A inseminação artificial (IA) com o uso de sêmen congelado é uma técnica reprodutiva estabelecida comercialmente desde a década de 1960. Enquanto nos Estados Unidos mais de 80% do rebanho leiteiro é inseminado, no Brasil ainda estamos bem longe disso. Considerando-se a venda de doses de sêmen, estima-se que apenas cerca de 7% do rebanho seja inseminado. Na Zona da Mata de Minas Gerais, em torno de 27% dos produtores de leite adotam a IA, o maior índice dentre as regiões do Estado.

 

A falta de “popularidade” da IA no Brasil tem sido creditada a problemas como baixa qualificação da mão de obra e à dificuldade na detecção de cios. Com baixa eficiência, o produtor não obtém retorno com a técnica, que passa ser cara. Isso explica porque é comum encontrar propriedades que abandonaram o uso da técnica. Esses são grandes desafios para a adoção da IA, em qualquer propriedade, mas que não justificam seu uso em tão reduzida escala.

 

Prefiro pensar de outra forma. A IA é uma técnica reprodutiva com o objetivo de promover melhoramento genético. De fato, é a melhor ferramenta de melhoramento disponível.  Mas a genética precisa de meio para se expressar. Não adianta ter a melhor vaca, mas não ter uma boa alimentação ou um adequado controle sanitário do rebanho, pois a genética não vai se expressar. Também não se pode imaginar que propriedades que não tenham uma rotina de registro e anotação de eventos como nascimento, cobrições e controle leiteiro possam ter sucesso na IA. Ou seja, as propriedades precisam se estruturar melhor antes de começarem a inseminar.

 

Diante dessas colocações, questiono quais seriam os motivos da IA ainda ser uma técnica de uso limitado no Brasil? Seria pelo fato da tecnologia ainda não ter sido efetivamente transferida ou as fazendas ainda não estão estruturadas? Por quê os produtores que já adotaram a IA a abandonaram? Qual a realidade das fazendas da sua região?

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Respostas

  • O problema geral não é técnica de inseminação e sim a falta de mão-de-obra, conheço grande e medias propriedades que desistiram da técnica porque a mão de obra não fazia o serviço, deixando as vacas todas secas. assim o produtor logo abandona a inseminação, já visitei fazendas que os encarregado deixaram mais de 20 animais vazios imagina o prejuízo.

  • com certeza a popularidade da IA se estendia apenas para os maiores produtores, porem com as informacoes disponiveis em todo luga, principalmente em canais rurais, o que falta acredito eu, é mao de obra qualificada, por exemplo, eu faço esse trabalho na minha comunidade rural ha 1 ano aproximadamente, tenho tido resulltado, devagar, mas assim vem chegando mais pessoas querendo fazer o melhoramento, nao so genetico, mas tbm alimnetar... estou satisfeita com o resultado, inclusive ja tenho pequenos proprietarios que exigem sexado, resultados excelentes...

  • Trabalho na Extensçao Rural e ATER com pequenos produtores rurais no Mato Grosso.

    Já fazem mais de 10 anos, conseguimos através do PRONAF INFRAESTRUTURA um recurso a fundo perdido e fizemos a Aquisição de 15 Conjuntos completos para realizar a IA e cada botijão com 600 doses, portanto 9000 doses de sêmen para gado leiteiro ( Holandes, Gir , Pardo Suiço , Jersey tec, ).

    Foram treinados na técnica da IA 2 produtores por comunidade e tinhamos o apoio de 2 patrulhas mecanizadas para dar apoio na formação,reforma de pastagens e formação de capineira.

    O programa não foi para a frente apesar de toda esta infra-estrutura.

    Na minha opinião não existe por parte do Governo uma Política de preço-minimo para a Pecuária Leiteira.

    Logo o produtor entra e sai da atividade conforme a flutuação dos preços pagos pela indústria.

    Na minha região a maior dificuldade é a mudança do perfil de "TIRADOR DE LEITE PARA PRODUTOR DE LEITE", o que é muito diferente.

