A cultura do coqueiro da variedade gigante  (Cocos nucifera L) encontra-se tradicionalmente distribuído ao longo da faixa litorânea do Nordeste ocupando solos arenosos caracterizados pela baixa fertilidade e baixa capacidade de retenção de água. Nas últimas décadas, tem-se observado um crescimento dos plantios da variedade anão verde destinadas à produção de água de coco, ocupando áreas  não tradicionais de plantio como sudeste, centro oeste, semi árido e tabuleiros costeiros do Nordeste utilizando-se sistemas intensivos de produção com irrigação localizada. De maneira geral ,os plantios são realizados em sistemas de monocultivo onde grande parte da área de plantio poderia ser utilizada com outras culturas e/ou produção de animais podendo compor sistemas integrados de produção a exemplo do ILPF, possibilitando também a sua adequação ao programa de agricultura de baixo carbono (ABC) onde o coqueiro assumiria o papel de componente arbóreo do sistema. Neste caso, seria recomendável realizar uma alteração dos espaçamentos e sistemas de plantio do coqueiro, possibilitando assim melhor aproveitamento do espaço disponível no coqueiral. Haveria necessidade  não somente de redução da densidade de plantio atualmente utilizada em triângulo equilátero com 7,5 m de lado, totalizando 205 plantas/ ha como também a mudança do sistema de plantio para quadrado ou retângulo de modo a favorecer a maior penetração de luz e a utilização de culturas consorciadas nas entrelinhas de plantio dos coqueiros. Mais recentemente, trabalhos desenvolvidos pela Embrapa Tabuleiros Costeiros, têm demonstrado as vantagens do uso da Gliricidia sepium como adubo verde utilizada em consorcio com o  coqueiro para fornecimento de nitrogênio fixado biologicamente. Os resultados mostram claramente, que quando bem manejado, o uso da adubação verde com gliricidia constitui-se numa alternativa válida que pode ser utilizada pelo  produtor de coco podendo eliminar e/ou reduzir significativamente o uso de fertilizantes nitrogenados. Neste caso, a recomendação é realizar o plantio das gliricídias obedecendo a linha principal de plantio do coqueiro, de forma que as entrelinhas possam ficar livres para plantio com outras culturas compondo assim um sistema ILF. Nos primeiros anos de plantio, que correspondem em média a quatro a seis anos de idade, não há possibilidade de introdução de animais tendo em vista os danos que podem ser provocados às folhas dos coqueiros. Durante a fase adulta, no entanto, os animais poderiam ser introduzidos para consumir a vegetação natural com suplementação proteica da  gliricidia (20  a 30% de PB).  O grande desafio seria portanto avaliar quais combinações de culturas podem ser utilizadas de forma que possamos obter ganhos econômicos e ambientais significativos. Pela sua capacidade de adaptação à diferentes condições ambientais, e pela sua característica de apresentar produção contínua ao longo do ano, o   coqueiro desponta como uma cultura de alto potencial e que poderá constituir-se  portanto em uma grande alternativa para compor os sistemas integrados de produção na região Nordeste.

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Comentários

  • Bom dia

    A respeito do tema em questão, no caso de coqueiros híbridos resultantes do cruzamento entre as variedades anão x gigante a exemplo do BR 001 ( anão verde do Brasil x gigante da praia do forte) obtido pela Embrapa, ou mesmo do PB 121 ( anão amarelo da malásia x gigante do oeste africano)  obtido pelos IRHO atual  CIRAD da França, este último  material bastante disseminado em várias partes do mundo,  observa-se que as plantas apresentam  um grande vigor com comprimento das folhas em torno de 3 m totalizando uma média de 35 folhas vivas/planta  se considerarmos plantios em condições de manejo adequadas. Neste caso, os plantios convencionais em triângulo equilátero com 8,5 m de lado, apresentam  a partir do quarto ano de idade redução significativa da luminosidade das  entrelinhas dificultando o estabelecimento de outras culturas principalmente das gramíneas. Nesta fase, até mesmo o trânsito de máquinas torna-se dificil  provocando quebra de folhas ainda vivas.  Mesmo com espaçamentos maiores a exemplo do 10 x 10 m em quadrado, temos observado problema de sombreamento nesta fase. A partir de 15 anos aproximadamente, com o crescimento das plantas a luminosidade aumenta possibilitando assim o manejo das entrelinhas para implantação com outras culturas ou gramíneas forrageiras. Observa-se também neste caso,que em se tratando de plantas adultas com sistema radicular já estabelecido, são menores os efeitos da competição exercida pelas plantas de cobertura. Deve-se observar, no entanto, a necessidade de adotar bom manejo do coqueiral. A inclusão da Gliricídia sepium deve ser sempre considerada como uma opção a ser adotada a se incluída no sistema em função dos resultados positivos já obtidos para este consórcio. Com base no exposto, e levando-se em consideração os aspectos fenológicos da cultura do coqueiro e o sistema de produção atualmente adotado,  uma opção de integração de cultivos seria a consorciação com culturas de ciclo curto nas entrelinhas com manejo da palhada e plantio da  gliricídia nas linhas dos coqueiros  durante os quatro primeiros anos. A partir desta fase  teríamos a produção do coqueiro, e posteriormente a  introdução gradativa dos animais tomando-se como base o porte das plantas e a disponibilidade de forragens.

