Olá membros da REPILEITE.
Gostaria de provocar uma discussão e espero a contribuição de vocês.
Na sua opinião, quais fatores, em ordem de importância foram os principais impulsionadores da modernização do setor leiteiro pós-década de 90?
Abertura comercial e concorrência internacional
Mudança na legislação com novas exigências para a produção e comercialização de lácteos
Implementação do Mercosul
Rearranjo da cadeia produtiva com maior concentração de agentes
Políticas públicas (crédito etc)
P & D
Dê a sua opinião! Comente!
Abraços! Cristina
Respostas
Olá Rodrigo, seu desabafo está mais relacionado à continuidade das políticas públicas, não é? Pelo que vejo e como resultado da minha pesquisa, houve mesmo uma desaceleração de recursos voltado para questões importantes que não só a modernização da agricultura. Poderíamos até dizer que "nunca antes nesse país" houve tanta oferta de crédito, mas na minha opinião, falta saber o que fazer com ele, ou seja, programas mais dirigidos para os mais diversos públicos. Obrigada por sua participação!
RodrigoTavares disse:
Está cheio de fazendas improdutivas no Brasil que estão a venda e o governo não tem uma linha de credito para isso, seria melhor vender com credito a juros pagaveis, do que doar terras pra pessoa lavrar escritura e depois sair vendendo como acontece com os "sem terra"
Não adianta também o governo doar terras, 2 vacas, galinhas.....e depois quando o produtor for vender algo sai de "Graça", porque o governo não tem uma politica séria voltada pra agricultura, deixando o pequeno nas mãos dos atravessadores.
Prezados participantes da pesquisa e membros da Repileite:
Gostaria de agradecer a participação de todos na pesquisa, foi muito produtivo o debate e posicionamento de vocês sobre a questão apresentada!
Aproveito para desejar-lhes Boas Festas e que 2014 seja um ano de muitas realizações!
Grande abraço, Cristina
Ronaldo,
O produtor que sai da atividade é aquele denominado pelo Dr. Paulo Martins como patrimonialista. Ou seja, aquele que recebeu a terra como herança, ou que resolveu ser produtor. Entretanto, é aquele que não investe, ou que a atividade não tem retorno financeiro, mal dá para honrar os custos variáveis. Na verdade, os custos fixos não são apropriados, e quando ele percebe não tem como fazer investimentos e portanto, vai se descapitalizando. Este não é o investidor da atividade e portanto, não tem como sobreviver nela. Na opinião do Dr. Paulo, sobrevivem 2 tipos: o produtor de economia familiar e o investidor, com conceito empresarial. Este é o mesmo modelo q se vê em todo mundo. Familia produzindo ou empresário, não há espaço para quem brinca de produzir, pois produtor este estará fora do mercado.
Como produtor familiar fica a definição da Lei n. 11.326, de junho de 2006 que estabeleceu as diretrizes para a formulação da política nacional da agricultura familiar e empreendimentos familiares, em seu texto descreve o perfil destes como,
"Art. 3o Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos:
I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos fiscais;
II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;
III - tenha percentual mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento, na forma definida pelo Poder Executivo; (Redação dada pela Lei nº 12.512, de 2011)
IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família (BRASIL, 2012).
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Obrigada pela participação!!!
Prezada Maria Cristina,
Eu li o artigo do Dr. Paulo, muito bom mesmo, mostra a realidade que é vivenciada no campo. Quem quer continuar na atividade está se esforçando para crescer, pois a outra opção é deixar o campo e ir para as cidades. Pena que a maioria sempre escolhe o caminho que parece ser mais fácil.
Maria Cristina Drumond e Castro disse:
Caro Márcio,
Não sou contra o pequeno produtor, mas temos de ser realistas, com 50, 100 litros/dia não dá para sustentar uma família, ou o sujeito vai para a cidade ou vai aumentar a produção. Portanto não existe uma solução para manter esses pequenos no campo, vão desaparecer sim, a não ser que entre uma crise e o desemprego volte a atingir níveis altos. Somente assim volumes tão pequenos podem ser opção de renda.
Márcio e Ronaldo,
Hoje estive com o Dr. Paulo Martins na Embrapa Gado de leite e discutimos sobre esta questão. Apesar de vários ensaios sobre prognósticos já publicados a respeito e cenários de 10, 20 anos ... muito do que se foi pensado acabou não se concretizando na prática. Isto porque, segundo ele, o País produz o leite para atendimento da demanda doméstica, e a idéia de um país exportador foi mais uma daquelas previsões que não deram certo. Como dizem: "Não vingou". Quanto ao produtor de leite, a questão de quem vai sobreviver na atividade, está bem respondida pelo Dr. Paulo: Aquele que sobrevive da atividade, que tira dali seu sustento e o produtor que investe na atividade. São perfis diferentes. Como destacado pelo Márcio, aquele produtor que não irá para cidade para enfrentar uma realidade que não é a sua, esse fica. O Dr. Paulo ilusta isso bem crônica que escreveu para a Balde Branco. Leiam "Um jovem chamado Rodrigo". Quanto ao outro perfil, é de um produtor que investe na atividade, como negócio. Fora isto, iremos assistir aos que se descapitalizam e não gerenciam seu negócio, saindo aos poucos da atividade. Ou seja, como qualquer outro negócio, a receita é fazer as contas e administrar. Não há milagres!
