Adiar ou não a última etapa da IN 51/2002?

A partir de julho deste ano, a Instrução Normativa 51/2002, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, estabelecerá novos parâmetros para a qualidade do leite produzido no Brasil. Será a última etapa de implantação do processo, que se iniciou em 2005.

 

O máximo permitido, nas regiões sul, sudeste e centro-oeste para contagem de células somáticas (CCS) será de 400.000 células/mL. Para contagem bacteriana total (CBT), o máximo permitido será de 100.000 ufc/ml para tanques de refrigeração individual e 300.000 ufc/ml para tanques coletivos.  

 

Desde o final de 2010, debates vem acontecendo em toda a cadeia do leite, levantando-se a possibilidade de adiamento da implantação da última etapa da IN 51/2002. O argumento utilizado para tal ação é que os resultados apresentados pela Rede Brasileira de Qualidade do Leite demonstram que muitos produtores não conseguirão atingir os padrões mínimos estabelecidos pela legislação.

 

Muitos fatores estão sendo levados em conta: infra-estrutura deficiente de energia elétrica e das estradas; falta de incentivo do governo; falta de incentivo das indústrias que ainda não pagam pela qualidade; falta de fiscalização do MAPA nas indústrias que compram leite de baixa qualidade; pouca informação do produtor rural; preço baixo do leite. Sem dúvida, todos esses fatores citados comprometem o desenvolvimento da atividade leiteira, tanto no que diz respeito à qualidade do produto, quanto à produtividade do rebanho e do negócio.

 

Mas adiar a IN 51/2002 é a solução? Países da União Européia, o Canadá e os Estados Unidos têm parâmetros semelhantes aos que estabelece a IN 51/2002. Para exportar o nosso produto, a condição básica é produzir com qualidade e segurança. Para aumentar o consumo no Brasil, o caminho também é bastante semelhante.

 

A mudança que se espera, adiando a IN 51/2002, é que o produtor de leite consiga mais tempo para se adequar? Ou esperamos que o governo subsidie parte dos custos? Ou que as indústrias de laticínios passem a pagar pela qualidade? E que o MAPA penalize empresas que compram leite fora dos padrões? Sim, devemos buscar por todas essas mudanças. Mas o produtor de leite precisa fazer a sua parte. Não há como melhorar o leite depois que ele é ordenhado. Por isso, produzir leite de qualidade é uma obrigação que começa no produtor, até chegar à mesa do consumidor. Adiar a IN 51/2002 não vai mudar o conceito do produtor que não quer se adequar as novas regras. Os que querem, já começaram a mudar.

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Respostas

  • Olá Luiz! Concordo totalmente com você, o produtor depende de uma estrutura física básica, como sala de ordenha (ou um barracão coberto), tanque de refrigeração (individual ou comunitário), estradas com boas condições de acesso, energia elétrica que não deixe o produtor na mão toda vez que chove, entre outros fatores. E isso realmente depende de investimentos altos, que a maioria absoluta dos produtores não tem condição de fazer. 

     

    Mas o que me preocupa é que outros pontos que não dependem tanto de um investimento mais pesado (como por exemplo, higienização das mãos do ordenhador, higienização dos tetos e dos utensílios antes e depois da ordenha) ou seja, práticas simples e de baixo custo,  não tem sido realizadas pelo produtor. Várias são as razões, como por exemplo, o baixo preço de leite, a não valorização da qualidade (por bonificação no preço). Alguns produtores não fazem porque não são pagos por isso. O conceito de qualidade ainda não está internalizado pela maioria dos produtores; muitos condicionam as práticas de higiene com o pagamento pela qualidade. E produzir com qualidade deveria ser um conceito já muito bem estabelecido, porque produzimos o alimento mais completo que existe.

     

    A minha preocupação maior é essa: além dos nossos produtores não terem condições de investir na estrutura básica, a produção de leite com qualidade ainda é um tema pouco valorizado por eles. Talvez devemos começar pelo preparo dos nossos extensionistas. Que eles comprem a idéia da qualidade e a disseminem por todos os cantos do nosso país. Pode ser um começo.

     

    Um abraço!

     

    Letícia.

  • Bom dia!!!