  • Muito interessante a experiência. De fato, o coqueiro como espécie florestal, apresenta características desejáveis para o consorciamento. Fuste reto, copa rala (permitindo entrada de luz, etc.). Logicamente a questão do arranjo de plantio deve ser bem planejada para que sejam aproveitadas estas vantagens, como bem colocaram os colegas.

  • Prezados

    Agradeço os comentário dos colegas Sergio Azevedo e Samuel Figueiredo. Continuemos as nossas discussões  sobre o coqueiro como componente do ILPF. Vamos nos ater inicialmente nas discussões sobre cultivo do coqueiro da variedade  gigante cultivado em sequeiro, destinado à produção de coco seco,  concentrado ao longo da  baixada litorânea do Nordeste ocupando solos do tipo Neossolos Quartzarênicos e parte dos tabuleiros costeiros onde predomina solos do tipo Argissolo.

    Em geral são plantios muito antigos e neste caso, a integração com outras culturas torna-se possível quando consideramos a maior luminosidade disponível.  Os fatores limitantes neste caso, conforme comentado anteriormente,  estão relacionados à baixa fertilidade e baixa retenção de água do solo na baixada litorânea limitando assim a sua utilização com outras culturas ou mesmo a introdução de gramíneas para pastejo, quando não se faz uso da irrigação e adubação. Nestas condições, a ocorrência do  lençol freático acessível às raízes  do coqueiro, (1 a 3 m de profundidade), pode condicionar o seu  desenvolvimento, principalmente quando há ocorrência das frações de areia fina ( 1,0 a 0,5 mm) e muito fina ( 0,5 a 0,25) aumentando consideravelmente a capacidade de retenção de água do solo. Observa-se por outro lado, uma forte limitação para plantio de culturas alimentares de ciclo curto, a exemplo do milho, feijão vigna e mandioca, bastante utilizada pelo pequeno produtor, em sistema semi extrativista de produção  como cultura de subsistência, plantios estes que se restringem à pequenas áreas, em função das limitações comentadas anteriormente. Com relação às gramíneas, observa-se nesta nesta unidade de paisagem, a ocorrência do capim gengibre (Paspalum maritimum Trind), gramínea nativa da região que apesar da boa palatabilidade e bom potencial forrageiro a sua ocorrência restringe-se  ao período chuvoso do ano. As Brachirárias também podem ser observadas com desempenho que varia de acordo com o manejo empregado e das condições locais de plantio.

    Com relação aos plantios realizados nos tabuleiros costeiros, o coqueiro depende unicamente das chuvas, uma vez que nestas condições o lençol freático encontra-se profundo inacessível às suas raízes. Há possibilidade também de ocorrência de camadas de solos coesos na subsuperfície restringindo o crescimento das raízes limitando a sua capacidade de absorção de água. Neste caso, é bem maior o potencial de utilização das entrelinhas dos coqueiro  com outras culturas ou mesmo com a introdução de gramíneas para pastejo animal. Deve-se considerar no entanto, a necessidade de manejo adequado do coqueiral  como também as condições de clima e solo locais, uma vez que o coqueiro exige em média uma precipitação em torno de 1500 mm anuais bem distribuídos durante o ano, não devendo ser inferior a 130 mm ao mês. Como no Nordeste do Brasil temos períodos de déficit hídrico em grande parte do ano, deve-se adotar práticas de manejo adequadas como é o caso da utilização da cobertura morta e do manejo eficiente das plantas daninhas, evitando assim a queda de produção ou até mesmo a morte da planta. Ressalte-se neste caso, que as gramíneas exercem forte poder de competição por água e nutrientes com o coqueiro especialmente pelo nitrogênio.

    Deve-se observar no entanto, que quando pensamos em sistemas integrados de produção, é preciso que tenhamos como meta o ganho do sistema como um todo, e desta forma, eventuais perdas de produção do coqueiro  poderão ser compensadas com o aumento da receita de leite e/ou carne ou de outras culturas além  dos ganhos ambientais que por certo poderão ser obtidos. 

  • Prezados,

    O coqueiro, principalmente no litoral, vem demonstrando sua versatilidade há "séculos"!

    A citação dos espaçamentos é extremamente pertinente. Em anexo coloco fotos de sistemas de produção com diferentes idades.

    Aplicações de conceitos de adequação de custos e respostas econômicas às intervenções devem ser o "mote" da sistematização.

