vivenciar o processo de produção de leite in loco. A convivência com as pessoas envolvidas com a criação de gado, e o entendimento mais aprofundado de como o sistema de produção leiteira funciona (diferentemente do que ela imaginava, após ter assistido a videos sensasionalistas) fizeram Kayla compreender que o sistema de produção de leite é sustentável, familiar e vai sim, de encontro com seu valores, que incluem a reciclagem de insumos, o bem estar animal, e a priorização de esforços para a alimentação de seres humanos (em vez de animais).

Eu particularmente acho que os sistemas brasileiros se encaixam bem nessas diretrizes de sustentabilidade. No entanto, infelizmente, ainda fazemos pouco "marketing" dos nossos sistemas, principalmete, de como eles podem se encaixar para o atendimento de demandas de consumidores mais exigentes. Esses consumidores  buscariam comprar um produto não só apenas de boa qualidade e de preço acessível, mas que também seja produzido em sistemas que levam em conta a preservação do meio ambiente e o bem estar animal.

O que vocês acham disso? Podemos explorar o marketing do "nosso" leite? Quais são as principais barreiras que ainda nos impedem de alavancar a disponibilidade e a cultura do consumo de lácteos no país?

O link para o artigo encontra-se abaixo, bem como uma tradução livre, que eu fiz, uma vez que o artigo original foi escrito em inglês.

http://thecowlocale.com/2014/04/22/dairy-sustainability-made-me-rethink-being-vegan/

A SUSTENTABILIDADE DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE ME LEVARAM A PENSAR A RESPEITO DE SER VEGANA.

Por Kayla Thomas – Estudante de nutrição da Utah State University

  "Minha decisão de me tornar vegana não foi levada de forma superficial. Foi após muito estudo sobre a alma e também muita pesquisa que ha mais de dois anos eu escolhi votar com meu garfo para a agricultura sustentável, saúde e cuidados com os animais. Atualmente sou aluna de nutrição, e estou terminando a faculdade e me preparando para fazer o exame para me certificar como nutricionista. Ao passo que eu não prego o veganismo aos meus pacientes/clientes, nos últimos dois anos, eu pessoalmente segui este estilo de vida e fiz estas escolhas.

 No entanto, no final do ano passado, um dos meus estágios rotacionados foi realizado junto ao conselho de laticínios de Utah/Nevada. Todos os locais pelas quais passei foram maravilhosos, mas o conselho de laticínios foi, de longe, a mais divertida e criativa. Também foi a que mais influenciou-me pessoalmente. Durante este trabalho que durou duas semanas, eu tive a oportunidade de visitar duas fazendas de produção de leite. Assistir ao processo de produção de leite em uma fazenda leiteira foi uma oportunidade que me abriu os olhos. Eu já tinha visto muitos "filmes de terror" mostrando crueldades com os animais em "fazendas-fábrica" por todo o país e por isso, antes da minha ida inicial à fazenda, eu pensei que a visita tinha sido programada bem antes para preparar os fazendeiros pra se comportarem muito bem e maquiar o ambiente com relação às práticas que eram normalmente efetuadas. Quando eu saí da fazenda naquele dia,  eu fiquei confusa. Aquela fazenda leiteira grande era um negócio de família, e não parecia, de maneira alguma, com uma fábrica. Eu fiquei maravilhada como os trabalhadores eram pessoas boas, e mais maravilhada ainda no momento em que eu assistia as vacas calmamente passando por sua rotina diária de produção de leite.  Mostrar a forma como os produtores adquiriam seu sustento, não me parecia, de maneira alguma, uma encenação. A visita à segunda fazenda confirmou minha suspeita: fazendas leiteiras são negócios de família.

 As práticas de agricultura sustentável são intensamente importantes para mim, e uma das razões principais que me levaram a escolher o estilo de vida vegano. Por várias razões, eu gostaria que a gente pudesse voltar aos tempos das pequenas fazendas onde o princípio "da roça ao prato" funciona no quintal de casa de todo mundo, mas no mundo atual de 7 bilhões de pessoas (e que está crescendo rapidamente!) temos um problema de segurança alimentar que precisa de práticas modernas de agricultura para produzir comida suficiente. Dessa forma, temos que evoluir, com fazendas maiores, e também temos que ajudar a ajustar melhor os procedimentos dessas fazendas para criar um meio ambiente mais "verde". Eu tinha a impressão que a produção de proteína animal não era muito sustentável, mas eu tive a oportunidade de me informar em primeira mão como o sistema de produção de leite é líder nessa área. Aqui estão algumas coisas que aprendi:

- Leite é um alimento local. Do momento em que o leite da vaca é estocado num tanque de resfriamento, tipicamente leva-se de 48 a 72 horas para que ele esteja na prateleira de um supermercado local.

-Qualquer tipo de desperdício de energia é perda de dinheiro para o produtor de leite, cada dólar conta para suas famílias. Ser fazendeiro é um negócio difícil, e se torna cada vez mais difícil com o passar dos anos. A eficiência é essencial, e também é um bom negócio para o produtor de leite. Eu testemunhei as fazendas usando o próprio leite em tanques para aquecer os galpões de animais, criando um ambiente confortável para as vacas em tempos de inverno, e eu também ouvi falar de como a água é reciclada e usada múltiplas vezes na fazenda para lavar, resfriar, irrigar...

