É de conhecimento geral a importância da escolha das características a serem selecionadas em programas de melhoramento genético. No entanto, a seleção em gado de leite no Brasil tem o foco em produção enquanto diversos países têm incluído outras características que visam também à saúde e o bem-estar dos animais, além aumentar a eficiência econômica da atividade. Considerando que o Brasil é o quinto produtor de leite do mundo (dados preliminares, USDA 2010), mas apresenta baixos índices de produtividade por vaca, quais características poderiam ser incluídas aos critérios de seleção?
Respostas
Olá Bruno,
Primeiramente peço desculpas a todos pela demora em responder mas ontem foi feriado aqui em Juiz de Fora e ainda não tenho acesso à rede fora da Embrapa.
Ótima sugestão! Através dos modelos de normas de reação, e identificada a presença de interação genótipo x ambiente, seria possível selecionar touros de mérito genético superior considerando-se os diferentes gradientes ambientais. O mais interessante é que nesse modelo pode ser incluído um ou mais fatores de ambiente, como, por exempo, clima, níveis de produção, qualidade nutricional.
Muito obrigada por lançar questões relevantes às nossas discussões.
Já estou pensando no tema do próximo fórum...
Bom tarde Márcio,
Gostei muito das suas considerações a respeito de interação genótipo x ambiente e sobre a utilização de touros melhoradores no rebanho. É justamente isso que buscamos no fórum, a discussão sob diferentes pontos de vista não somente técnico mas também quanto à realidade do produtor.
Concordo com você que existe a possibilidade de uso de material genético importado, no entanto, considerando as condições das provas dos touros e em que região do Brasil esses serão utilizados, levando-se em conta também o sistema de produção da propriedade e as características a serem selecionadas como você ponderou.
Gostaria de saber quais características de saúde os produtores têm considerado na pré-seleção dos touros. Essas informações são valiosas para a interação entre a pesquisa e os produtores, mediados por profissionais interessados e bem informados como você, Márcio.
Sem dúvida que o Índice de Vida Produtiva é de longe o mais utilizado. E creio que é a melhor escolha pois para " durar" mais tempo em um rebanho vacas tem que produzir bem , reproduzir e terem mínimos problemas com mastite e cascos.
Glaucyana Gouvêa dos Santos disse:
Cara Glaucyana,
fico feliz que tenha entendido o que quiz dizer. Vou colocar um pouco mais de diversificação na discussão: como Administrador entendo que todo empreendimento deve ser objetivos claros, entretanto, em se tratando de pecuária de leite esta afirmativa é muito distante da realidade. Quando os objetivos se tornam claros, as estratégias começam a se definir, ai sim a importância de caracteristicas funcionais se tornam ótimas ferramentas de melhoramento.
Não tenho a pretensão de entrar em méritos comomuito bem fez o Nery, falando nele, um grande abraço, mas pretendo tirar deste forum informações que possam nos ajudar a prestar o melhor serviço aos nossos clientes.
Obrigado, Barone
Glaucyana,
Touros Provados nos USA podem sim repetir os resultados em fazendas brasileiras com manejo semelhante. Lembre-se que o teste de progênie é realizado em todo os USA onde você tem pastejo no Oregon (muito semelhante ao RS, SC e PR), e também na Florida e Georgia onde o verão é muito quente e úmido. Devemos entender melhor as provas lineares para recomendar em algumas situações touros com menores STA's para Caracterização Leiteira (até mesmo Zero ou Negativa), menor PTA Leite, e um equilíbrio entre os STA's de Força e Estatura. Pernas e Pés e Bons Úberes não dependem do clima onde o touro foi avaliado, e novamente você deve entender que um touro holandês com STA positivo para comprimento de tetas (longas), mesmo assim será capaz de reduzir o tamanho das tetas de um rebanho com muito sangue Zebu e com tetas "garrafais". Entender as Raças e os STA's é fundamental para usar as provas.
Quanto a um sistema único de melhoramento genético em termos de raça digo a você que se o objetivo por o pasto suplementado a resposta é NUNCA. Mas se o sistema for o free-stall digo com toda a certeza que SIM.
Características de Saúde estão sendo priorizadas sim por diversos criadores na pré-seleção de touros para usar em seus rebanhos.
