A VEZ DO VEGANISMO

PAULO DO CARMO MARTINS*

Vivemos num planeta onde tudo se encaixa, faz sentido e que tem no sol a sua imensa fonte de energia. O lixo de uma espécie é alimento para outra espécie e, no final, tudo se fecha, num circulo de energia. Tudo que nasce, morre e se transforma em energia. Do pó vieste, ao pó voltarás. Nada se perde, nada se cria, tudo se transforma.
A inteligência de funcionamento deste planeta é simples, embora a operação seja sofisticadíssima. É fazer circular a energia de forma harmônica. Todavia, o modo de produção e consumo do homem moderno quebra este processo e desarmoniza a circulação de energia, comprometendo a sustentabilidade do planeta. Isso resulta em extinção de espécies e na escassez contínua de matérias-primas e em mudanças climáticas. O IBGE estima que no Brasil geramos 186 mil toneladas de lixo por dia. Quase um quilo por habitante, por dia!


A Economia Circular, conceito novo e que veio para ficar, entende que é preciso resgatar a lógica do planeta, ou seja, o resíduo de um processo produtivo precisa ser insumo na produção de novos produtos. É preciso, em escala industrial, praticar os três "R", ou seja, Reduzir o consumo de matérias-primas, Reutilizar o que já foi produzido e Reciclar o que não é mais usado. Para isso, é preciso aplicar tecnologias de produção modernas e investir em design do produto para atrair o consumidor.


Em 2015, uma startup gaúcha decidiu aplicar o conceito de Economia Circular. Duas jovens se reuniram e criaram a Insecta Shoes. Com o lema "calce uma causa" e com apenas R$ 120 mil de investimento, começaram a produzir calçados veganos e ecológicos, ou seja, sapatos fabricados com material reciclado e com reaproveitamento de sobras da própria indústria de calçados, mas sem usar couro, ou matérias-primas de origem animal. A palmilha é feita de resíduo da indústria têxtil. O solado é de borracha reciclada e as garrafas pet substituem o couro, gerando produtos de rara beleza.


A preços médios de R 280,00O, o canal de vendas no início foi somente a internet. Mas, logo abriram em Porto Alegre a primeira loja física. Quando a empresa completou um ano, a empresa faturou R 1,7 milhão e abriu em São Paulo a segunda loja. Agora que a empresa completou dois anos, as vendas continuam fortemente crescendo na internet e já são 13 lojas. Além das pioneiras em Porto Alegre e São Paulo, a Inseta Shoes está no Rio de Janeiro e no Museu Inhotim, em Brumadinho (MG). No exterior, nos EUA com quatro lojas (Nova York, Los Angeles), duas na Alemanha (Berlim), e uma cada no Canadá (Toronto), Espanha (Barcelona) e França (Paris). A Insecta Shoes é um exemplo de economia circular, que demonstra que as causas podem ser fontes de riqueza ao encantar o consumidor.


Este é um exemplo de que o movimento Vegano cresce e influencia o comportamento dos não veganos, desde o final dos anos cinquenta. É evidente que um vegano não toma leite e nem come carne. Mas, seu cotidiano vai muito além disso. Um vegano é contra qualquer exploração animal, significando boicote ao uso dos bichinhos na alimentação e vestuário. São contra sistemas de produção animal que usem confinamento. Leite e derivados, nem pensar! Mesmo que fique provado que os animais foram tratados com todo o cuidado e respeito. Abominam a indústria de fármacos, que usa os animais em experimento e, os mais radicais, são contra até produtos de higiene e limpeza, pois esta indústria testa primeiros os produtos nos animais. Também são contra circos, vaquejadas, touradas, festa do peão boiadeiro e até mesmo zoológicos, pois isso significa uma violência ao animal, que é retirado de seu ambiente natural para, ao ser escravizado, ficar em exibição até morrer, para atender exclusivamente à curiosidade humana.


Enfim, os argumentos veganos são dois: animais não podem ser explorados vivos e alimentação à base de animal é prejudicial à saúde humana. Neste quesito, propagam que pessoas ingerem alimentos baseados em produtos de origem animal como carne, leite e mel têm maior probabilidade à obesidade e à doenças degenerativas, como as do coração. Já os veganos teriam menores concentrações de colesterol total e LDL, quando comparados aos carnívoros. Argumentam que a dieta alimentar vegana leva a ter baixos níveis de gorduras saturadas, colesterol e níveis maiores de carboidratos, fibras, magnésio, potássio, ácido fólico e antioxidantes como as vitaminas C e E e fitoquímicos. Os veganos teriam menores índices de massa corporal, além de possuírem baixos índices de morte por doenças isquêmicas do coração, baixo nível de colesterol no sangue, baixa pressão sanguínea, e baixos índices de hipertensão, diabetes tipo 2 e câncer de próstata e colo de útero e até catarata. 


É evidente que os veganos são minoria. Não chegam a 2% dos consumidores. Mas, influenciam cada vez mais o consumo dos não veganos. Portanto, precisamos conhecer seus argumentos. No mês que vem, falaremos sobre o que a ciência tem feito no setor lácteo, diante do crescimento das ideias veganas.

* Economista, Doutor em Economia, Pesquisador da Embrapa Gado de Leite. Publicado originalmnete na Revista Balde Branco
Enviar-me um e-mail quando as pessoas deixarem os seus comentários –

Para adicionar comentários, você deve ser membro de Rede de Pesquisa e Inovação em Leite.

Participe da Rede de Pesquisa e Inovação em Leite