Obrigada aos dois, Márcio e Ronaldo pela contribuição! Grande abraço!!!!
Ronaldo existe comprador para todo tipo de produção, mas se estamos falando sobre uma nova forma de produção de leite após abertura do mercado, estamos nos referindo em uma cadeia produtiva baseada "em tese" em novos arranjos tecnológicos, e exigentes em relação à qualidade e quantidade entregue. Um laticínio, por exemplo, irá preferir manter os produtores que lhe entrega com regularidade e qualidade o seu produto. É óbvio que existem outras cooperativas, ou diretamente pelos próprios produtores, que vendem leite fugindo à essas características à população ( mercado informal), isso eu percebi em minha pesquisa de tese tanto no Brasil quanto na Argentina, e devemos combater ativamente essa produção que não passa por fiscalização. A saúde dos consumidores está em jogo. E dificilmente um pequeno produtor com menos de 50 litros/dia conseguirá se adequar às exigências sanitárias e de qualidade, a começar pelo tanque de resfriamento que só passa a ser acessível acima de 100 litros/dia, o investimento que se faz na aquisição desse equipamento não se paga com uma produção pequena, a menos que ele estabeleça com outros vizinhos a utilização de um tanque comunitário mas também na prática produtores entregam sua produção com água, antibióticos e outras substâncias proibidas para fazer volume. O produtor que pratica tudo certo acaba sendo lesado pelo que não cumpre, e a cooperativa muitas das vezes não cumpre com o seu papel de coletar amostras e faz vista grossa recebendo o produto e beneficiando-o. Eu desafio você Ronaldo, a me garantir um emprego digno com renda que subsista o produtor, sua esposa e seus filhos na grande cidade para alguém que nunca teve experiência de trabalho fora daquilo que ele herdou de sua família, nem mesmo um nível escolar mínimo para galgar um bom emprego. Numa entrevista, um pequeno produtor me disse "prefiro ficar aqui na roça gerando riqueza do meu jeito, que ir morar na cidade gerando pobreza catando latinha". Isso me fez refletir, que sim, devemos manter os pequenos no campo, eles se sentem dignos trabalhando lá, herdaram um trabalho que é um misto de tradição, lembrança dos seus antepassados, e de trabalho que possa lhe devolver dignidade e renda. Acordar 4 horas da manhã para ordenhar uma vaca não deve ser tão pior que acordar às 4 da manhã para tomar um trem lotado de um subúrbio de uma grande cidade inchada de tantos problemas 365 dias, vale pensarmos nisso?!
Prezado Marcio,
Não creio que exista esta exclusão do pequeno produtor, por parte das empresas compradoras ainda tem quem compre até produções inferiores a 50 litros/dia, por outro lado o que não tem mais é gente interessada em produzir pequenos volumes diários. Temos que lembrar que o nível de desemprego hoje é muito baixo, porque alguém vai querer trabalhar 365 dias por ano para produzir 50 ou 100 litros diários, se ele pode trabalhar na cidade tendo uma renda melhor e trabalhando menos?
MarcioSilva Borges disse:
Olá Márcio,
Acredito que o processo de exclusão seja o reflexo de uma mudança estrutural da cadeia láctea como um todo. Nos anos 90 foi bastante intenso na medida em que o rearranjo envolvendo a indústria e distribuição contribuiu para a seleção envolvendo escala e qualidade. De qualquer forma, o produtor de hoje não é mais aquele em vários sentidos. Existe maior oferta de instrumentos que viabilizem a produção, seja pela farta disponibilidade de crédito, ou por um número crescente de novas tecnologias que estão disponíveis para ampliar consideravelmente a produção. Muitas barreiras foram derrubadas, mas outras continuam intactas. Para mim, uma questão crucial é transformar o estoque de tecnologias em produto. E aqui não estamos falando só em escala, mas em qualidade. Capacidade de atendimento da demanda doméstica e a geração de excedentes.
Concordo com você que este é um desafio multi-institucional, que envolve universidades, instituições de pesquisa e todos os elos da cadeia produtiva.
Com relação à Argentina, os produtores que entrevistei estão em situação mais confortável, satisfeitos com a atividade. A fase da "sojização" passou e deixou um legado importante: a monocultura não é desejável para qualquer país que deseja ser sustentável ou se tornar um "player" no comércio internacional. A lição aprendida serviu para abrir os olhos diante de promessas de curto prazo. Eles me asseguraram que o leite continua sendo um excelente negócio.