Meu artigo na Revista Balde Branco deste mês
O IBGE informa que 85% da população brasileira vive nas cidades. Portanto, cada brasileiro do rural tem de alimentar a si e mais seis que estão no urbano. Grande feito, não? Mas, isso não é tudo. Hoje, a cada sete habitantes do planeta, pelo menos um consome regularmente produtos vindos dos campos brasileiros. Portanto, 31 milhões de brasileiros impactam a mesa de 1,1 bilhões de seres humanos, ou um para cada 35 terráqueos. Além disso, o campo brasileiro produz energia, como a cana de açúcar que gera o etanol, e fibras, usadas na produção de celulose e tecidos, por exemplo.
Os produtores e as empresas de produto e serviços, reunindo desde o segmento de insumos até o varejo, são classificados no conjunto como agronegócio. E esse tal de agronegócio também é importante para gerar os dólares que pagam a vinda dos mega artistas estrangeiros que fazem shows para o público urbano nas grandes cidades do Brasil, pagam direitos autorais dos filmes que assistimos, pagam a compra de equipamentos, bebidas e remédios importados. Afinal, tudo isso é pago em dólar e somente no ano passado o agronegócio trouxe para o Brasil 96 bilhões de dólares!
Há, ainda uma outra tarefa importante, que são os empregos e a renda gerados a partir do agronegócio, mas em setores que não integram o agronegócio. Isso inclui todos os setores urbanos, como serviços de saúde, beleza, construção civil e venda de veículos de passeio, por exemplo. Quem é de uma cidade menor tem a exata noção do que isso representa. Quando o agronegócio naquele município vai bem, todos ganham. O mesmo ocorre em situação inversa. Em 2017, o PIB brasileiro foi acrescido de R$ 1,5 trilhões, vindos do agronegócio.
Apesar disso, parcela significativa da população urbana tem no agronegócio um vilão, por acreditar que o agronegócio é sinônimo de destruição da natureza. Importantes segmentos formadores de opinião reproduzem este discurso, como jornalistas e artistas. Sem querer, alinham-se com o discurso de ONGs financiadas por público estrangeiro, vinculadas a nações concorrentes com o Brasil na produção de alimentos. Somos vistos como o vilão do mundo e até mesmo por aqueles que se beneficiam de sua robustez, que é a sociedade brasileira.
Mas, a Embrapa acaba de concluir que o Brasil é campeão na preservação ambiental, com mais de dois terços de seu território recoberto por vegetação nativa. Se for considerada a parte de pastagem nativas dos biomas Pantanal, Pampa, Cerrados e Caatinga, o percentual sobe para três quartos. A área total destinada à produção de milho, arroz, soja, feijão, algodão, celulose, cana de açúcar e florestas energéticas ocupa apenas 9% do Brasil. Já a área com pastagens plantadas, usada na produção de leite e carne, ocupa 13,2%.
De acordo com o estudo da Embrapa Territorial, se somarmos todo o espaço que os produtores rurais preservam dentro de suas propriedades, chegaremos a 20,5% do território brasileiro. Evidentemente, esta terra não tem uso produtivo. Mas, é preciso considerar que a legislação em vigor, mais especificamente o código Florestal, ao estabelecer preservação impositiva, leva o produtor a uma perda de valor de patrimônio, que corresponde a R$ 3,5 trilhões, ou mais do que o dobro do PIB do agronegócio em 2017. Além disso, caso os animais invadam estas áreas preservadas, sejam incendiadas ou ocorra roubo de madeira a responsabilidade é do proprietário. Então, além de desapropriado de valor patrimonial, ele é também chamado a atuar como o curador daquele patrimônio que na prática é público, em nome da sociedade. Além de doar, é obrigado a manter. Para isso, o conjunto dos produtores brasileiros despendem anualmente cerca de r$ 20 bilhões.
Tenho viajado pelo interior de alguns países, como entre Portugal, Espanha e sul da França. Entre Holanda e a Alemanha. Entre a França e a Inglaterra. No interior da Irlanda, Polônia e da República Tcheca. Em diversas partes dos Estados Unidos e no interior da China. Em nenhuma destas experiências vi situações em que a vegetação era exuberantemente preservada, como corriqueiramente vemos no Brasil em qualquer região que a gente vá. Pois, agora, esta pesquisa da Embrapa mostra que, enquanto o Brasil preserva dois terços do seu território, os demais países preservam muito menos. A média do território preservado entre os grandes países pesquisados foi de 10%. Neste percentual estão inseridas áreas de deserto ou sob neve intermitente, como o Alaska, que não serviriam à produção agropecuária, ao contrário do que se vê no Brasil. Consulte o sitio da Embrapa Territorial.
O produtor brasileiro abastece o mundo de alimentos, fibras e produtos bioenergéticos, gera emprego e renda no Brasil, traz dólares para ser usado na aquisição do que necessitamos adquirir no exterior e, além disso, é o campeão de preservação ambiental em todo o mundo. Tem seu patrimônio reduzido por uma causa coletiva, sem a devida contrapartida da sociedade. Mas é visto como o grande vilão. Quando virá o devido reconhecimento?
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