Glaucyana Gouvêa dos Santos disse:
Mari
A Avaliação Linear é feita para traduzir em números as características fenotípicas das vacas para que o programa possa "ver"o animal. A partir deste ponto o programa irá seguir as instruções do "Plano de Acasalamento" onde usuário irá determinar as características de seleção importantes para a PRODUÇÃO ( %G, %P, Volume de Leite, Rendimento de Queijo) e o sistema de manejo ( Pastoreio, Intensivo, Show Type, Enfase em Uberes, Enfase em Aprumos, Durabilidade) .
Entendendo isso o programa coloca pesos econômicos nas características de produção, tipo e saúde dos touros.
Pode-se também estabelecer % máximo de consanguinidade e % máximo de facilidade de parto.
Digo a você que os resultados ao longo das gerações tem sido muito bom e criadores satisfeitos com os resultados de vacas mais longevas, produtivas e com poucos problemas ao longo das lactações.
Glaucyana Gouvêa dos Santos disse:
Boa tarde!
Gostaria de agradecer a todos pela participação e reitero a importância de darmos continuidade às discussões sobre melhoramento genético em gado de leite, enriquecendo nosso fórum sob diversos olhares e opiniões.
Convido a todos que desejarem a lançar discussões sobre novos assuntos, com toda a liberdade de continuarmos ou retornarmos a um fórum antigo pois um assunto leva a diversos outros. Lembrando também que podemos adicionar links, trabalhos ou vídeos no RepiLeite.
Tenho certeza que será enriquecedor para todos nós!
Olá Márcio, boa tarde!
Primeiramente gostaria de agradecer por sua preciosa colaboração, pois a partir do seu comentário podemos pensar na interação genótipo x ambiente. Por exemplo, um touro de alto mérito genético nos Estados Unidos, país de clima temperado com animais alojados em free-stall, também seria um touro melhorador para as condições brasileiras?
Considerando as proporções do nosso país e a diversidade entre as regiões e os sistemas de produção seria impossível a determinação de um padrão genético único para a melhoria dos rebanhos. Assim, seria necessária a avaliação do sistema de produção e dos animais presentes na fazenda, com a definição clara do objetivo econômico final do produtor para determinar a estratégia de melhoramento genético a ser adotada.
Muito tem se falado a respeito de saúde e vida produtiva dos animais, mas na prática, poucos produtores têm realizado trabalho efetivo nesse sentido. Afinal, assim como você colocou, a utilização da inseminação artificial
(principal ferramenta do melhoramento genético) no Brasil ainda é baixa e um agravante é a falta de registros reprodutivos dos animais.
Muito obrigada pela participação, é interessante compartilharmos opiniões e conhecimento sobre os mais diversos assuntos.
Prezado Sérgio,
Estou muito feliz com sua participação e posicionamento técnico quanto ao tema. Inicialmente, alguns produtores de leite selecionavam apenas para características de tipo, no entanto, para aumento da produção de leite houve a necessidade da inclusão de PTA.
Infelizmente, alguns produtores visando a melhoria da produtividade em sua fazenda focaram a seleção apenas em produção de leite; ignorando o fato de que as características lineares são importantes também para a manutenção da saúde e dos altos níveis produtivos desses animais.
O trabalho dos técnicos junto aos produtores é de extrema importância, pois, podem auxiliar na escolha de material genético apropriado à cada propriedade, e além disso, conscientizá-los quanto à importância do levantamento de informações zootécnicas (controle leiteiro, índices reprodutivos, informações sanitárias, dentre outros). Diversos catálogos trazem informações quanto as características lineares explicando como são medidas e de que forma poderiam ser consideradas na escolha do touro, inclusive com gráficos que facilitam a visualização.
Concordo que alguns produtores seriam resistentes à seleção de outras características já que muitas vezes essas não seriam traduzidas em ganhos diretos e em curto prazo, na produção de leite. Portanto, seria necessário um trabalho junto aos produtores promovendo o melhoramento genético dos rebanhos, a médio ou longo prazo, além de gerar informações que poderiam ser utilizadas em programas de melhoramento das raças, e que pudessem ser incluídas futuramente nos catálogos.
Fico muito satisfeita em receber o seu retorno, dessa forma, poderemos discutir mais esse e outros assuntos visando a melhoria em produtividade dos nossos rebanhos, com um trabalho integrado e sistematizado.