    Resumindo , hoje os produtores colocam Touro Nelore para produzir bezerros de melhor qualidade para vender aos engordadores.

    Um fato que está deixando os produtores de leite mais discrentes na minha região é o preço do leite na entressafra ( seca ) baixar a cada 30 dias.

    E deixo a seguinte pergunta : E SE A IN 51 TIVESSE ENTRADO EM VIGOR EM JULHO PASSADO, QUANTOS PEQUENOS PRODUTORES TERIAM QUE SER EXPULSOS DA ATIVIDADE

  • Pessoal,

     

    Excelente discussão. É interessante observar que alguns comentários, embora tenham sido feitos por técnicos e extensionistas do estado de Minas Gerais, poderiam ter sido feitos por extensionistas do estado de Rondônia.

     

    Vou compartilhar os dados oficiais que temos. Para a produção de leite, segundo diagnóstico feito pelo SEBRAE em 2002, apenas 1,75% dos produtores usavam IA. 94,46% dos produtores utilizavam monta natural não controlada. Em 2006 foi feito novo levantamento, pela Embrapa Rondônia, junto aos produtores de leite das bacias leiteiras do estado e, em relação a IA,8,4% dos entrevistados relataram usar a IA. Sabemos que essa realidade mudou um pouco devido ao projeto Inseminar, executado pela Emater - RO, muito parceido com o descrito pelo Marco ANtônio de Moraes, da EMater-MG. Muitos produtores tiveram acesso a sêmen e a um patrimônio genético melhorado, mais especializado. Entretanto, como bem colocou a Fernanda, o que se vê são animais mais apurados (1/2 sangue, 3/4), que produzem muito pouco, com escore corporal baixo, pois não foi feito um trabalho global, focando alternativas de suplementação para a época da seca, por exemplo. Ou seja, nenhum programa, isoladamente, trará resultados no longo prazo. Acreditamos também que a não adoção de tecnologias pelos produtores passa sim pela falta de controles mínimos da propriedade.

     

    Para o gado de corte não é diferente: em estudo realizado por FIERO (2009), apenas 3,5% dos produtores, na média, adotam essa prática. As razões já foram apresentadas aqui pelos demais participantes desse fórum - são as mesmas.

     

    Acredito que cabe a nós pensarmos e adotarmos estratégias, com a participação dos produtores, para a melhoria de seus sistemas produtivos. Nenhuma ação de transferência de tecnologia é efetiva se não atuarmos junto com os produtores desde as etapas de planejamento das ações. E o mais importante, sob meu ponto de vista, é disseminar a prática de anotação de dados - assim ele consegue visualuzar as oportunidades que tem, e entender o porqu~e das tecnologias e as vantagens de sua adoção.

  • Bom dia a todos,

    Agradeço muito a participação de todos vocês. A cada postagem, temos alguns temas recorrentes.

    Gostaria de expressar uma opinião pessoal a respeito de dados de campo. Infelizmente, temos poucos dados de pesquisas de campo, que podemos usar como referência. A maior base de dados ainda é o Censo Agropecuário do IBGE, mas faltam diagnósticos específicos que retratem de forma mais detalhada a situação dos produtores de leite. Citei uma referência de 27% de propriedades que utilizam a IA na Zona da Mata, dado retirado do "Diagnóstico da Pecuária Leiteira do Estado de Minas Gerais", publicado pela Faemg em 2005, a partir de uma pesquisa de campo realizada pelo Prof. Sebastião Teixeira Gomes, da UFV. Foi realizada uma amostragem de produtores por extrato de produção e região do Estado de MG e é um ponto de partida para usarmos como referência. Assim, 12,9% dos produtores de leite de MG adotam a IA, sendo que sua adoção aumenta com a produção de leite diária, chegando a 23,08% de adoção da IA nas propriedades que produzem mais de 1000 l/dia. Dentre as regiões do Estado, a Zona da Mata tem a maior adoção, de 27,27%.

