Foto: Árvore de moringa. Crédito: Leandro Ribeiro de Matos.
A alimentação tem grande impacto no custo de produção animal sendo o milho e farelo de soja os ingredientes presentes em maior proporção na ração concentrada.
No período da seca, quando a qualidade das pastagens é reduzida, o uso de ração concentrada torna-se uma opção para manter a produção de leite porém, o alto custo deste insumo inviabiliza o lucro da atividade. Assim, os produtores deixam de fornecer quantidades adequadas de alimento, que permitam atender as exigências nutricionais dos animais, ocasionando a redução da produção de leite.
Em regiões onde a seca é mais intensa, a falta de alternativas para alimentação do rebanho pode levar a morte de alguns animais ocasionando um prejuízo ainda maior.
Neste contexto, o uso de forragens alternativas, de fácil cultivo e baixo custo podem contribuir significativamente para substituir os alimentos tradicionalmente utilizados e ainda suprir a necessidade de alimento para o rebanho leiteiro no período seco principalmente em propriedades familiares com produção de leite em pequena escala.
A moringa (Moringa oleifera) planta de porte arbustivo pertencente à família Moringaceae tem sido estudada como alternativa de forragem para alimentação animal.
Originária do nordeste da Índia, sul do Himalaia, Bangladesh, Afeganistão e Paquistão, é uma planta que se adapta a uma ampla faixa de condições climáticas, desde regiões semi-áridas a regiões de clima tropical. Possui rápido crescimento atingindo 5 m de altura em pouco mais de um ano quando, em condições ideias de cultivo, começa a produção de frutos (ou vagens). Cada fruto produz, em média, 15 sementes.
A propagação da moringa é feita preferencialmente por sementes, apresentando boa taxa de germinação quando recém-colhidas, em condições de umidade adequada. A germinação ocorre entre cinco e 12 dias após a semeadura. Pode ser também propagada através de estaquia sendo recomendada a utilização de ramos com 1m de comprimento e 4 a 5 cm de diâmetro.
As folhas da moringa são ricas em proteína, caroteno, ferro e ácido ascórbico além de metionina e cistina, aminoácidos que normalmente estão deficientes na maioria dos alimentos. Outras partes da planta como as sementes, flores, raízes e frutos também são ricas em vitaminas, minerais, fibras e antioxidantes que fazem com que a planta seja estudada para diferentes usos.
A moringa oleifera é classificada como PANC (planta alimentícia não-convencional) e suas folhas, flores e frutos verdes são consumidos na forma de saladas, chás e em preparos de bolos, pães, sopas, etc. As folhas frescas, secas ou o pó das folhas são comercializados em feiras principalmente em países dos continentes Africano e Asiático e aqui no Brasil normalmente são encontrados em lojas de produtos naturais.
A presença de vitaminas, minerais e substâncias antioxidantes faz da moringa uma planta de interesse para saúde humana sendo que diversas partes da planta tem sido estudadas para fins medicinais com resultados promissores no controle de diabetes, de doenças cardiovasculares e para a saúde da pele. O óleo e o extrato da folha de moringa são comumente encontrados em cosméticos para pele e cabelos.
Outra propriedade bastante estudada da moringa é o uso da semente para o tratamento de águas turvas. Quando a semente é macerada e dissolvida na água, ela promove a sedimentação das partículas de sujeira e microrganismos presentes na água promovendo a redução da turbidez e de bactérias.
Na produção agrícola, as pesquisas com extrato das folhas são voltadas para o aumento da produtividade em lavouras de grãos já que as folhas contém zeatina, hormônio de crescimento. Pesquisas do uso do extrato das folhas e de outras partes da planta também são realizadas para controle de doenças causadas por fungos em lavouras de tomate e feijão-caupi, por exemplo.
Por florescer quase o ano todo, é utilizada como árvore melífera na apicultura sendo suas flores fonte de néctar de excelente qualidade para as abelhas. Além disso, características como a fácil adaptação da planta a diferentes condições de clima e solo, o rápido crescimento, a alta produção de material fresco e a boa composição nutricional torna a planta uma alternativa interessante para uso na alimentação animal.
Existem vários estudos que avaliam o uso da moringa para alimentação de vacas leiteiras. Normalmente as partes da planta utilizadas são as folhas e ramos que são podados, triturados e fornecidos frescos, na forma de silagem ou são secos e misturados ao concentrado. Para alimentação de aves, a recomendação é utilizar a folha seca e triturada como ingrediente da ração.
A porcentagem de proteína da moringa varia de acordo com alguns fatores como idade, parte da planta e também frequência de corte, podendo variar de 15,7 a 22,1% em intervalos de cortes de 3 meses e de 5,5 a 7,9% em intervalos de corte de seis meses (BAKKE, 2010).
Apesar de conter menores teores de proteína bruta que a gliricídia e a leucena, a folha da moringa possui maior porcentagem de proteína sobrepassante (47% contra 30% da gliricídia e 41% da leucena) (BECKER, 1995 citados por SÁNCHEZ et al. 2006) e o uso para alimentação de vacas leiteiras mostrou aumento de 32% no ganho de peso e de 43-65% na produção de leite (MATHUR, 2006).
Estudos conduzidos pela Embrapa Pantanal recomendam o plantio adensado da moringa em espaçamento 0,5m x 0,2m, ou seja, 100 mil plantas/ha, onde a proporção de folhas é maior e os ramos possuem talos mais finos, com elevado teor de fibra degradável no rúmen. O corte é feito quando o tronco apresentar em torno de 1 cm de diâmetro e, dependendo das condições climáticas, são realizados de oito a nove cortes por ano. A moringa é fornecida na dieta como suplemento proteico sendo recomendado o seu uso na agricultura familiar com a cana-de-açúcar, que é um alimento energético. Para uso no período seco do ano, mais crítico para atividade leiteira, é necessário que seja feito feno das folhas trituradas e utilizado 1 parte do feno da moringa para 9 partes de cana-de-açúcar. Já no período das águas, 1 parte das folhas frescas da moringa são trituradas e misturadas com 3 partes da cana-de-açúcar (LISITA et al., 2018).
Montagem: Produção de folhas em árvore de moringa após a poda.
Crédito: Pricila Vetrano Rizzo
Montagem: Comparativo de amostras de água com e sem semente de moringa.
Crédito: Pricila Vetrano Rizzo
LITERATURA CITADA:
BAKKE, I. A. et al. Características de crescimento e valor forrageiro da moringa (Moringa oleifera Lam.) submetida a diferentes adubo orgânicos e intervalos de corte. Engenharia Ambiental, v.7, n.2, p.133-144, 2010.
LISITA, F. O. Cultivo e processamento da moringa na alimentação de bovinos e aves. EMBRAPA Pantanal. Circular Tecnica, 2018. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/183491/1/CT119-Fred-moringa.pdf
MATHUR, B. Moringa for cattle fodder and plant growth. Trees for life. 2006.
SÁNCHEZ, N.R.; SPORNDLY, E.; LEDIN, I. Effect of feeding differnet levels of foliage of Moringa oleifera to creole dairy cows on intake, digestibility, milk production and composition. Livestock Science, v.101, p.24-31, 2006.
MATERIAL COMPLEMENTAR:
https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1095864/1/178181.pdf