O Centro-Oeste concentra grandes condições para a expansão dos sistemas integrados de produção, como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF). Os mais de 31 milhões de hectares de pastagens degradadas (60% da área de todo o Brasil) podem ser a principal contribuição da região para alcançar a meta estabelecida pela Rede ILPF para 2030 – ter no País 30 milhões de hectares com o sistema.
Atualmente a estimativa é que esse número esteja por volta de 15 milhões. O primeiro levantamento realizado, na safra 2015/2016, apontou a adoção do ILPF em 11,5 milhões de hectares. Desses, 40% estavam localizados no Centro-Oeste e ainda há grande potencial para elevar esse número, uma vez que a região lidera a produção de grãos e a atividade pecuária no Brasil.
“Nós temos uma grande oportunidade de expansão, sobretudo quando olhamos para as áreas de pastagem. Se começarmos a incorporá-las no processo de recuperação com sistemas de integração lavoura-pecuária, vamos atingir facilmente esses 30 milhões previstos”, garante Lourival Vilela, pesquisador da Embrapa Cerrados (DF). Ele foi um dos debatedores na live "Oportunidades do uso do ILPF na região Centro-Oeste", transmitida pelo canal da Embrapa no YouTube.
Os participantes da mesa redonda apostam no aumento da adoção dos sistemas integrados pelas diversas vantagens que eles oferecem. Vilela explica que a introdução de um sistema pode reduzir o custo da recuperação de pastagens. Ele conta que no Oeste da Bahia, em área de solos arenosos, os produtores têm conseguido aumentar a produção de soja em seis a dez sacos por hectare com a rotação lavoura-pasto. “Eu diria, sou muito otimista, que esse é um caminho sem volta. O agricultor que hoje não trabalhar com a construção do perfil de solo e com manejos eficientes, não só para pastagem, mas para produção de grãos, é um indivíduo que, com o tempo, se não se adequar, ele sai do negócio”, acredita.
Júlio César Salton, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste (MS), fala de uma nova fronteira agrícola a ser desenvolvida no estado. Trata-se de uma vasta área de solos arenosos, hoje ocupados com pastos degradados. “Falando em números, apenas no Mato Grosso do Sul, nós chegamos a valores de 2 a 3 milhões de hectares. Então é muita área disponível e em condições de ser transformada economicamente e transformar toda essa grande região que necessita de opções econômicas”, conta. Salton reforça que o Mato Grosso do Sul conta com infraestrutura, logística e serviços estruturados para que os produtos agropecuários cheguem aos mercados internos ou sejam destinados à exportação.
Para além dessas vantagens, a introdução da floresta no sistema ainda parece ser uma dificuldade para os produtores. Gabriel Faria, jornalista da Embrapa Agrossilvipastoril (MT) e moderador do debate, apresentou o dado de que cerca de 80% dos sistemas integrados são compostos por lavoura e pecuária (ILP). Maurel Behling, pesquisador desse centro de pesquisa, explica que o componente arbóreo aumenta a eficiência dos sistemas, que terá melhor aproveitamento dos recursos da área, principalmente da adubação realizada.
Ele acrescenta: “[Com a adoção do ILPF], passamos a ver o solo com outro olhar, pensando na construção de um perfil de solo, e aí tem a braquiária exercendo um papel fundamental já consolidado na construção desse perfil, com suas raízes buscando nutrientes que antes eram perdidos em profundidade, retornando com eles para a superfície e devolvendo principalmente vida para esse solo, porque solo vivo é um solo produtivo. [O componente arbóreo] traz propriedades emergentes que alavancam o sistema e possibilitam produtividades superiores daquelas com monocultivos”.
