O levantamento do IBGE indica que no Brasil existem aproximadamente 5,2 milhões de estabelecimentos rurais e em 1.350.809 (25%) deles trabalham com leite. Desse total, 931.215 (69%) estabelecimentos venderam ou beneficiaram leite, e 419.594 (31%) não venderam e não beneficiaram o produto.
Relacionando a produção diária e a comercialização de leite nos estabelecimentos que venderam ou não o leite cru, beneficiado ou pasteurizado (Tabela), se observa que 99,9% das propriedades que não comercializaram o produto, produziram menos de 10 litros por dia.
Esses dados nos remetem a uma reflexão. Quantos são os produtores de leite no Brasil? O País conta com aproximadamente 45% das unidades produtivas com volume diário inferior a 10 litros e destes a maior parte não comercializa o produto. Estes pequenos produtores, que não vendem a produção, aproximadamente 420 mil unidades, devem ser considerados como de subsistência e não contabilizados no setor produtivo ou no agronegócio do leite brasileiro. Apesar do fato de que todos os estabelecimentos que produzem leite devem ser considerados nos levantamentos do IBGE, pois o governo e as instituições com preocupações sociais precisam conhecer esses números. Para o agronegócio do leite, os produtores de subsistência (não incluídos no mercado) não deveriam ser contabilizados.
Portanto o número de produtores de leite no País deveria ser de 931.299 e não 1.350.809.
Respostas
Será um prazer e uma honra compartilhar dos resultados com todos.
Quando estiver online o link na biblioteca virtual da UFLA eu posto em um tópico, mas até lá tem muito trabalho pela frente.
Prezado Marcel,
quando terminar sua dissertação e obtiver os dados, apresente para nós aqui na Rede.
Caro amigos, boa tarde
Creio que a qualidade do leite para a indústria também é sinônimo de lucratividade, e as empresas que ainda não tem essa visão estão perdendo dinheiro, como é o caso das indústrias de leite uht e bactérias psicrotróficas, entre outras questões de rendimento de produtos lácteos. Portanto, a qualidade do leite é um ponto sem retorno, interferindo ou não o governo. Mas, realmente, na minha região são poucas as indústrias que pegam pesado com a questão de qualidade, pois a demanda por leite está muito alta entre as empresas, a guerra pelo leite está bem complicada e o produtor tem percebido essa lacuna, e tem jogado como pode. Porém, tenho visto também empresas investindo pesado em qualidade, com equipes voltadas diretamente a sanidade animal, segurança alimentar e custo de produção, estou trabalhando em uma dissertação sobre a implantação de boas práticas em fazendas leiteiras, no próximo ano terei dados mais precisos sobre o assunto.
Um abraço
A falta de profissionalismo não é uma caracteristica exclusiva do setor de produção. A diversidade e competências do que possa ser definido como indústria formal, do que sejam os "compradores" de leite, ausência de legislação de segurança alimentar envolvendo a indústria "artesanal", etc. são muito discrepantes entre si, o que, somado à realidade lamentável e anacrônica de que 30% do leite produzido no País ainda é "clandestino", nos dá idéia da complexidade da questão.
As frouxas e protelatórias Instruções Normativas, que nem são leis (numa cultura onde leis são burladas quando há falta de rigor), legislações estaduais sem consonância com normas federais, etc., criam uma situação de verdadeiro "vale tudo". Lamentavelmente, mesmo a indústria formal é muito omissa nessa discussão, sinal que a lucratividade, do jeito como tudo está, ainda é muito boa.
Mudanças verdadeiras, com ação governamental rigorosa de fiscalização, somente tomarão forma quando surgir algum clamor uníssono do mercado consumidor, como, por exemplo, foi o escandaloso caso das fraudes com soda cáustica. Como o mercado consumidor ainda é muito ignorante, o encaminhamento definitivo para as soluções é de muito longo prazo.
Enquanto isso, persistirá o jogo de empurra-empurra.
A dimensão continental do País permite todo tipo de exploração e ainda não temos definidos os sitemas de produção adequados para cada região ou para cada capacidade de investimento. Acredito que se tivessemos essa definição facilitaria a extensão e a construção de políticas públicas mais específicas. Gostaria de saber qual é o papel de indústria / compradores nesta situação.