-Quando as pessoas me perguntavam por que eu era vegana, algumas vezes eu dizia que eu preferia alimentar humanos do que  animais. Por não consumir produtos de origem animal, eu achava que estava fazendo alguma coisa para solucionar o problema da fome no mundo. Eu ficava preocupada com o fato de grande parte da nossa cultura de grãos estava sendo direcionada para a alimentação de animais, ao invés de humanos. Mas durante estas visitas eu tive a chance de me informar melhor sobre o que as vacas comem. Muito do que está nos 50 Kg de comida que as vacas ingerem diariamente são, na verdade, coprodutos que os humanos não conseguem digerir. Por causa dos seus estômagos poderosos, as vacas são capazes de produzir leite altamente concentrado em nutrientes  a partir de alimentos que seriam inúteis ao consumo humano. Ficar sabendo disso foi  meu ponto de inflexão... pensamentos a respeito de leite, iogurte, queijo, sorvete começaram a inundar minha mente...

 O bem estar animal foi outra razão importante que me levou a escolher ser vegana. Enquanto eu visitava diferentes rebanhos leiteiros em Utah, eu fiquei impressionada com a calma e quietude das vacas e bezerros. Será que eles poderiam possivelmente estar contentes ou até mesmo felizes com suas vidas? Senão, eu estava sendo enganada... Após minha rotação com o conselho de laticínios, minha mente estava consumida em pensamentos a respeito de fazer uma grande mudança em meu estilo de vida e me tornar vegetariana. A princípio, o pensamento a respeito dessa transição me deixou com medo. Eu não me vejo como uma pessoa de fácil persuasão, e nem uma que toma decisões precipitadas. Ser vegana é uma parte importante da minha vida. Foi o que me fez me sentir conectada à natureza, aos animais, e à natureza de uma forma mais pessoal, mas após ver a quantidade de trabalho duro e dedicação que ocorre numa fazenda de leite, com limpeza, práticas sanitárias e amor pelos animais, eu tenho uma nova perspectiva que fundamentalmente desafiou algumas das minhas crenças centrais. Ninguém gosta que os outros lhes digam que está errado, mas por ter a cabeça aberta eu fui capaz de aprender e até mudar meus hábitos alimentares.

 Então, após 3 semanas do final do período que eu passei com o conselho de laticínios, e muita horas de pesquisa no tema da saúde e consumo de lácteos, eu comi meu primeiro iogurte em dois anos.

Feliz dia da terra."

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Respostas

  • Roge, Kenya e Fábio,

    Obrigada pela resposta e contribuição de vocês. 

    Fabio, eu compartilho muito esta sua ideia. Mas acrescento que não seria somente a produção familiar que seria o chamariz para se fazer o marketing da nossa produção. Na minha opinião, o mais importante neste caso, seriam os sitemas à pasto, com o uso de animais mestiços de Bos indicus (mais adaptados ao ambiente, e que sofrem menos estresse relacionado a clima e parasita). Acredito que um sistema como descrito acima, bem manejado, seja ele familiar ou não,já representa um ambiente de potencial bem estar aos animais. E esse BEM ESTAR seria a ferramenta alvo que se usaria neste marketing. 

    Aqui no Brasil, ainda é muito pequena a pressão da sociedade para a criação de animais sob um ambito voltado ao bem-estar, evitando-se assim a exploração de animais de produção de forma insensível aos "sentimentos" desses animais. No exterior, essa parcela da população é maior  é crescente. Sendo assim, eu vejo este marketing como uma oportunidade de mercado para a exportação de lácteos. Além disso, eu pessoalmente sou comovida com a questão do bem-estar animal, e sendo assim, ao estimular esse tipo de produção tenho um sentimento de estar fazendo a "coisa certa" do ponto de vista tanto econômico, quanto ético. 

  • Sim, Bruna, com certeza devemos explorar, positivamente, o marketing do nosso leite, pois geralmente só vemos marketing negativo. Eu vejo um potencial muito grande nos sistemas de produção familiar para um marketing positivo, pois além da questão social, as questões ambientais e de bem-estar animal podem ser pontos a serem explorados. Devemos trabalhar contra o estereótipo de que a produção familiar é arcaica e que não atende os padrões de qualidade. É claro que em muitos casos a baixa produtividade dos rebanhos e baixa qualidade do leite são empecilhos para o setor, mas tenho uma visão bem otimista em relação ao futuro. Creio que uma campanha esclarecendo a população de como o leite é produzido em propriedades familiares possa ajudar, mostrando a sustentabilidade destes sistemas de produção (como as figuras apresentadas no link que você indicou).

  • Bruna, parabéns pela matéria. É muito boa e é importante compartilharmos este tipo de experiência, especialmente agora que o mercado lácteo está sofrendo tanto com os ataques de grupos anti-dairy. Este é um grande marketing para o leite.

  • já toma leite e bom d+

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