A escolha das instalações utilizadas para alojamento de vacas leiteiras deve ser realizada levando-se em consideração diversos fatores, entre os quais destacam-se: nível de intensificação desejado, potencial genético do rebanho, disponibilidade de capital, disponibilidade e capacidade de produção de alimentos e custo da terra. Todos estes fatores devem ser avaliados, pois podem afetar diretamente a produtividade e sanidade do rebanho, qualidade do leite, bem-estar animal e a rentabilidade da fazenda.

No Brasil, existe uma grande diversidade de os sistemas de produção de leite, desde aqueles baseados em pastagem (extensivos ou intensivos) até os sistemas confinados, entre os quais os mais utilizados são do tipo “free-stalls” e sistema de piquetes (loose housing). Recentemente, na última década, alguns produtores de leite dos Estados Unidos iniciaram o uso de um novo sistema de confinamento chamado “compost barn” (estábulo com compostagem). O “compost barn” é um sistema de confinamento alternativo do conhecido sistema “loose housing”, que visa primeiramente melhorar o conforto e bem-estar dos animais e, consequentemente melhorar os índices produtividade do rebanho.

Esse sistema é composto basicamente por uma grande área de cama comum (área de descanso), normalmente formada por maravalha ou serragem, separada do corredor de alimentação ou cocho por um beiral de concreto. O diferencial deste sistema é a compostagem que ocorre ao longo do tempo com o material da cama e a matéria orgânica dos dejetos dos animais. O processo de compostagem consiste em produzir dióxido de carbono (CO2), água e calor a partir da fermentação aeróbia da matéria orgânica. No compost barn, as fezes e urina das vacas fornecem os nutrientes essenciais (carbono, nitrogênio, água e microrganismos) necessários para que ocorra o processo de compostagem. O oxigênio usado na compostagem é proveniente da aeração diária que deve ser realizada na cama. O sucesso do processo de compostagem depende da manutenção de níveis adequados de oxigênio, água, temperatura, quantidade de matéria orgânica e atividade dos microrganismos, que produzem calor suficiente para secar o material e reduzir a população de microrganismos patogênicos. Para que esse processo ocorra, a temperatura da cama deve variar de 54 a 65˚C a 30 cm da superfície da cama.

No Brasil, o compost barn ainda é pouco utilizado, porém nos Estados Unidos, este sistema vem ganhando espaço em alguns estados produtores de leite. Um estudo realizado nos Estados Unidos avaliou este sistema de instalações quanto ao conforto e longevidade dos animais. Foram estudadas doze fazendas leiteiras que adotaram o sistema de compost barn com o objetivo principal de proporcionar conforto ao animal, aumentar a longevidade das vacas, e melhorar a facilidade de manejo que está associada a este sistema. Os resultados deste estudo desenvolvido pela Universidade de Minnesota indicaram algumas mudanças notadas em relação ao conforto e o impacto em produtividade e longevidade:

• Redução de problemas de casco, pois comparado aos sistemas tipo free-stalls, no compost barn as vacas têm mais espaço, o que permite maior liberdade de movimento tanto para se locomoverem quanto para deitar. Além disso, mesmo quando em pé, as vacas permanecem sobre uma superfície mais macia que no concreto. Um estudo realizado no estado de Minnesota demonstrou uma porcentagem de 7,8% de vacas com problemas de casco em propriedades com compost barn, contra 19,6 a 27,8% em propriedades do tipo free-stalls (Barberg et al., 2007b).
• Com a melhoria na sanidade do casco, as vacas apresentaram maior facilidade de manifestação de cios, melhorando a taxa de detecção de cio pelos tratadores. No mesmo estudo em Minnesota, as taxas de detecção de cio aumentaram de 36,9% para 41,4% e as taxas de concepção aumentaram de 13,2% para 16,5%, quando vacas foram deslocadas do free-stall para o compost barn.
• Melhoria da qualidade do leite, com redução da CCS e menor incidência de mastite. Esse fato pode ser explicado tanto pela redução de mastite ambiental pela redução da carga microbiana na cama, melhoria da condição de higiene das vacas antes da ordenha, quanto pela melhoria no sistema imune das vacas promovida pelo ambiente mais confortável.

Alguns produtores também observaram como grande incentivo o baixo custo inicial de investimento para a construção de um compost barn, quando comparado aos custos de construção de um galpão tipo free-stall. Outro fato interessante proporcionado pelo compost barn é a redução do acúmulo e descarte de dejetos, o que inclui custos para armazenamento, espaço necessário e mão-de-obra, em comparação com sistemas de free-stall.


AUTORES: Camila Silano* e Marcos Veiga dos Santos**
*Camila Silano é médica veterinária e aluna de pós-graduação em Nutrição e Produção Animal da FMVZ-USP
** Professor Associado da FMVZ-USP

FONTE: MILK POINT (http://www.milkpoint.com.br/mypoint/6239/post.aspx?idPost=4771)

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