A viabilidade dos sistemas de produção é dependente do manejo nutricional, já que a alimentação do rebanho é o item mais representativo no custo de produção de carne, leite e produtos de origem animal. O balanceamento adequado de rações e suplementos, assim como a estimação do desempenho a partir de dietas balanceadas, requer o conhecimento das exigências nutricionais para os diferentes níveis de desempenho.
No Brasil, sexto maior produtor mundial de leite, as formulações de rações ainda são realizadas com base nas exigências nutricionais estabelecidas em outros países, com clima predominantemente temperado.
As tecnologias a serem adotadas no Brasil deveriam respeitar suas características, em que a composição racial do rebanho, os alimentos (forrageiras tropicais, cana de açúcar, etc) e o clima são bem característicos.
Acredito que a elaboração de um banco de dados brasileiro de exigências nutricionais de bovinos leiteiros representaria uma alternativa mais eficaz de aumento da produtividade e economicidade dos sistemas de produção de leite, contribuindo para a consolidação do país como líder não só na produção de produtos de origem animal, mas também na geração de tecnologias sustentáveis para produção animal nos trópicos.
Nesse contexto, quais os maiores entraves que vocês observam em utilizar os sistemas internacionais para predizer as exigências nutricionais em nossas condições?
Respostas
Para criarmos um banco de dados de exigências nutricionais primeiramente teremos que definir quais cruzamentos serão estudados. Pois para as raças puras de Gado de Leite (Holandês, Jersey e Pardo Suíço) os sistemas internacionais atendem bem e não vejo a necessidade de repetir estes experimentos só por estar em condição tropical (o animal é o mesmo e nos EUA há regiões com temperaturas elevadas - Flórida). Agora definir cruzamento, e de quais raças é complicado. Já faz alguns anos que o uso do cruzamento de holandês e gir vem sendo o mais usado, contudo fazer uma exigência para cada grau de sangue creio que seja desperdício de dinheiro. Acho conforme estudo do Prof. Madalena da UFMG o grau de sangue mais adequado é o 3/4 Holandês-Gir pelo seus melhores índices produtivos. Com relação a análise de alimentos há muito que se evoluir. Para fazer uma nutrição de precisão hoje no Brasil é complicado, os laboratórios tem uma rotina de análises ainda rudimentar (Se quiser aminoácidos, ácidos graxos, etc => é complicado). Contudo existem alguns bancos de dados que pode ajudar(CQBAL).
Leovegildo Lopes de Matos disse:
Realmente esse tema é de grande valia, Viçosa com Valadares Filho está evoluindo muito nesse aspecto, a até então ainda estamos presos as formulas de predição internacionais, e Valadares mesmos em seus estudos mostra que estamos sujeitos a erros a utilizar esse material em regiões tropicais, em um de seus artigos esse autor mostra que super-estima a capacidade de consumo de vacas leiteiras holandesas, e agrava mais quando utiliza esses dados para vacas meio-sangue ou girolando, chegando a ordem de 20%, fazendo que o nutricionista de mais atenção ainda a parâmetros resposta da nutrição de seu rebanho como leituras de cocho, nitrogênio ureico no leite, e teores de gordura, afim de realizar ajustes finos nos lotes.
Outro aspecto cabível nesse tópico a grande dimensão territorial brasileira, ocorrendo divergências sobre as necessidades nutricionais dentro do próprio Brasil, mensurando o clima com fator influente sobre o rebanho, penso que deveria ser responsabilidade das universidades regionais desenvolver pesquisa sobre as exigências nutricionais de rebanhos leiteiro, mesmo sabendo que é uma pesquisa cara, que exigem toda uma infraestrutura que muitas vezes não existe, mas as pesquisas sobre capacidade de consumo de vacas, tendo como variáveis temperatura, composição racial, produção e tipos de fibras utilizada seria de grande importância para base para construção da nossas tabelas de exigência.
Fazendo uma analogia com setor de produção de aves/suínos temos muito a que evoluir, eles tem uma estrutura brasileira solida sobre a exigências nutricionais, aquém nós temos que alcançar, mas quero focar em outro ponto, pois a nutrição de monogástricos não é tão complexa com a de ruminantes, se visitarmos um galpão de suíno e aves o plantel é muito homogêneo, os animais são muito padronizado, sendo de mesma composição genética, desempenho zootécnico, idade, peso, entre outro. Ao contrario que ocorre em planteis bovino, logo isso torna um desafio para o nutricionista aplicar as formulas de predição ao animal, um dos manejos para amenizar esse problema é a divisão em lote, que é muito importante, mas temos muito a evoluir sobre composição de nosso rebanho.
Outro problema que estou tendo, e acho que muita gente tem também, é a respeito de tipo de fibras, cana, silagem, e forragem, por que não posso considerar o FDN desses três ingrediente igual, em termos de qualidade, o tempo de fermentação é diferente, mas ate quando isso se diferencia? Fica a interrogativa.
parabens pelo topico!! Wanderson Bahia
Bom dia! Concordo com os participantes do fórum e vejo que a maioria concorda com a importância dos estudos de exigências nutricionais para gado de leite em condições tropicais.