Abraço
Prezado Marcel,
Parabéns pela reflexão. Interessante seria, termos quantificados os assistidos e as melhorias alcançadas fruto da assistência. Ainda que em sistema de núcleos ou polos; haja vista extensão de nosso País.
Marcel Gomes Paixão disse:
A pergunta certa seria: Quantos desses produtores definitivamente recebem auxílio técnico de orgãos de fomento, e quantos destes foram instruídos a fazer a atividade?
Pelo que eu saiba,isso é responsabilidade de todos extensionistas, e produzir leite sem a permissão do governo não é proibido, a qualidade destes só reflete a não preocupação do sistema com o produtor de subsistência. Sendo o produto para venda ou para consumo, a qualidade do leite é importante, pois estamos falando da saúde de seres humanos acima de tudo.
Abraços
Prezado Paulo Roberto
A missão da Embrapa Gado de Leite é viabilizar soluções para a sustentabilidade da cadeia produtiva do leite em benefício para a sociedade, porém nosso público-alvo são principalmente os técnicos da assistência e extensão rural. Trabalhamos para a cadeia como um todo, desde um kit higienico para ordenha manual até a nanotecnologia.
Sobre a seleção de produtores de leite, o IBGE divulgou que em 1996 haviam 1.810.041 e em 2006 1.340.897 estabelecimentos com produção de leite. Isso significa uma redução de aproximadamente 25% em 10 anos, 469.144 unidades ou 46.914/ano ou ainda 128 produtores/dia.
A incorporação de tecnologia e as exigências do mercado naturalmente vão excluindo os produtores ineficientes. Acredito que a força dessa exclusão está nos compradores desse tipo de produto.
Prezada Rosângela,
Obrigado pelo retorno, mas, retomando meu questionamento, e, desculpando-me pela insistência, quem, dessa população heterogênea de produtores de leite, seria a população-alvo de toda a estrutura de Pesquisa Agropecuária da Instituição?
Continua difícil a gente imaginar centenas de milhares de produtores de leite atuando no Brasil, daqui a algumas décadas (atualmente, na Argentina, por exemplo, estima-se 14.000 produtores, com 1,8 milhão de vacas em lactação produzindo uns 11 bilhões de litros/ano).
Ao ler o artigo por ocasião da comemoração dos 35 anos (http://www.cnpgl.embrapa.br/nova/sala/destaques/destaque.php?id=25), fiquei empolgado com o que já foi feito pela Embrapa Gado de Leite (ter colocado o Brasil entre os maiores produtores mundiais) e com o que existe de infra-estrutura, corpo técnico, recursos financeiros, etc., para buscar as metas do novo portfólio de pesquisa e transferência de tecnologia anunciado (seleção genômica, bioenergética, impacto ambiental,sustentabilidade, nanotecnologia, tabelas de exigências nutricionais para ruminantes, segurança alimentar, etc.). Imagino que toda essa tecnologia, com seus respectivos custos, seja dirigida ao produtor profissional, que nos proporcionará o devido retorno, em produção suficiente e de qualidade.
Seria impossível transferir esse conhecimento para as centenas de milhares famílias atualmente envolvidas, as quais, ao meu modo de ver, não devem ser iludidas com a perspectiva de que produção de leite seja algo sustentável em toda e qualquer situação.
Da mesma forma, a linha de pesquisa “Análise da competitividade e sustentabilidade de sistemas de produção de leite” deve estar em andamento aí na Embrapa vislumbrando determinado(s) tipo(s) de produção predominante(s) no País.
Portanto, creio que a Embrapa Gado de Leite é a entidade com a grande competência para as respostas, razão desta minha réplica à ilustre colega.
Rosangela Zoccal disse:
Dr. Duarte
Vou verificar a possibilidade de avaliar os produtores de leite, segundo os estratos de produção e outras caracteristicas sugeridas.
Principalmente para o governo é importante saber os números que dão sustentação as políticas direcionadas para este grupo de brasileiros.