Continuando nossas discussões, sobre melhoramento genético sustentável, vamos abordar um pouco sobre a consanguinidade em rebanhos de leite. Em algumas propriedades, a consanguinidade representa um sério problema devido à utilização de alguns poucos touros famosos e seus descendentes ao longo das gerações. Mas, o que é consanguinidade?
A consanguinidade é um sistema de acasalamento que consiste na união de indivíduos com certo grau de parentesco. Quando o indivíduo é consanguíneo há uma maior probabilidade de receber genes idênticos, já que seus pais são parentes, ou seja, apresentam um ou mais ancestrais comuns. Dessa forma, é possível, a transmissão e expressão de genes de efeito favorável ou desfavorável no indivíduo consanguíneo.
De acordo com alguns artigos disponíveis na literatura, para cada 1% de aumento da consanguinidade, em geral, existe uma redução, de aproximadamente 22 kg de leite. Nas raças Gir e Guzerá considerando o período de 1979 a 1998 houve um aumento do coeficiente de consanguinidade em 2,28% e 1,75%, respectivamente (Faria et al., 2009). A fim de esclarecer, o coeficiente de consanguinidade de um indivíduo é igual à metade do grau de parentesco entre seus pais.
Diante da experiência de vocês, como produtor ou profissional, a consanguinidade tem sido muito utilizada como sistema de acasalamento em rebanhos de leite? Quais vantagens e desvantagens vocês puderam observar?
Respostas
tem planteis consanguineos sem perda de peso ou lactacao exemplo gir zek gir eva gir zs gir ena
Glaucyana,
exatamente isso que eu queria entender. Se só temo hoje 1 touro BB a seleção para este item vai demorar um pouco não é? De qualquer forma este foi um exemplo. Queria entender como usar o sumario para melhorar meu rebanho. Na medida que o grupo de touros provados aumentar teremos mais touros para esta caracteristica.
Existem outros genes que mostram doenças e acho muito bom isso pois algumas raças como a holandeza tem uma fragilidade muito grande. Precisamos fortalecer os animais do Brasil selecionando para resistencia a algumas doenças.
No aspecto medidas lineares percebo que os sumarios mostram valores que pelo que eu entendo devem ser buscados ao selecionarmos nossos animais, estou certo? Um exemplo: altura da garupa. precisamos selecionar animais com garupa adequada para evitarmos problemas de parto. Acho que é assim que se usa não é?
Bom, existe uma tabela nos sumarios que mostra o touro e algumas caracteristicas. Dentro deste grafico temos valores de -3 a +3. Ai tenho muita dificuldade. Temos touros que são negativos em tamanho de teta. Então acho que ele deve reduzir as tetas nas filhas, estou certo?
Já outros são positivos para produção leiteira, então acredito que na média esse touro deve melhorar a produção leiteira em um valor semelhante ao PTA do touro.
Só falei o que acho mas não sei se está certo. Com um animal de exemplo poderemos discutir detalhes.
Oi Carlos,
Obrigada pelos artigos.
Vou ler e continuamos nossas discussões.
Um abraço,
Glaucyana.
Carlos Henrique Mendes Malhado disse:
Oi Glaucyana,
Estou disponibilizando os dois artigos que comentei.
Se alguém se interessar tenho bastante artigos discutindo endogamia.
Abraços a todos,
Carlos
Glaucyana Gouvêa dos Santos disse:
Carrillo&Siewerdt(JAnimSci2010) (1).pdf
ThompSON et al. 2010.pdf
Olá Sidney,
Suponho que você esteja falando da raça Girolando, com a qual você trabalha em sua propriedade.
Em consulta a duas teses realizadas no Brasil com a raça Girolando (Rodrigues, 2006) e também, Girolando e Holandês (Lima, 2005), a frequência do alelo A foi maior do que a do alelo B para o gene da kappa-caseína. Ou seja, a maior parte das vacas, nos rebanhos estudados, apresentaram genótipos AA (80% e 66% respectivamente), seguidas por vacas com genótipos AB (20% e 32%) e BB (0 e 2%).
Inicialmente, para pensarmos na seleção para o alelo B seria interessante utilizar touros BB, mas diante do número reduzido desses touros poderia utilizar touros AB. O processo de seleção seria mais lento e haveria menor probabilidade da ocorrência de animais BB. Mas, de qualquer forma, já representaria algum ganho, com maior teor de proteínas no leite de vacas AB em relação à vacas AA.
De acordo com trabalhos que vêm sendo publicados desde a década de 90, o uso de leite de vacas com genótipo BB para kappa-caseína, resulta em menor tempo de coagulação para o preparo de queijo, formação de coágulo com maior densidade, assim como maior produção de queijo em relação ao leite de vacas com genótipo AA para kappa-caseína. Além disso, vacas com genótipo BB para kappa-caseína e BB para beta-lactoglobulina produzem leite com maior composição proteica, aumentando o rendimento de fabricação do queijo.
É importante considerar também o preço do sêmen a ser utilizado além da existência de pagamento diferenciado pelo leite de melhor qualidade.
Seguem os links das teses:
http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/bitstream/1843/SSLA-7U5...
YgorViniciusReadeLima.pdf
Sidney Alves Bastos disse:
Olá Carlos Henrique,
Muito interessante os resultados apresentados em sua discussão. Será que você poderia disponibilizar o link ou os trabalhos para download aqui no Repileite?
