O crescimento da população mundial e do seu poder aquisitivo tem promovido aumento acentuado da demanda por alimentos de origem animal. A produção mundial de carne está projetada para aumentar de 229 milhões de toneladas em 1999-2001 para 465 milhões de toneladas em 2050, e a produção de leite de 580 milhões para 1.043 milhões de toneladas nesse mesmo período (FAO, 2006). Apesar da reconhecida importância da agropecuária na produção de alimentos e geração de renda, nos últimos anos tem ocorrido aumento das discussões sobre o impacto ambiental das atividades pecuárias e agrícolas, principalmente relativas ao aquecimento global, destacando-se a emissão de metano entérico pelos ruminantes.
A mídia tem abordado o assunto rotulando os bovinos como grandes vilões. Na maioria das vezes, estas críticas são infundadas tecnicamente, já que pesquisas tem apontado a necessidade do desenvolvimento de metodologias acuradas e da geração de bancos de dados específicos para os sistemas de produção de cada região (país ou bioma).
O objetivo deste fórum é incentivar a discussão relacionada a emissão de gases de efeito estufa na pecuária, abordando assuntos como: metodologias de mensuração de metano entérico; estratégias de mitigação relacionadas a nutrição e manejo dos animais; resultados de pesquisas nacionais e internacionais sobre o assunto e; inventário de gases de efeito estufa relacionados a pecuária.
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Respostas
Sistemas in vitro para prever a produção de metano não devem substituir o método in vivo
O sistema de produção de gases in vitro prevê a produção de metano com precisão razoável, os valores obtidos são ligeiramente subestimados em comparação com valores observados in vivo. Sendo assim o sistema in vitro pode ser útil na triagem de ingredientes e em avaliação de aditivos, entretanto estudo de efeito de mitigação de metano realizados in vitro, devem ser confirmados in vivo
Evaluation of a gas in vitro system for predicting methane production in vivo
Autores: Danielsson, R.; Ramin, M.; Bertilsson, J.; Lund, P.; Huhtanen, P.
Disponível em: <https://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(17)30823-8/fulltext>
Extrato do fruto do Ginkgo como um aditivo para modificar a fermentação e a microbiota do rúmen e mitigar a produção de metano.
A pecuária contribui significativamente para a economia mundial, entretanto, a produção animal também é responsável por contribuir substancialmente nas emissões de gases de efeito estufa como metano (CH4), contudo pesquisas têm sido realizadas buscando atender essa parcela de produção sustentável objetivando a mitigação desses gases. Estudos têm demonstrado que o uso de aditivos provenientes de extratos de plantas na alimentação animal tem proporcionado um melhor aproveitamento do alimento, e consequentemente a redução do metano entérico. No Japão um estudo utilizando o extrato de duas principais cultivares do fruto do Ginkgo (Ginkgo biloba) o Kyu Ju e o Toguro em diferentes quantidades, foram testados em laboratório sobre o fluido ruminal de duas vacas da raça holandesa e perceberam que quando utilizado o nível de extrato 1,6% da cultivar Kyu Ju, o mesmo apresentou um alto potencial como aditivo alimentar, além da redução na produção do metano entérico.
Title: Ginkgo fruit extract as an additive to modify rumen microbiota and fermentation and to mitigate methane production
Authors:S. Oh, R. Shintani, S. Koike, and Y. Kobayashi
hppt: www. Journal of Dairy Science, Vol. 100, Issue 3, p1923–1934
Híbrido de milho melhorado geneticamente reduz a emissão de metano
Em pesquisa realizada na província de Quebec no Canadá no ano de 2017, pesquisadores observaram que as vacas emitiram a mesma quantidade de metano, porém, as vacas que receberam silagem de milho de nervura marrom (que é de melhor qualidade nutricional e melhor aproveitada pelo animal) em vez da convencional, consumiram mais alimento e produziram mais leite e com isto a emissão de metano por quilo de alimento consumido foi 7,9% menor quando comparado as vacas alimentadas com silagem de milho convencional e já emissão de metano por quilo de leite produzido foi 11,3% menor quando comparado as vacas alimentadas com silagem de milho convencional. Concluindo que emissões de metano entérico de vacas leiteiras podem ser mitigados melhorando a qualidade das forrageiras da ração, pois precisaria de menos vacas para produzir a mesma quantidade de leite e com menos vacas teríamos uma menor emissão de metano.