    Agora, existem outros dados da pesquisa que podem ajudar na nossa discussão. Cito aqui a frequência de produtores que realizam controles escritos: data da cobertura ou inseminação artificial, 43,60% em MG e 35,35% na Zona da Mata; data de nascimento do bezerro, 44,40% em MG e 36,36% na Zona da Mata; controle leiteiro, 19,90% em MG e 17,17% na Zona da Mata; e anotação de despesas e receitas com gado de leite, 18,70% em MG e 15,15% na Zona da Mata.

    Poucos de nossos produtores registram os dados zootécnicos e menos ainda, os dados econômicos. Assim, se não sabemos quem são as nossas vacas, quanto de leite elas produzem ou quanto custa este leite, será que adianta inseminar?

    Ou seja, como vários de vocês colocaram, é necessária uma abordagem de sistema. Não adianta querer adotar uma tecnologia sem uma base que garanta o seu sucesso!

    E vocês, o que acham?

    Abraço a todos
  • A utilização da IATF tem aumentado nos últimos anos, graças ao desenvolvimento e difusão dos protocolos comerciais, treinamento de novos profissionais e interesse crescente dos produtores. Tudo isso devido a percepção das vantagens trazidas por essa técnica.

    Segundo Carlos Fernandes, Médico Veterinário Mestre e Doutor em Reprodução Animal e Diretor Técnico da Biotran, as principais vantagens da IATF são:
    - Possibilidade de emprenhar fêmeas mais rapidamente;
    - Melhora no desempenho reprodutivo;
    - Eliminação do trabalho de detecção de cio;
    - Facilidade no manejo da IA;
    - Concentração do trabalho em dias predeterminados;
    - Aumento do número de animais inseminados;
    - Possibilidade de planejamento dos partos e da estação de monta subsequente.

    Apesar dessas vantagens, antes de se implantar o uso da IATF, é preciso que se conheça bem os princípios envolvidos na elaboração dessa técnica e sua adequação ao sistema produtivo. Carlos Fernandes alerta que "A IATF ou Inseminação Artificial em Tempo Fixo é uma técnica que visa facilitar o manejo da inseminação artificial e como qualquer outra técnica não pode ser aplicada em todas as condições de manejo existentes e merece uma detalhada avaliação de todas as condições que afetam seu sucesso."
  •   Caro Bruno,

    gostei muito da proprosta colocada por você. Parabéns! Gostaria de considerar que o número de 27% da propriedades da zona da Mata fazendo uso da IA me deixa muito impressionado. Como representante atuante na região não consigo encontrar esta informação de forma oficial. Me parece apenas pontual.

      Acho suas colocações pertinentes e lógicas, porém temos que considerar um outro cenário em que o número de propriedades que usam a IA é menor, algo em torno de 10 a 12 %.Sendo assim os argumentos referentes a mão de obra, qualificada ganha mais força. Falando em melhoramento genético vejo que muitas fazendas não sabem exatamente o que é, nem qual o real objetivo, sendo assim qualquer atividade econômica fica insustentável. Outro aspecto importante está relacionado ao custo de uma unidade produtora:poucas são as fazendas que sabem qual o custo real de se produzir leite, animais de reposição, vacas secas, enfim estamos longe de sabermos como gerir uma atividade econômica de forma objetiva. 

      Vejo que muitos já se expressaram e o Dr Rui colocou de forma precisa a dificuldade. Penso que irmos pelo lado do conhecimento do custo de cada setor pode ser um caminho, o colega da extensão rural, Luiz Carlos colocou de forma precisa a questão. A Dr. Fernanda diz com razão que considerarmos receitas de bolo o caminho vai ser o fracasso.

      Uso hoje alguns paramentros para considerar os meus clientes: aptidão da propriedade, aptidão do proprietário, existência de sucessão, disponibilidade de mão de obra, planejamento da fazenda, criação de bezerras, instalações, nutrição do rebanho ( 0 Dr. Walter do Balde Cheio diz que se nossas vacas tiverem o problema da fome resolvido elas são naturalmente mais produtivas)

      O assunto % de fazendas com uso de IA abre um leque enorme de colocações, sendo, por isso, apaixonante.

