Por Carlos Augusto de M. Gomide e Domingos Sávio C. Paciullo - Pesquisadores da Embrapa Gado de Leite
A intensificação da produção animal a pasto, observada nos últimos anos, tem sido a saída de muitos produtores para compensar o aumento dos custos dos fatores de produção como terra, mão-obra e mesmo do capital. Neste cenário, a busca por sistemas mais eficientes e com maior capacidade para aumento da produtividade é determinante para garantir a lucratividade da atividade pecuária, notadamente da pecuária de leite.
O pastejo rotacionado se adequa bem a esta realidade pois, por meio do maior controle da frequência de desfolha, ditada pelo período de descanso, e da intensidade de desfolha, determinada pela altura residual do pasto após o período de ocupação dos piquetes, é possível aumentar a eficiência de uso da forragem e, com isso, elevar a taxa de lotação e a produção de leite por área. Para Martha Jr. et al (2003), pelo maior controle do crescimento da planta, o pastejo rotacionado é mais indicado para gramíneas cespitosas de alto potencial de produção (capim-elefante, capimMombaça etc.) que têm sua perenidade comprometida quando submetidas a curtos intervalos entre desfolhas, mas que, sob longos períodos de crescimento, apresentam deterioração da estrutura do pasto (elevada proporção de hastes e de folhas mortas).
O pastejo rotacionado é definido como a divisão da pastagem em piquetes que serão pastejados de forma rotacionada pelo lote de animais. Assim, períodos de descanso, tempo que o pasto vai rebrotar após um pastejo, e períodos de ocupação, quando os animais permanecem no piquete para consumo ou rebaixamento do pasto, são os dois fatores do pastejo rotacionado que devem ser levados em conta pelo manejador da pastagem. Da combinação destes dois fatores resulta também o número de piquetes a serem utilizados, de acordo com a fórmula:
NP = PD/PO + X,
sendo: NP = Número de piquetes / PD = Período de descanso / PO = Período de ocupação e X = grupos de animais em pastejo.
Neste texto, consideramos apenas o efeito do período de ocupação dos piquetes sobre o sistema, embora o período de descanso também seja fundamental, tanto para controlar o crescimento do pasto, como para definir o número de piquetes necessários.
Em um sistema de pastejo rotacionado mais simples, o período de ocupação (PO) pode ser igual ao período de descanso (PD), em torno de 25 a 30 dias; chamado de pastejo alternado, onde são necessários apenas dois piquetes. Entretanto, em sistemas rotacionados tradicionais, buscando elevar a taxa de lotação e a produtividade, os períodos de ocupação variam desde um dia (ou ½ dia) até 7 dias. Mas quais são as vantagens e desvantagens destes extremos? Primeiro precisamos ter em mente que a forragem disponível no pasto deve atender às necessidades do rebanho ou de um determinado lote de vacas. Desta forma, se eu decido utilizar um longo período de ocupação para um lote de 20 vacas, por exemplo, é de se imaginar que precisarei de um piquete grande o suficiente para garantir forragem aos animais, teoricamente, até o último dia de ocupação. Já se este mesmo lote de animais for permanecer no piquete por apenas 1 dia, o piquete pode ser menor, mas o número de piquetes a ser feito aumenta consideravelmente. Na tabela 1, se observa o número de piquetes em função do período de ocupação, considerando um pastejo rotacionado com 21 dias de descanso.
Assim, pode-se ver que, com menores períodos de ocupação, há maior divisão da pastagem, aumentando os custos com cerca, bebedouros etc. Por outro lado, se tem melhor uniformidade de pastejo devido ao alto número de animais num piquete relativamente pequeno. Ou seja, não se observa grandes variações de altura do pasto após a saída dos animais. Com isso, não há necessidade de roçada do pasto ou, se o for, apenas pontos específicos de um piquete pequeno serão rebaixados. Outra vantagem é que a produção diária de leite também se mantem estável, uma vez que a dieta das vacas sofre pouca alteração com a troca diária de piquetes e ocorre melhor distribuição das fezes e urina e menor perda de forragem com áreas de malhadouro.
Já sob longos períodos de ocupação, de 7 dias, os animais experimentam, ao final do período, do 5º ao 7º dia, certa restrição alimentar, já que nestes dias há menor disponibilidade de folhas na pastagem; fração preferencialmente consumida pelos animais e de maior valor nutritivo. Outro ponto desfavorável de longos PO diz respeito ao pasto: no verão chuvoso e sob doses de adubação de cobertura relativamente altas, as gramíneas preconizadas para uso sob pastejo rotacionado apresentam alta taxa de crescimento. Isso faz com que, em poucos dias, de 5 a 7, haja considerável rebrotação das touceiras já pastejadas, levando os animais a repetirem o pastejo nestas touceiras, podendo leva-las ao esgotamento enquanto outras touceiras ficam “mal” pastejadas. Nesta condição, tem-se um pastejo desuniforme com pontos superpastejados e outros subpastejados, tornando a roçada uma prática frequente para controlar a estrutura do pasto para o seguinte ciclo de pastejo.
Períodos de ocupação intermediários, de 2 ou 3 dias, podem conciliar as vantagens apontadas para os dois extremos. Não existe uma recomendação geral para o uso de um ou outro período de ocupação e a decisão de qual utilizar vai depender de fatores como o nível de intensificação desejado, capacidade de investimento do produtor, da gramínea utilizada, do nível de produção das vacas e do nível de suplementação adotado, dentre outros.
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