Title: Methane production, ruminal fermentation characteristics, nutrient
digestibility, nitrogen excretion, and milk production of dairy
cows fed conventional or brown midrib corn silage
F. Hassanat; R. Gervais; C. Benchaar.
Journal of Dairy Science
http://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(17)30096-6/pdf
Raças e dietas distintas podem apresentar produção de metano semelhante?
Pesquisadores na Faculdade Rural da Escócia com o intuito de estudar se há diferença na produção de metano (CH4) entre duas raças e duas dietas distintas, utilizaram 80 bovinos, esses Charolês mestiço e Luing puro, e dietas: mista (50%) concentrado e (50%) silagens, e concentrada com (7,9%) palha e (92,1%) concentrado. A produção de metano na dieta mista em relação a dieta concentrada foi maior em 41,5 g/dia, entretanto não houve diferença no ganho médio diário dos animais, comparando a produção entre as raças, essa foi semelhante. A população de microrganismos produtores de metano e a produção de dióxido de carbono (CO2) foi similar. A produção diária de CH4 foi diferente da relação de CH4 e CO2, que poderia ser um parâmetro de avaliação, demonstrando que a correlação não é precisa e a diferença pode estar relacionado com a variação entre os animais.
O estudo descrito está disponível em : https://www.cambridge.org/core/journals/animal/article/impact-of-di...
Adicionando fontes lipídicas na dieta de ruminantes com intuito de mitigar a produção de metano Entérico
L.G. Rossia , G. Fiorentinia,⁎ , B.R. Vieiraa , A. José Netoa , J.D. Messanaa , E.B. Malheirosa , T.T. Berchiellia,b
A produção de metano entérico oriundo da fermentação ruminal vendo sendo uma preocupação tanto para o meio ambiente quanto para a produção de ruminantes, e com isso as instituições de ensino e pesquisa vem pesquisando formas para mitigar a produção desse metano entérico e consequentemente melhorar a produção animal , a Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista (UNESP) vem trabalhando com fontes lipídicas na inclusão de dieta para ruminantes com intenção de reduzir as emissões de metano entérico e de aumentar a eficiência energética para o animal. Utilizando a soja moída como fonte lipídica e a casca de soja como fonte de energia em substituição do milho os resultados obtidos foram na redução de metano(CH4) entérico em 28% expressa em g CH4/ em novilhos nelores apresentando resultados significativos no consumo e nos demais índices zootécnicos avaliados.
Título: Efeito da soja e do amido moídos sobre a ingestão, digestibilidade, desempenho e produção de metano de touros Nelore
Animal Feed Science and Technology
Disponível em : https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0377840117301694
Uma avaliação econômica e de emissões de gases de efeito estufa de sistemas de produção leiteira de novilhos e touros à pasto
Brian Murphya,b, Paul Crossona, Alan K. Kellyb, Robert Prendivillea
Animais abatidos aos 19 meses de idade com terminação em pastagem é considerado o sistema de produção mais lucrativo e que melhor contribui ao meio ambiente na União Européia, com emissões moderadas de gases de efeito estufa, comparado em relação aos animais abatidos com 15 e 24 meses, mostrando que manter animais em pastagem durante a terminação juntamente com crescimento compensatório é economicamente viável devido à redução dos custos de produção.
Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0308521X16306412...