Apesar de aumentar a complexidade do manejo da propriedade, o pesquisador informa que a floresta pode adicionar renda ao sistema. Ele explica que no passado, houve uma grande oferta de eucalipto, o que desestimulou a atividade. Hoje, Behling garante que o cenário é muito positivo: “Atualmente, esse cenário mudou totalmente com a questão das usinas de etanol de milho. Mato Grosso tem uma perspectiva, para os próximos dez anos, de aumentar em torno 500 mil hectares de eucalipto só para atender essas usinas de etanol. Estão surgindo muitas oportunidades em muitas regiões, muitos nichos com potencial para produção de biomassa. Isso cria muita oportunidade para o componente florestal. Aqui no Mato Grosso, foi anunciada, também recentemente, no Vale do Araguaia, uma planta de celulose que vai demandar em torno de 200 hectares de eucalipto”.
Ainda que haja um mercado crescente para biomassa, o especialista lembra que ela não é tão bem remunerada como a teca, por exemplo, espécie que tem se destacado no estado em sistemas agrossilvipastoris e pode ser destinada à produção de madeira, possibilitando cobrir os custos da propriedade. Portanto, a recomendação é sempre verificar a existência de mercado para o produto.
Salton fala da implantação de sistemas integrados em pequenas propriedades. Ele conta sobre o acompanhamento de uma área destinada ao cultivo de mandioca, onde foi feito o plantio direto das manivas na pastagem dessecada. Os resultados foram espetaculares, segundo o pesquisador, não só em relação à produtividade, mas também em termos de redução dos custos com as capinas. O pesquisador conta que esse consórcio, com o uso do plantio direto, reduziu o problema da erosão do solo, muito comum em áreas de plantio de mandioca, onde o solo fica muito exposto.
Várias perguntas foram feitas pelo público no chat da live. Um dos espectadores, Ronaldo Trecenti, questionou se a Bioanálise de Solo (BioAS), tecnologia lançada há uma semana pela Embrapa Cerrados, pode estimular a adoção da ILP e da ILPF. Em relação à questão, Vilela explica que essa é uma ferramenta importante, que pode ajudar muito os produtores na condução e avaliação dos sistemas integrados: “Algumas vezes, a análise química não explica a produtividade. A atividade enzimática é uma forma de o produtor perceber se o sistema dele está indo no caminho certo ou no caminho errado com relação à melhoria das propriedades químicas, físicas e biológicos do seu solo. É uma grande ferramenta para esses sistemas”.
Sistemas integrados como futuro da produção de alimentos
Segundo Lourival Vilela, o ILPF é um sistema conservacionista e como tal, é reconhecido pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) como estratégia-chave para garantir a segurança alimentar no futuro, sem prejudicar o ambiente.
“Quando nós começamos, no passado, eu fazia um plantio de soja por ano. Depois veio um plantio de safrinha. Há muitas regiões em que você planta cinco anos e colhe dois – tem prejuízo em três anos. Com a introdução da pecuária hoje, eu consigo produzir o ano todo e o boi sanfona desapareceu nessas áreas.”, conta.
Outro ponto que torna o Centro-Oeste um potencial para a expansão dos sistemas integrados é o conhecimento técnico que já se tem na região, segundo Vilela: “Temos produtores e técnicos bem preparados e temos produtores que estão buscando melhorar seus sistemas de produção o tempo todo. Se nós tivermos um mercado comprador demandando essa produção de grãos e carne, hoje há uma demanda grande por proteína no mundo, nós estamos com a faca e o queijo na mão em termos de potencial de expansão da ILP e ILPF na região Centro-Oeste”.
O debate da situação dos sistemas integrados no Centro-Oeste faz parte de um ciclo de cinco lives, uma por região, que está sendo organizada pela Rede ILPF. A próxima discutirá as oportunidades para o Sudeste será na quarta-feira (5 de agosto), às 19h, no canal da Embrapa no YouTube.
A live completa "Oportunidades do uso do ILPF na região Centro-Oeste" está disponível no link: https://www.youtube.com/watch?v=Ml_t9D8HOjQ.
Juliana Miura (8570/99 DF)
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