Em 2011, deparamo-nos com uma nova praga em Goiás que trouxe muitos prejuízos aos pecuaristas. As notificações apareceram lentamente: primeiro em Cabeceira de Goiás, depois Gouvelândia, Quirinópolis, Caçu e Jataí.
A mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans) ocorre em todo o mundo, principalmente nas proximidades de confinamentos e estábulos de eqüinos e bovinos, devido à necessidade de resíduos vegetais em fermentação ou decomposição, para postura e desenvolvimento larval.
Porque a mosca está associada à indústria canavieira e porque decisões de caráter ambiental tornaram a reprodução deste inseto mais vigorosa, chegando a infestação?
Em 1978 uma Portaria do Ministério do Interior n. 323, de 29 de novembro de 1978, proíbe o lançamento de vinhoto/vinhaça em cursos águas com os seguintes dizeres: “a partir da safra de 1979/1980, fica proibido o lançamento, direto ou indireto, do vinhoto em qualquer coleção hídrica, pelas destilarias de álcool instaladas ou que se venha a instalar no País”. Uma decisão importante, que a cada dia se agravava a situação, das nascentes, riachos, rios e lagos pela eutrofização (aumento excessivo de algas devido à grande quantidade de matéria orgânica), causando desequilíbrio ecológico com mortalidade de peixes e outros animais. A vinhaça, rica em matéria orgânica, disponibiliza excessiva quantidade de nutrientes para microorganismos aumentando exageradamente sua população.
Neste momento, uma finalidade deveria ser dada a vinhaça e o meio encontrado foi a criação de áreas de sacrifício, próximas às destilarias, que recebiam grande quantidade do resíduo, salinizando o solo. Porém a vinhaça é uma fonte de potássio (K) e outros nutrientes, a ser considerada na atividade agrícola, com dosagem adequada para seu uso como fertilizante.
Tudo parecia normal até a chegada da proibição da queima do canavial. Os canaviais onde a colheita é manual, a queima pré-corte é feita para facilitar o trabalho dos cortadores, além de diminuir a população da mosca. Com a proibição da queima, de forma a diminuir riscos e gastos, grandes indústrias sucroalcooleiras, adotaram a colheita mecanizada que deixa grande quantidade de resíduo vegetal no campo.
A restrição legal do despejo de vinhaça em corpos d’água associada a não queima pré-corte do canavial, obrigou as indústrias a fertirrigar áreas contendo grande quantidade de palhada de cana, transformando-as em grandes maternidades para as mosca dos estábulos. Assim foi criado um problema econômico/social para os pecuaristas vizinhos às terras das usinas.
Vale ressaltar: qual a origem das moscas que usam as áreas fertirrigadas das usinas como berçário? Durante o período em que não ocorre a irrigação, o que mantém uma população ativa são as propriedades rurais, principalmente as que têm alimentação no cocho sem o devido descarte dos resíduos. Outras fontes de mantença da população destes insetos são as montanhas de cama de frango, torta de filtro e bagaço, em fermentação. Encontramos moscas até nos lixões municipais.
Neste mês de novembro/2015 estivemos em Quirinópolis para discutir com produtores e técnicos do setor sucroalcooleiro esse problema que se agrava em Goiás e em outros estados. Aparentemente as opiniões estão agora voltadas para a tentativa de legalizar o retorno as queimadas da palhada para controlar estas infestações.
Qual sua opinião a respeito deste assunto?
Nas propriedades rurais:
- Manter as instalações limpas, sem resíduo acumulados, seja fezes ou restos de comida;
- Destinação adequada aos resíduos - espalhamento ou compostagem;
- Revolver compostagem, duas vezes por semana e drenar a água da chuva;
- Verificar a eficácia de vários inseticidas utilizados no combate às moscas adultas, antes de seu uso sistematizado, verificando principalmente período de carência e toxicidade;
- Usar inseticidas na dose correta e com origem reconhecida e registro para uso em animais e realizar o controle químico dentro do programado;
- Procurar a assistência técnica;
- Envolver todas as propriedades no entorno do problema, combatendo assim a possível manutenção da população de moscas;
Nas áreas das usinas:
- Distribuição fracionada da vinhaça, em duas etapas com intervalo adequado entre aplicações, para rápida absorção;
- Realizar, o trato cultural de incorporação da palha de cana pós-colheita ao solo após a primeira aplicação de vinhaça, principalmente em casos de infestações intensa;
- Não distribuir vinhaça quando o solo ainda estiver encharcado;
- Manutenção dos engates e tubulações, para evitar vazamentos;
- Evitar acumulo de torta de filtro e bagaço nos pátios e caso não seja possível, fazer o revolvimento;
- Cobrir com lona preta, montes de material vegetal.
Respostas
Neste domingo 28/08/2016 foi apresentada uma reportagem muito interessante sobre esse tema no Globo Rural...vale a pena conferir:
http://g1.globo.com/economia/agronegocios/globo-rural/videos/t/edic...