    A foto com animais, são coqueiros de 37/40 anos de idade, em espaçamento 9x9m. A pastagem é de braquiária consorciada com estilosantes.

    Na foto com milho secando, também são coqueiros com 37/40 anos em espaçamento 9x9m e o intuito foi a de renova;cão de pastagem.

    Na foto com milho em emergência (este ano - plantio dia 18/04/20), o coqueiral tem 7/8 anos de idade. Nesta caso, Dr. Humberto pode ajudar, as folhas dos coqueiros ainda estão baixas. Assim os tratamentos fitossanitários e a colheita (coco seco para indústria), dificultam plantio da faixa total.

    Semeamos faixas intercaladas de milho (estas dificultam a colheita) com faixas de guandu, BRS Mandarim, que não teria problema passarmos com o trator recolhendo o coco. Possivelmente, num futuro próximo (3/4 anos?) seria uma parcela em que teríamos cultivos anuais seguido por pastejo em forragiras espontâneas ou cultivadas. Este foi o sistema implantado até 2003 nas parcelas que hoje têm 37/40 anos.

    Na primeira foto é possível observar as faixas de capim dentro dos coqueiros.Doc1.pdf

    Para quem tem que gerenciar "de longe", viabiliza.

    Temos, como meta, reduzir os custos. Toda e qq intervenção tem por obrigação promover ganhos financeiros líquidos.

  • Prezados colegas e visitantes, bom dia!

    Inicialmente, gostaria de parabenizar o trabalho do colega Humberto Fontes e agradecer o compartilhamento da experiência. Sabe-se que mais da metade da costa brasileira possui vocação para cultura do coco, sendo vista abundantemente ao longo da baixada litorânea do sul da Bahia até o Norte no Rio Grande do Norte. São áreas que possuem grande ocupação turística/imobiliária mas também possuem elevado potencial para exploração agropecuária. Sabe-se ainda que 90% dessas áreas de coqueirais são subprodutivas e assemelham-se muito mais ao extrativismo do que à um Sistema de Produção, pois esse último requer a adoção de boas práticas de manejo pautadas em recomendações técnicas adaptadas à cada propriedade, objetivando o máximo de eficiência com sustentabilidade sócio-econômica e ambiental.

    Reconhecida a relevância do assunto e identificados os principais problemas enfrentados, uma das soluções tecnológicas propostas é a adoção de Sistemas Integrados de Produção, de maneira que as áreas de exploração de coqueiros passem a ser melhor exploradas e a produção passe a ser diversificada. Nesse sentido, vem-se pesquisando e adaptando Sistemas de Produção de coco integrado com a pecuária, onde, por um lado a produção animal ofertará um produto com menor variação de preço ao longo do ano (problema grave enfrentado pelos produtores de coco) e por outro os coqueiros ofertarão sombreamento promovendo a redução de perdas por estresse através do bem estar animal (grande limitador produtivo em sistemas tradicionais).

    É importante ressaltar que as boas práticas de cada cultura deverá obedecer suas premissas de forma a não prejudicar o desenvolvimento da outra cultura integrada, mesmo sabendo que o objetivo é o ganho total do sistema, e não apenas o aumento de uma exploração em detrimento da outra. Deve-se salientar que haverá períodos em que os ganhos serão mais evidentes em uma cultura que em outra e isso deve ser administrado ao longo do ano/safra, ajustado de acordo com os fatores climáticos e programado com base nas questões econômicas.

    Sistemas integrados, sempre que possível podem contar com novos componentes que agreguem positivamente ao sistema, como por exemplo, a implantação de Leguminosas. Essas são muito conhecidas e utilizadas para melhoria da qualidade dos solos, principalmente pela capacidade de fixação do Nitrogênio. O que pouco se sabe é que além desse incremento à qualidade química dos solos, as leguminosas podem ser amplamente utilizadas para alimentação animal, pois normalmente possuem elevados níveis de proteína e algumas espécias apresentam boa digestibilidade pelos ruminantes. Dito isso, observa-se um grande potencial para o aumento da produtividade dos coqueiros com redução de custos de adubação ao passo que serve de alimento de baixo custo e fácil manejo para os animais criados integrados aos coqueirais.

    A Embrapa Tabuleiros Costeiros vem testando e avaliando esse tipo de integração (Coco / Bovinos de Corte / Gliricídia) no litoral Alagoano e em breve poderá disponibilizar os dados de produtividade e demais avaliações obtidas tanto para produção dos coqueirais, quanto para o desempenho animal. Por hora, o produtor afirma que a integração tem sido positiva e que fará ampliação da área integrada na propriedade!

    Enquanto isso, contamos com as discussões o os debates para enriquecermos as experiências e ajudarmos uns aos outros no sentido de melhorarmos nossos índices na agropecuária nacional.

    Respeitosamente;

    Samuel Souza

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