As informações que serão geradas pela Rede Nacional de Pesquisa em Exigências Nutricionais de Gado de Leite servirão como base para o desenvolvimento de novas pesquisas que envolvam avaliação de alimentos, eficiência do uso dos nutrientes pelo animal e impactos ambientais da atividade pecuária, refletindo em benefícios à cadeia produtiva do leite.
É mais eficiente desenvolver tecnologias e processos agropecuários quando se conhece as bases conceituais de exigências nutricionais e se tem estabelecida as normas e padrões de alimentação.
As pesquisas voltadas para a avaliação e produção de alimentos são relevantes para o desenvolvimento dos sistemas de produção de leite nacionais. Mas esses estudos precisam estar associados aos estudos de exigências nutricionais, visto que seus resultados são sinérgicos. Somente a partir do conhecimento das necessidades nutricionais do animal, será possível caracterizar a qualidade dos alimentos a serem fornecidos e predizer o desempenho animal. Assim, os gargalos da cadeia produtiva de leite, que levam a baixa produtividade média do rebanho, como a ineficiência na produção de alimentos, não devem ser considerados como excludentes para o desenvolvimento de projetos de pesquisa voltados para a geração de novos conhecimentos e tecnologias.
No Brasil, sexto maior produtor mundial de leite, as formulações de rações ainda são realizadas com base nas exigências nutricionais estabelecidas em outros países, com clima predominantemente temperado. Tecnologias a serem adotadas no País devem respeitar suas características, em que a composição do rebanho, os alimentos disponíveis e o clima são típicos e únicos de ambientes tropicais.
Em nossas condições , o sistema internacional é bastante rígido, pois ele é quem dita as normas de certificação da qualidade do leite.
Segue algumas exigênciais: Fazer o teste periódico de determinadas doenças como: mastite clinice e subclínica e o leite ser rico nos macro e micro nutrientes, realizar, isso requer uma qualidade grande do produtor e no Brasil sabemos que alguns produtores deixam a desejar nesse aspecto!
Então se o produtor pertencer a uma propriedade certificada e bem vista no mercado ele tem a total condições de estabelecer esse paradigma.
A importância do gado de leite ser bem nutrido, é porque o mesmo vai trazer bons resultados no mercado consumidor garantindo produtividade e qualidade...
Ter o conhecimento específico do sistema de produção para garantir o produto final de qualidade!Estudar as condições da região tropical, pois é de suma importância a identificação dos recursos disponíveis como: água abundante, métodos de sanitização.
Espero que tenha ajudado na discussão!!
Um abraço
As exigencias internacios devem ser seguidas até certo ponto, porque como discutido as diferenças são enormes, no entando ja exitem pesquisadores Brasileiros que estão já publicaram trabalhos com tabela brasileira de exigencia para gado de leite e continuam aperfeicoando a mesma atraves de trabalhos em universidades. Um site interessante é do Prof. Valadares www.cbqal.agropecuaria.ws/webcqbal que disponibiliza os dados de composicao quimica dos alimentos daqui do Brasil.
Olá Mariana e demais colegas,
concordo com as colocações descritas até o momento. As condições de clima são muito diferentes e utilizando a tabela de exigências de países com clima temperado deixamos de aproveitar o potencial do animal que está no clima tropical.
Outro ponto que considero importante é com relação à diferença do solo e consequentemente, diferença na matriz nutricional do ingrediente oferecido. Neste caso, podemos pensar no nosso país que possui regiões com características de clima e solo bem diferentes.
Prezada Mariana:
Estou copiando para esse espaço a opinião que já havia postado no espaço das entrevistas aqui na rede. Posteriormente voltarei a abordar as limitações dos sistemas, pois não temos métodos confiáveis de avaliação de alimentos. Se não temos como avaliar bem os alimentos, como relacionar a dieta do animal com as chamadas exigências? Mas isso fica para depois, por enquanto volto para copiar minha primeira colocação, feita anteriormente:
Creio que mais importante do que conhecer as exigências nutricionais de animais criados como atividade econômica seria o entendimento da resposta destes ao suprimento ou ao consumo desses nutrientes. Exigências nutricionais teriam mais importância para os fabricantes de ração para animais de estimação (pets), pois nesse caso a questão econômica não importa tanto. Para sistemas de produção de carne ou leite, não faz sentido "atender plenamente suas exigências nutricionais", pois em qualquer sistema biológico, tanto animal quanto vegetal, é anti-econômico trabalhar para obtenção de respostas máximas ou para maximizar a produção. A faixa econômica (ou o nível econômico ótimo) será atingida, sempre, antes da resposta máxima, quando o custo dos insumos for maior que zero, o que é sempre o caso.
Outra questão importante é que os sistemas internacionais não evoluiram de linhas de pesquisa delineadas especificamente para "definir exigências". Com a compilação de dados de publicados de uma série de estudos planejados para solucionar problemas específicos, pode-se chegar tanto a sistemas de resposta aos nutrientes quanto a tabelas estáticas com exigências estimadas. No que tange a utilização de recursos financeiros alocados para pesquisa, parece que a eficiência é maior, pois as "exigências" ou respostas aos nutrientes e a outros fatores do meio, aparecem como um "sub-produto" dos esforços e recursos utilizados na solução de vários problemas.