     

    Muito interessante esta discussão sobre a IN 51, porém as normas a serem seguidas e descritas na IN, fazem com que o produtor precise de uma estrutura fisica e tecnica que ainda esta longe de conseguirmos. Atualmente nos estados e a nivel de Brasil não temos politicas publicas de incentivo a bacia leiteira, sabemos que para um pequeno produtor construir barracão, sala de ordenha, melhorar a genetica do rebanho, isso tudo tem um custo e que não é baixo, normalmente o produtor recorre aos bancos na ideia de investir na propriedade, mas não ha qualquer tipo de segurança de preço do litro de leite, sem contar que o pequeno é mal atendido pelos bancos. Isso é so um dos problemas, depois ainda temos a questão alimentar do rebanho, que tambem onera custos. Outro problema grave é a falta de preparo dos extencionistas para atender os produtores de leite. Neste Aglomerado de problemas, deduz - se que deve-se haver uma parceria entre governo, laticinio, produtor e a extenção rural, ai talvez estaremos dando um passo em relação a produção e comercio de leite.

     

    Abraço

    Luiz

  • Oi Letícia,

     

    Aqui em RO nenhum laticínio paga por qualidade. Acreditamos que esse é o nosso maior (ou um doas maiores) desafios, pois o pagamento por qualidade é uma das principais ferramentas para a consolidação de um programa de qualidade do leite. Apesar disso, sabemos que a discussão pelo pagamento por qualidade já está "na roda" dos laticínios, que estão, aos poucos, mobilizando-se nesse sentido.

     

    Abraço, Fernanda

  • Oi Fernanda!!!

    Sua participação neste debate foi uma ótima oportunidade para conhecermos um pouco mais a realidade de Rondônia. Uma pergunta: dos 72 laticínios inspecionados, você tem a informação de quantos deles pagam por qualidade?

    Um abraço!

    Letícia.

  • Olá pessoal!

    Parabéns por terem iniciado essa discussão. Vou expor um pouquinho da realidade aqui de Rondônia. O estado é o maior produtor de leite da região norte (45% do leite produzido), e tem a produtividade por animal, embora ainda baixa, mais alta do que a média nacional (5,7 litros/animal, segundo dados do IBGE, 2003). Contamos com aproximadamente 72 laticínios inspecionados (esferas municipal, estadual e federal). Entretanto, a qualidade do leite, não diferentemente de outras regiões, ainda é um grande desafio. Acabamos de analisar dados coletados em 2005-2007 e a realidade é bem parecida com a do IBGE (2006), sendo que, naquela data, aproximadamente 70% dos produtores não tomava nenhum procedimento antes da ordenha, e mais de 85% não faz nenhum procedimento após a ordenha. Essa realidade reflete-se quando outros parãmetros são analisados, mostrando a deficiência e o desafio que se tem quando o assunto é qualidade do leite. Os novos parâmetros, para a nossa região, entrarão em vigor apenas em 2012, mas ainda assim é pouco tempo. Estradas, falta de consistência no fornecimento de energia elétrica, falta de programas estruturados para qualidade do leite a partir de laticínios, somados ao fato de que os principais produtos dos laticínios de RO serem o leite UHT e a mussarela, são todos desafios à qualidade do leite.

    Em relação aos produtores, embora estes sejam sensíveis à informação, ainda há muito o que ser feito, e também em relação à equipe técnica extensionista, que atua junto aos primeiros. E quando vocês dizem trabalho junto ao produtor com qualidade e eficiência, concordo plenamente! Temos que levar em consideração o receptor da mensagem, as suas deficiências, e trabalhar de maneira a acompanhar os resultados das ações planejadas.

    Entretanto, na minha opinião, adiar não é a solução. Os prazos servem para nos orientar em relação ao cumprimento das metas, e gerar um cronograma, de comum acordo entre os atores que compõem esta cadeia, de maneira que possa ser cumpridos. Aliás, prazo nunca foi o problema, considerando que há 9 anos o Brasil vem avançando nessa discussão.

  • Oi Myriam!

    Os dados do IBGE que você citou vão de encontro com o que ouvimos de alguns produtores. Quando vamos aos campo, muitos deles reclamam da falta de apoio técnico das indústrias, das instituições de extensão rural; outros, se queixam da qualidade da assistência técnica. Acredito que exista uma parte dos produtores que quer melhor a qualidade do leite que produz, mas não sabe como. Mas ao mesmo tempo, sempre tenho notícias de dias de campo, palestras, encontros que estão sendo realizados por várias empresas/órgãos, tratanto do assunto "Qualidade do Leite". Sua afirmativa de que a assistência técnica ao produtor precisa ser suprida é totalmente verdadeira, tanto em sua abrangência (atingir o maior número possível de produtores), como também em sua qualidade e eficiência.

     

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