O trigo é mais potente que o milho ou a cevada para a mitigação dietética das emissões de metano entérico de vacas leiteiras
O setor agropecuário ainda é visto como um vilão quando o assunto é emissão de gases do efeito estufa. No entanto, o que não é informado com clareza é que as emissões oriundas desse setor, muitas vezes se pagam através da “ciclagem” que ocorre no sistema. Com base nesse cenário, diversas pesquisas tem sido realizadas em busca de resultados promissores, visando a mitigação da emissão dos gases responsáveis por contribuir com o aquecimento global. Estudos vem avaliando estratégias nutricionais para mitigar a emissão dos gases de efeito estufa, como exemplo, Moate et al., (2017), que testaram três fontes de amido (trigo, milho e cevada) em vacas de leite para determinar o efeito da alimentação nas emissões de metano. Os autores observaram que o trigo teve um efeito inibitório específico sobre as emissões, produção e intensidades de metano, sendo um alimento com grande potencial mitigador. No entanto, estes resultados estavam associados à redução da concentração de gordura no leite, o que não é muito desejado. Com isso, percebemos que a busca de estratégias para reduzir a emissão de metano no setor da agropecuária, deve ser continuada para que possamos atingir um equilíbrio sustentável entre a produção animal e o meio ambiente.
Moatet, P.J.; Williams, S.R.O.; Jacobs, J.L.; Hannah, M.C.; Beauchemin, K.A.; Eckard, R.J.; Wales, W.J. Wheat is more potent than corn or barley for dietary mitigation of enteric methane emissions from dairy cows. J. Dairy Sci. v.100, n.9, p.7139–7153, 2017.
In vitro gas and methane production of silages from whole-plant corn harvested at 4 different stages of maturity and a comparison with in vivo methane production
Produção in vitro de gás metano de silagens de milho integral colhidas em 4 diferentes estágios de maturação em comparação com produção in vivo de metano
Pesquisas por alternativas economicamente viáveis para mensuração de CH4 entérico de ruminantes se fazem necessárias, uma vez que o padrão ouro, as câmaras respirométricas, tem alto custo. Assim, pesquisadores avaliaram a relação entre a produção de CH4 in vitro e in vivo de vacas alimentadas com rações à base de silagem de milho, em quatro estádios de maturação.
- Não houve diferença entre os estádios de maturação do milho para silagem em ambas as técnicas.
- A técnica in vitro não foi eficaz para avaliar a produção de metano entérico de vacas alimentadas com silagem de milho.
Disponível em: http://www.journalofdairyscience.org/article/S0022-0302(17)30784-1/pdf
Produção de metano entérico em vaca leiteira em lactação com alimentação contínua de óleos essenciais ou alimentação rotativa de óleos essenciais e ácido láurico.
Enteric methane production in lactating dairy cows with continuous feeding of essential oils or rotational feeding of essential oils and lauric acid.
Os estudos foram realizados em Wageningen, Holanda, utilizaram quatro pares de vacas sendo quatro primíparas e quatro multíparas, com o objetivo de comparar a extensão e a duração da mudança na emissão de CH4 avaliando o desempenho das vacas recebendo os aditivos óleos essenciais continuamente e outro grupo recebendo óleos essenciais e ácido láurico com rotatividade semanal. Isso levando em consideração que a alimentação contínua resultaria em uma diminuição de emissão de CH4, enquanto que a rotação causaria um declínio persistente de emissão de CH4. Para os animais que passaram por câmera respirométrica, foram avaliados amostras de ração e fezes, produção de leite e sua composição, e também amostras do conteúdo ruminal. No entanto, como resultado para ambos os tratamentos resultou em um declínio breve no rendimento e intensidade de emissão de CH4, mas não melhorou a persistência da mitigação de CH4 comparada com a alimentação continua.
KLOP, G.; DIJKSTRA, J.; DIEHO, K.; HENDRIKS, W. H.; BANNINK, A. Enteric methane production in lacting dairy cows with continuous feeding of essential oils or rotational feeding of essential oils and lauric acid.J. Dairy Sci. 100: 3463-3575.