Assim como foi bem discutido por você é importante conhecer os efeitos da endogamia, sendo possível utilizá-la como ferramenta para o melhoramento genético ou buscando evitá-la quando percebidos os efeitos negativos no rebanho.
Obrigada!
Carlos Henrique Mendes Malhado disse:
Falando em desenvolvimento genético percebi que no ultimo sumario de touros uma das caracteristicas analisadas é a capacaseina. O interessante que só encontrei um touro homozigoto, para esta característica. Se essa característica é interessante vai ser muito demorado eu ter o rebanho com os alelos iguais pois 99% dos touros são heterozigotos. Imagino que minhas matrizes também sejam heterozigotas.
Enfim, como planejar esse melhoramento? Será que estas características já estão bem dominadas para que façamos esta escolha?
Oi a todos,
Vou tentar ajudar.
É verdade que a maioria dos trabalhos mostram os prejuízos da endogamia sobre muitas características de importância econômica. Nós chamamos isso de "Depressão por endogamia".
Contudo, a endogamia é prejudicial em valores elevados, por exemplo, acima de 20 - 25%. Tem muitos trabalhos que mostram que em níveis moderados (por volta de 7%), e endogamia pode ter efeitos benéficos sobre a produção (Thompson 2010).
Tem um trabalho muito recente com bovinos de corte (e acredito que não seja muito diferente de bovinos de leite), em um rebanho com alta e acumulativa endogamia, que foram necessárias 7 gerações de endogamia para anular o progresso genético em 1 geração de seleção (Carrillo and F. Siewerdt, 2010). Assim, uma fraca seleção pode anular a depressão ocasionada por várias gerações de acasalemento endogamicos.
Finalizando... endogamia não é apenas vilã. Ela pode trazer benefícios, sem bem utilizada.
Um abraços,
Carlos
Boa tarde Sidney!
Seja bem-vindo novamente ao fórum do Melhoramento.
No primeiro fórum de melhoramento genético sustentável você comentou que em sua propriedade predominavam animais mestiços e com a recente implantação da IA, foi possível utilizar sêmen de outro touro, além da monta natural, utilizando o touro "fujão" da propriedade.
A partir do cruzamento entre animais puros das raças Gir e Holandês, adotando o sistema de cruzamento como o alternado simples, seria possível a estabilização em 5/8 Holandês. Desde que esses animais fossem acasalados entre si dariam origem ao Girolando (5/8 HOL 3/8 GIR). Seguem os diagramas para maiores esclarecimentos.
Fonte: http://www.girolandoms.com.br/download/arquivos/estrategia_cruzamen...
Quando falamos em grau de consanguinidade de um animal, esse varia de acordo com o grau de parentesco entre os animais acasalados, ou seja, o acasalamento entre meio-irmãos (filhos de um mesmo touro ou vaca) poderia ocasionar mais problemas do que o acasalamento entre primos (avós em comum), por serem parentes mais próximos. Dessa forma, a consanguinidade surge em um rebanho quando são acasalados animais aparentados, independente da “distância” entre eles no pedigree, pois, existe um ancestral em comum.
Quanto à sua pergunta “Se uso um touro para fazer as filhas e lá na frente use o neto dele seria problemático?”, isso dependeria do intervalo entre gerações dessas filhas e do neto daquele touro a ser utilizado. O grau de parentesco entre as filhas e o touro seria 50%, e entre o touro e seu neto seria 25%, aproximadamente, considerando que não há outros ancestrais comuns. Devido à diferença entre gerações seria possível acasalar o neto desse touro apenas com outras netas ou bisnetas desse mesmo animal, mas seria bom evitar esse tipo de acasalamento, priorizando outros touros e aumentando a variabilidade genética do rebanho. Se os netos fossem acasalados, o grau de parentesco entre eles seria 6,25% e a consanguinidade da progênie estaria estimada em 3,125%, considerando que o touro, avô dos animais a serem acasalados, não fosse consanguíneo (sem ascendente comum com a vaca a qual tivesse sido acasalado).
Mesmo que inicialmente não fossem percebidos defeitos ou doenças nesses animais eles carregariam “genes” vindos dos seus ancestrais, e quando acasalados, haveria maior possibilidade desses genes se “encontrarem”, e se expressarem na progênie.
É essencial ter o controle do pedigree dos animais do seu rebanho e dos touros a serem utilizados para a realização dos acasalamentos. Também é interessante fazer o controle zootécnico, pois, alguns touros acasalados com determinadas vacas podem render ou não boas progênies. Dessa forma, fica mais fácil escolher os touros a serem utilizados no rebanho além de direcionar melhor os acasalamentos.
Espero que tenha ajudado!
Já estou trabalhando também nos posts dos sumários...
Um abraço e até breve!
Glaucyana.
Bom dia Sidney!
Fico feliz que esteja tão interessado na publicação dos sumários. Após o lançamento vou fazer postagens com instruções para a leitura do sumário e estarei sempre a postos para tirar as dúvidas.
O sumário da raça Girolando será lançado na Megaleite (1 a 8 de julho) e assim poderemos tirar dúvidas específicas!
Até logo!
Um abraço,
Glaucyana.