O queijo do marajó conquistou a Indicação Geográfica (IG), reconhecido pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A publicação foi feita nesta terça-feira (23), na Revista de Propriedade Industrial e concede ao produto, genuinamente marajoara e paraense, a indicação de procedência, uma grande vitória aos produtores e ao estado do Pará.
O queijo também é o primeiro produto da região Norte a receber o Selo Arte ampliando as possibilidades de mercado ao ser identificado como um queijo artesanal tradicional brasileiro, o que permite sua comercialização em todo o país. Duas conquistas que aumentam a responsabilidade da pesquisa agropecuária no fortalecimento da cadeia da bubalinocultura no Marajó.
A Indicação Geográfica (IG) é a única propriedade industrial coletiva, benefício que se estende a todos os produtores de queijo de leite de búfala, respeitados os padrões que classificam o Queijo do Marajó, situados nos municípios de Cachoeira do Arari, Chaves, Muaná, Ponta de Pedras, Salvaterra, Santa Cruz do Arari e Soure. Locais que integram o Arquipélago do Marajó, mais especificamente, os chamados Campos do Marajó, Microrregião do Arari, Mesorregião Marajó, no Estado do Pará. Ou seja, a partir de agora, só pode ser chamado de Queijo do Marajó, a iguaria produzida nessas localidades.
O chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental Adriano Venturieri comemora esse reconhecimento junto com o estado e defende que o fortalecimento da política da IGs da Amazônia é um importante caminho à valorização dos produtos e da biodiversidade da região. “Essa titulação agrega valor aos produtos, traz renda e desenvolvimento com sustentabilidade em cadeia, pois abraça muito mais que o queijo, mas toda uma cultura regional”, enfatiza Venturieri.
Contibuições da pesquisa
A atuação na Embrapa no Marajó é histórica e se baseia na cadeia produtiva do leite de búfala com foco em tecnologias para o melhoramento genético dos animais, aliado às boas práticas em sanidade e alimentação.
O Pará possui o maior rebanho bubalino do país, com cerca de 520 mil cabeças, o que representa quase 40% do rebanho nacional. O Marajó se destaca nesse cenário como o maior número de animais, segundo dados da Pesquisa da Pecuária Municipal/IBGE (2018).
Desse contingente, apenas cerca de 5 mil animais do Marajó são dedicados à produção de leite, com produtividade média de 5 quilos/dia por animal e quase 100% da produção destinada à produção de queijo. E é na produtividade que a Embrapa quer impactar a cadeia, conforme explica o pesquisador Ribamar Marques, coordenador do Programa Programa de Melhoramento Genético de Búfalos com Inovação para o Estado do Pará (Promebull). O programa é executado pela Embrapa Amazônia Oriental e se tornou política pública, em 2019, por meio de parceria com a Secretaria de Estado do Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap) e a Federação da Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa).
O pesquisador comenta que por meio das tecnologias de boas práticas de manejo animal, manejo alimentar e nutricional, manejo sanitário e melhoramento genético, espera-se até triplicar a produção média de leite por animal exatamente nos municípios beneficiados pela IG. “Com búfalas de genética superior, aumenta a produtividade de leite por animal reduzindo os custos para os produtores familiares que podem ter sua produção e renda triplicada, com um menor número de animais no pasto”, enfatiza Marques.
Desde 2019, o Promebull tem intensificado a aplicação de biotécnicas de inseminação artificial em tempo fixo (IAFT) para garantir diversas linhagens de animais melhorados geneticamente.
Apoio na formulação de políticas públicas
Para além da esfera da atuação da pesquisa e tecnologias para a cadeia bubalina, a Embrapa também tem atuado no fortalecimento de políticas públicas que valorizem o potencial da bioeconomia amazônica. O Promebull é uma dessas experiências que passou de projeto de pesquisa para programa de estado, em 2019.
Outras iniciativas: Em 2016, durante o Festival Internacional do Cacau e Chocolate da Amazônia, foi criado o Fórum Técnico de Indicação Geográfica e Marcas Coletivas do Estado do Pará no qual aderiram 31 instituições, dentre elas a Embrapa, de acordo com Sheila Souza, analista da Embrapa e representa a instituição junto ao fórum.
Sheila lembra ainda que o Fórum foi um importante articulador para a conquista do IG não apenas do Queijo do Marajó, mas também do cacau do município de Tomé-Açu, primeiro produto do estado a receber a Indicação Geográfica. No caso de Tomé-Açu, o cacau beneficiado é produzido em sistema agroflorestal. Recentemente, integramos o grupo que elaborou a proposta de decreto que regulamenta o Programa de Indicação Geográfica e Marcas Coletivas do Estado do Pará, e que aguarda a sanção do estado”, complementa.
Kélem Cabral (MTb 1981/PA)
Embrapa Amazônia Oriental
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