      Vamos colocar mais lenha nesta fogueira.

      Um abraço, Barone

  • sou pesquisador da embrapa, e ja trabalhei a campo  realizando ia e iatf em propriedades de corte  e leite.

    Os grandes entraves que ainda limitam a técnica de inseminação artificial acredito que sejam:  a mão de obra para implementação dos programas ( seja para aplicação de medicamentos, ou inseminação propriamente dita), e os índices de prenhez resultantes da técnica, sobretudo quando realiza-se iatf  em certas categorias animais ou se utiliza semen sexado.

    O problema de detecção de cios, têm sido superado com os protocolos de iatf, não se revelando um entrave grande para a aplicação da técnica

  • Creio que a IA ainda é uma técnica de uso limitado no Brasil, por não haver uma proposta de difusão da tecnologia. As empresas de sêmen, investem muito na logística de produção e distribuição, preocupam com venda de botijão e sêmen, mas considero pouco o que fazem à nível de prestação de serviço. Percebo que efetivamente tem-se o paradigma de que trata-se de uma tecnologia cara, não levando em consideração a relação custo x benefício da tecnologia. em relação à estrutura da propriedade, é claro que para adoção de tal tecnologia, ocorrerá mudanças comportamentais e de manejo ( alimentar ), que deverão ser implantadas paralelamente. O fato de ter muito abandono por parte das propriedades é que temos empresas no mercado preocupadas somente com à primeira venda, onde cursos de inseminadores são realizados no ato da entrega dos equipamentos e sêmen em horas, sem contar a prestação do serviço após venda. Há anos implanto Programas Municipais de IA, onde à base dos Programas são : capacitação e prestação de serviço. Realizamos no mínimo um Curso por ano com os novos participantes, para que os mesmos tenham condições de realizar à IA ( ou no mínimo de identificar o cio ). A Prefeitura como parceira mantém o Programa, adquirindo sêmen, luva, bainhas e o Inseminador, o qual realiza à técnica sem custo nenhum ao Produtor. Além da melhoria do rebanho leiteiro, percebemos que na Agricultura Familiar, as crias muita das vezes formam o capital que gira para subsistência das atividades da propriedade. No município onde trabalho no Sul de Minas, o Programa completará 05 anos de existência, controlo tudo, custo do Programa, Nascimento, para este ano, implantaremos um sistema de Certidão de Nascimento ( o que dará selará a credibilidade dos animais no mercado ).

    Acredito que um investimento por parte das empresas do ramo em Programas Comunitários de IA, aumentariam os motivos pra se usar a tecnologia, aumentaria o mercado consumidor de sêmen e/ou manteria ( sem o abandono da tecnologia por parte das  propriedades ), tornaria o uso da tecnologia mais acessível à um custo menor, digamos que um uso mais racional da tecnologia por parte das comunidades, Associações e Cooperativas.

    Acredito Muito na IA. ALIADO a Assistência Técnica, uso das recomendações de alimentação, criação de bezerras, manejo sanitário e etc.

     

    Marcos Antonio de Moraes, Extensionista Agropecuário EMATER-MG.

     

     

     

     

  • Boa tarde a todos!

    Muito interressante o rumo que a discussão tomou. O endereço muda, mas os problemas continuam iguais. Acho que é isso que temos que considerar. O prodtutor deve primeiro dominar o que tem, conhecer o rebanho e suas limitações.  Ou seja, o produtor e o técnico devem ter a visão do que se precisa fazer primeiro, do que é mais importante para o sistema de produção. O problema não é falta de vontade, é falta de estrutura. Vocês concordam que apesar de estar amplamente disponível, não são todos os produtores que farão uso da IA? Quais seriam as alterantivas para o produtor manejar o seu rebanho?

    Abraço a todos

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